Se Não Houvesse a Guitarra

Se um pajador está bem

com inspiração em alta

não consegue sentir falta

do que de bom ele tem.

Mas interrogo porém,

pois nasci perguntador:

Qual seria o desamor

sem guitarreada e sem farra?

Se não houvesse a guitarra

haveria o pajador?

O que seria do poeta

com seu verso recitado,

do cigano sem bailado,

do cantor que interpreta?

Morreria incompleta

a milonga, menos bela.

Não haveria aquela

canção de Viloeta Parra.

Se não houvesse a guitarra

ninguém viria à janela.

Seria triste a poesia,

mais pobre o verso campeiro.

Sem haver o guitarreiro

de energizante magia,

nada, então, existiria

entre a prima e o bordão.

bojo seria ilusão

qual uma vazia jarra.

Se não houvesse a guitarra

seria escassa a emoção.

Como eu iria pajar,

ter pelo pago um fervor,

sem um amadrinhador,

só um vazio no lugar.

Sem eu poder guitarrear

Não seria um citaredo

e nem viveria al pedo

com meu jeito de cigarra.

Se não houvesse a guitarra

seria um triste em segredo.

Haveria um pesadelo

pisando o lugar do sonho

e um silêncio medonho

no meu verso de sinuelo.

Apesar do meu desvelo,

morreria o macanudo.

Por ser, a guitarra, tudo

a quem no verso se agarra,

se não houvesse a guitarra

meu canto seria mudo.

Quanta canção morreria

sem poemas no papel,

sem o seu ritmo fiel

pra dar-lhe mais energia.

Sem ela falta alegria

e os dedos ficam em riste.

Onde a guitarra inexiste

a mão na arma se agarra.

Se não houvesse a guitarra

seria o homem mais triste.

(Extraído do livro Pajador do Brasil- Estudo Sobre a Poesia Oral Improvisada, de minha autoria)

PAULO DE FREITAS MENDONÇA
Enviado por PAULO DE FREITAS MENDONÇA em 03/05/2011
Reeditado em 23/07/2011
Código do texto: T2946388