Se Não Houvesse a Guitarra
Se um pajador está bem
com inspiração em alta
não consegue sentir falta
do que de bom ele tem.
Mas interrogo porém,
pois nasci perguntador:
Qual seria o desamor
sem guitarreada e sem farra?
Se não houvesse a guitarra
haveria o pajador?
O que seria do poeta
com seu verso recitado,
do cigano sem bailado,
do cantor que interpreta?
Morreria incompleta
a milonga, menos bela.
Não haveria aquela
canção de Viloeta Parra.
Se não houvesse a guitarra
ninguém viria à janela.
Seria triste a poesia,
mais pobre o verso campeiro.
Sem haver o guitarreiro
de energizante magia,
nada, então, existiria
entre a prima e o bordão.
bojo seria ilusão
qual uma vazia jarra.
Se não houvesse a guitarra
seria escassa a emoção.
Como eu iria pajar,
ter pelo pago um fervor,
sem um amadrinhador,
só um vazio no lugar.
Sem eu poder guitarrear
Não seria um citaredo
e nem viveria al pedo
com meu jeito de cigarra.
Se não houvesse a guitarra
seria um triste em segredo.
Haveria um pesadelo
pisando o lugar do sonho
e um silêncio medonho
no meu verso de sinuelo.
Apesar do meu desvelo,
morreria o macanudo.
Por ser, a guitarra, tudo
a quem no verso se agarra,
se não houvesse a guitarra
meu canto seria mudo.
Quanta canção morreria
sem poemas no papel,
sem o seu ritmo fiel
pra dar-lhe mais energia.
Sem ela falta alegria
e os dedos ficam em riste.
Onde a guitarra inexiste
a mão na arma se agarra.
Se não houvesse a guitarra
seria o homem mais triste.
(Extraído do livro Pajador do Brasil- Estudo Sobre a Poesia Oral Improvisada, de minha autoria)