Quando morrem os decanos (Ode a Barbosa Lessa)
Quando um literato morre,
destes de grande estatura,
seca um poço de cultura
pra que a água não mais jorre.
o triste é que a morte ocorre
numa fração de minuto,
porém seu substituto
não nasce em oitenta anos.
Quando morrem os decanos
o Pago veste seu luto.
Na madrugada mais quente,
um corpo frio sobre a mesa
traz a gélida tristeza,
rasgando peito da gente.
Há uma lágrima corrente,
sequer um só rosto enxuto,
e um chuvisco diminuto
na tarde dos campechanos.
Quando morrem os decanos
o Pago veste seu luto.
Um verso não fica escrito
um texto nunca se imprime,
e um “achado” se comprime
na imensidão do infinito.
Fica vagando solito
num vazio absoluto.
A morte é baque bruto
que apaga metas e planos.
Quando morrem os decanos
o Pago veste seu luto.
Uma canção que entoa
grande louvor à Querência
é pranto que molda ausência
na cascata e na lagoa.
A página em branco voa
e o vento em si escuto.
O sítio não dá mais fruto,
nem cantam os dois tucanos.
Quando morrem os decanos
o Pago veste seu luto.
Sensação de orfandade
é sentimento comum.
Amarga à boca um jejum
pra toda a posteridade.
Há uma inconformidade
desde o taura mais astuto
até o peão mais matuto
além dos pagos pampeanos
Quando morrem os decanos
o Pago veste seu luto.