Do Pampa ao Pantanal
Vim sorrindo do meu pago,
chorei estando distante,
mas levei a vida avante,
co’a solidão por afago.
Chimarreando trago a trago
sorvi credibilidade,
domei a brutalidade
do meu próprio ser brutal.
Do Pampa ao Pantanal
há distância e saudade.
Do lugar onde nasci,
no sul do imenso país,
trago amor pela raiz
à Querência que escolhi.
Embora vivendo aqui
com minha felicidade
Ficou lá uma metade
gauchesca e bem bagual.
Do Pampa ao Pantanal
há distância e saudade.
Meu sonho correu lonjuras,
deixou rastros encravados,
no chão de ambos estados
pra sorver duas culturas.
Imprimiu vozes seguras
de amor e fidelidade
com esta brasilidade
de quem possui ideal.
Do Pampa ao Pantanal
há distância e saudade.
Pampa é pátria eterna
onde enterrei meu umbigo
Pantanal, meu novo abrigo,
é uma querência fraterna.
Quando aqui boleei a perna
com sonhos próprios da idade,
quis mudar a realidade,
trouxe o jeito cultural
Do Pampa ao Pantanal
há distância e saudade.
Amo este apego ao chão
com raiz e sentimento,
porém resolvi ser vento
e ganhar a imensidão,
hoje, entre viola e violão
há uma cumplicidade
forjando uma identidade
de expressão sul-central.
Do Pampa ao Pantanal
há distância e saudade.
Ao mundo miro ansioso
nesta planície sem fim
e a brisa que chega em mim
traz um calmante gostoso.
O tempo branqueou o toso,
ergueu do campo a cidade
e pintou minha verdade
num sonho descomunal.
Do Pampa ao Pantanal
há distância e saudade.
Pantanal da natureza,
das tropas e alagados,
destes meus olhos molhados
pelo pranto da incerteza
Terra em que brota riqueza
com frutos de liberdade,
da flora em quantidade
e fauna excepcional.
Do Pampa ao Pantanal
há distância e saudade.
Brasileiro sim senhor,
orgulho de rio-grandense
porém sul-matogrossense
a prole é linda qual flor,
mestiça essência do amor,
integradora unidade,
contrapondo a dubiedade
de um anseio espiritual.
Do Pampa ao Pantanal
há distância e saudade.
(Extraído do livro Pajador do Brasil- Estudo Sobre a Poesia Oral Improvisada, de minha autoria)