A PARTE NÃO É O TODO

Peço, antes que comece

este meu verso teatino,

permissão, porque opino

com razão de quem conhece:

nem tudo o que se parece

é o que possa parecer.

Quem só de fora quer ver

pode cair no engodo

A parte não é o todo,

embora pareça ser.

Por conhecer bem a parte

e os seus desmembramentos,

afirmo aos quatro ventos

um saber que se comparte:

cultura não é só arte

que reproduz o viver.

Cultura faz renascer

o genuíno com denodo.

A parte não é o todo,

embora pareça ser.

Tradição é uma herança

de valor espiritual.

Legítima e cultural,

é o fiel da balança.

Alicerce da esperança

do porvir a florescer,

mas se a gente adormecer

o futuro passa o rodo.

A parte não é o todo,

embora pareça ser.

Sei, com alma guitarreira,

sopro não é assovio.

Nem toda fronteira é rio,

nem todo rio faz fronteira.

A gota, uma água inteira,

noutra, vai se desfazer.

Pouca, lodo vai fazer,

mas se muita, lava o lodo.

A parte não é o todo,

embora pareça ser.

A imagem não é o fato

do qual ela se estrutura,

tampouco a nomenclatura

pode ser dona do ato.

A voz não é o relato

do que pretende dizer.

Não se admite entender

gaúcho qual um apodo.

A parte não é o todo,

embora pareça ser.

PAULO DE FREITAS MENDONÇA
Enviado por PAULO DE FREITAS MENDONÇA em 14/04/2011
Código do texto: T2908139