A PARTE NÃO É O TODO
Peço, antes que comece
este meu verso teatino,
permissão, porque opino
com razão de quem conhece:
nem tudo o que se parece
é o que possa parecer.
Quem só de fora quer ver
pode cair no engodo
A parte não é o todo,
embora pareça ser.
Por conhecer bem a parte
e os seus desmembramentos,
afirmo aos quatro ventos
um saber que se comparte:
cultura não é só arte
que reproduz o viver.
Cultura faz renascer
o genuíno com denodo.
A parte não é o todo,
embora pareça ser.
Tradição é uma herança
de valor espiritual.
Legítima e cultural,
é o fiel da balança.
Alicerce da esperança
do porvir a florescer,
mas se a gente adormecer
o futuro passa o rodo.
A parte não é o todo,
embora pareça ser.
Sei, com alma guitarreira,
sopro não é assovio.
Nem toda fronteira é rio,
nem todo rio faz fronteira.
A gota, uma água inteira,
noutra, vai se desfazer.
Pouca, lodo vai fazer,
mas se muita, lava o lodo.
A parte não é o todo,
embora pareça ser.
A imagem não é o fato
do qual ela se estrutura,
tampouco a nomenclatura
pode ser dona do ato.
A voz não é o relato
do que pretende dizer.
Não se admite entender
gaúcho qual um apodo.
A parte não é o todo,
embora pareça ser.