Labirintos d`América (Ode a Simon Bolivar)

O continente pulmão

no corpo do mundo novo,

perde parte de seu povo,

que é puro coração.

Na busca da estrema-unção

pela insuportável dor,

esta gente esquece a cor

dos brasões de seus países,

desterrados com raízes,

no vôo de sonhador.

Afinal independência

não é mais que uma janela.

Para usufruir-se dela

é preciso consciência.

“Em mi`as crises de demência”

penso que na escravidão,

a culpa não é do chão,

nem de seu sangue precisa,

pois pátria não escraviza,

mas a interna desunião.

Coração que sangue chora

é tropilha em disparada

com sua gente pendurada

no estribo, pela espora,

vendo sua glória de outrora

num atropelo tristonho,

num desespero medonho,

sem notar que o real ganho

não condiz com seu tamanho,

mas co`a grandeza do sonho.

Há encanto suficiente

pra alma e seus comprazeres,

mas o corpo destes seres,

cada vez mais deficiente,

torna-se tão complacente

na perda por entre os dedos,

assombrando os próprios medos

como um fantasma sem forma

que, invisível se conforma

em ser morto em seus segredos.

Seus idiomas e verdades

fogem deste corpo esguio

que enxovalhado em seu brio

gagueja suas ansiedades,

cego nas cumplicidades

de seus caudilhos locais

que, com falsos ideais

fazem doente e cativa

toda a mente coletiva

de inverdades liberais.

Retalhado a revelia,

o território inda unido

não vê o mesmo sentido

no descaso à ecologia,

no entanto sentencia:

Os rios que rasgam o chão

são veias de um coração

pra pulsar a terra inteira.

Hoje servem de fronteira

por triste humana inversão.

O choro dos auto exílios

na terra um eco produz

pela carência de luz

dos sorrisos de seus filhos.

Quando empanam-se os brilhos

da alma de um continente

há uma tormenta inconsciente

no horizonte que vislumbra

e uma suicida penumbra

no subsolo desta gente

Ter filhos é querer tê-los

pra dar o seio e o colo,

pra vê-los plantando o solo,

colhendo seus próprios zelos.

Ao começar a perdê-los

pra outras luzes mais belas

vão abrindo-se as mazelas

da bruta desesperança

e a forma é ponta de lança,

ferindo nações-favelas.

(Gravado no CD Pajadores de Três Pátrias)

PAULO DE FREITAS MENDONÇA
Enviado por PAULO DE FREITAS MENDONÇA em 12/04/2011
Reeditado em 23/07/2011
Código do texto: T2904699