Décima Glosada

Mote

Fica só rindo de mim,

mantém a minh’alma presa,

só pra me ver colher sonho,

para decretar-me o fim.

Glosa

Me chama e já me contém

a ela não me contenho,

por isso que sempre venho

contar tudo a ninguém.

Ela me suga também,

me devolve o que é ruim

Se esconde num confim,

me prende em sua sentença,

depois por não ir à prensa,

fica só rindo de mim.

Vem me cobrar perfeição

e atenção demasiada,

contudo, não me dá nada.

Quer diamante do carvão.

Nem sempre vira canção,

tampouco me põe à mesa.

Tem mania de turquesa

quando se expõe para a rima,

mesmo sendo obra prima

mantém a minh’alma presa.

Nasce terreno baldio.

Quer planta que enraize.

Ordena que eu improvise.

Exige que eu seja rio.

Me desnuda quando em cio.

Me devora se me exponho.

Ao ver que me recomponho

vem com mais voracidade,

arando a realidade

só pra me ver colher sonho.

Às vezes com sua asa

se abraça em mim e flutua,

porém quando avisto a lua

me joga na terra em brasa.

Me apaga e me arrasa,

mas não me abandona, enfim.

Com cara de querubim

sorri como satanás.

Dirá: o pajador jaz

para decretar-me o fim.

(Extraído do livro Pajador do Brasil- Estudo Sobre a Poesia Oral Improvisada, de minha autoria)

PAULO DE FREITAS MENDONÇA
Enviado por PAULO DE FREITAS MENDONÇA em 11/04/2011
Reeditado em 23/07/2011
Código do texto: T2901856