Disse Dom Jayme Caetano

Lembro Dom Jayme Caetano,

o pajador missioneiro,

como um pajé feiticeiro

do xucro verso pampeano.

Quando esteve nesse plano,

disse ao Pago muito bem:

“Às vezes quem nada tem

é aquele que melhor vive,

quantas fortunas eu tive

sem nunca ter um vintém.”

Menestrél iluminado,

do nosso tempo, um Homero,

que teve um cantar sincero

do presente e do passado.

Disse que o Patrão sagrado,

em sua sabedoria,

“deu o canto e a melodia

para os pássaros e os ventos

pra que fossem complementos

do que chamamos poesia”

Fez um relato preciso,

em sua crioula leitura,

que Deus fez criatura

que expulsou do paraíso.

Arrematou d’improviso

com este verso bonito:

“O homem nasce de um grito

e a morte é tão silenciosa

na passagem misteriosa

que apaga nosso infinito”

Poeta e pajador,

o crioulo das missões,

fazia interpretações

do gaúcho campeador,

desde o de fino teor

ao taura da casca grossa:

“Que bárbara a raça nossa,

vejo quando examino,

as origens do teatino

que o chimarrão não adoça”

De-a-cavalo na experiência

que lhe forjou a estatura

num manancial de cultura,

interrogando à existência.

E por ter buena consciência,

disse com sinceridade:

“Aprendi na mocidade

algo que ninguém me tira,

que não há meia mentira,

tampouco meia verdade.”

Por isso tem a certeza

que nada é ultrapassado,

porque tudo está ligado

nas teias da natureza.

Nos explica com clareza

a força da auto-estima:

“Há uma lei que vem de cima

na estrada do tapejara:

- o tempo que nos separa

é o que mais nos aproxima.”

Conheci este cantor

escreve Mozart Pereira

quando abre-lhe a porteira

do potreiro pro leitor.

Também guardo este “honor”;

igualmente o conheci.

E com ele eu aprendi

o que o mundo saberá:

“Por longe que o homem vá

nunca fugirá de si”

Há homens que nascem vento

passam - passam, ninguém nota,

mas os de bombacha e bota

são feitos de sentimento.

Por orgulho ao seu talento

na pajada e na cantiga

sempre ouço voz amiga

a alardear com louvor:

“Que conheceu um cantor

daqueles da marca antiga.”

(Gravado no CD Tributo a Jayme Caetano Braun)

PAULO DE FREITAS MENDONÇA
Enviado por PAULO DE FREITAS MENDONÇA em 11/04/2011
Reeditado em 23/07/2011
Código do texto: T2901840