A Tristeza
Tristeza é erva danada
que ao coração embaraça.
Maula que ao olhar embaça
por tudo ou então por nada.
É pontiaguda, afiada,
quadrada, esdrúxula, fria,
nostálgica e sem poesia,
mui traiçoeira e pouco amiga.
Tristeza é uma formiga
sendo açúcar, alegria.
Tristeza é mão carrasca.
É um grilhão invisível,
farto e sempre disponível.
Rói a alma e ao corpo masca.
Tristeza é imensa rasca
que a estima de arrasto leva,
é desgranida que ceva
sua força no sofrimento.
Tristeza é envolvimento
de bom com gente maleva.
Tristeza é o descompasso
entre a mente e o coração
é camuflada prisão,
silêncio em fogo, é aço.
Tristeza é o estilhaço
de uma palavra perdida
cujo alvo é a ferida
que sangra e não cicatriza.
É inço que enraiza
no solo fértil da vida.
Tristeza esquece da lua
vira o foco para o solo,
mãos na testa pedem colo,
a lágrima cala a pua.
Os pés se ausentam da rua,
os olhos fitam o escuro.
O porto fica inseguro
e o vôo perde a razão.
Por entre os dedos da mão
escorrem sonho e futuro.