Voyeur
Desde sempre lhe observo.
Observá-lo é matar um pouco a falta que sinto da sua essência.
Do seu lado, sei que a sua saudade relembra o meu olhar...
Dia desses achei fotografias antigas.
Reminiscências (de você para mim).
As minhas, para você, duraram o tempo de informar à retina
todas as impressões e todo o sentimento
em muitos significados que as imagens carregavam, intensas.
Deletadas rapidamente.
De alguma forma, são nossas, embora não estivéssemos juntos.
Essas modernidades servem a muitos propósitos,
mas aniquilaram nossas respirações ofegantes...
Vários anos se passaram. Uns seis ou sete, creio eu.
Depois de muito tempo, as lembranças ainda estão ali, vívidas,
mesmo que eu as afaste, enquanto caminho a esmo, na minha noite mais escura.
Mesmo que sejam meras colagens de pequenos recortes que nem montam um quebra-cabeças.
Estranhamente, fazem sentir. E fazem sentido, onde não há nem consistência para tanto.
Tem alguma coisa ali, nessa costura, nessa montagem.
Não me afasto de vez, nem você o faz, verdadeiramente.
Ficou um fio solto nesse bordado.
Se ele encontrasse o seu lugar, tudo se encaixaria lindamente.
Mas a vida tem um verso bem confuso, pontos que se entrelaçam e formam nós.
Não os vemos. Mas estão ali, no verso. Enredando tudo.
Não é muito diferente o que vemos no bordado...
Mas entre a harmonia das cores, se procurarmos,
vamos nos encontrar
onde mesmo nós
em nós
nos entremeamos e,
a despeito de todas as probabilidades contrárias,
em belezura e amor...
desatamos nós.