Conto que compõe o Livro
LEMBRANÇAS DO INTERIOR Contadas e Cantadas - homenagem à amiga de infância
Angelina Davi.



A SORTE DO SAPO
 
 
Aquele sapo teve a grande sorte de encontrar, em seu caminho de dores, alguém daquela estirpe.
        Aconteceu num dia em que estávamos brincando, eu e minha amiga de infância, a Angelina, e encontramos, por acaso, um sapo dentro de um barreiro – um buraco de onde se tirava barro para serviços de alvenaria na casa onde ela morava que era a casa dos seus avós, eu imagino, já que a terra em volta era dos mesmos.
 
        O sapo estava muito doente. Alguém havia jogado água de sal no seu lombo, e ele estava coberto de tapurus, os quais lhe teriam sido depositados pelas moscas, e que lhes roíam as carnes que iam apodrecendo pouco a pouco. Angelina não contou estórias! Pegou o sapo e o levou para casa, escondendo-o da sua mãe, que poderia ter sido a própria autora daquela maldade, e cuidou do bicho até vê-lo são.
 
          Este foi o maior exemplo de bondade que eu tive até hoje. E foi praticado por uma menina a quem o povo da vizinhança considerava má, já que a mesma era muito “malcriada”, segundo diziam aqueles que julgam sem conhecer a verdade de cada um.
 
         E não só isso me levava a admirar aquela menina, mas, também, a sua capacidade de aprendizado e o seu capricho em tudo que fazia.
       Quando brincávamos de boneca, era ela quem costurava as roupas das suas e das minhas. Fazia vestidos perfeitos. Bem costurados (à mão), e sempre acompanhando a moda. Lembro-me de um modelo de época que fez para uma das minhas bruxas de pano, era o “mil e uma noites” - o godê (saia rodada sem costuras), com um babado pregado na mesma e enfeitado com um debrum enviesado e largo, que acabava com um laço bem feito!... Do lado esquerdo. Era lindo!!
 
Bons tempos, Angelina! Deus te dê tudo com que sempre sonhastes

 
 
 
 
A SORTE DO SAPO
 
Um sapo sortudo que, no seu caminho,
inda tendo sido condenado à morte
por um ser daninho, teve mesmo a sorte
de cruzar com outro ser que, com carinho,
curou-lhe as feridas, tirou-lhe o espinho
da maldade humana que está presente
neste nosso mundo repleto de gente
vazia, distante do que seja amor.
Cuja alma se alegra em provocar dor
de forma inumana, maldosa, indecente.
 
Estava brincando com a amiga Angelina,
menina bondosa, de bom coração,
quando, à nossa frente, ali mesmo no chão,
algo nos assombra, a mim e à menina!
Quem seria a alma, malvada, ferina,
que teria posto nas costas do sapo
sal, o transformando num pobre farrapo
indefeso, ferido, incapacitado
de lutar pela vida, o pobre coitado?!
Senti-me impotente, sem ação, um trapo!
 
Mas não Angelina! Menina de ação!
Pegou-o no colo, cuidando em tratá-lo,
com jeito e carinho pra não machucá-lo
curou-lhe as feridas, lhe deu atenção,
escondendo-o da mãe, na boa intenção
de vê-lo sarado e de devolvê-lo
à Mãe Natureza. E acabou por fazê-lo!
Aquela menina que todos julgavam
como ‘malcriada’ e a condenavam,
mereceu toda a minha admiração.
 
Tem mais alguns feitos que posso citar
da amiga Angelina, da infância primeira,
minha amiga de fé, pura e verdadeira!
Lembro a minha amiga sempre a costurar
quando de boneca nos punha a brincar,
belíssimos vestidos, compridos, rodados,
plissados, de mangas..., jamais comparados
aos das outras meninas que não conseguindo
juntar dois retalhos o apoio pedindo
a ela que ajuda sem nada cobrar.
 
Bons tempos aquele, amiga Angelina!
Só resta a saudade a esta senhora
que em versos transmite o que sente agora.
Ou seja: a lembrança daquela menina
levada, sapeca, medonha, traquina!
que foi minha amiga de infância a ficar
na minha memória por representar
um elo indelével com o meu passado
de simplicidade, que deixou gravado
o bem que a amizade pode nos causar.

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SAPO DE SORTE
(
Fernando Cunha Lima
sonetando meu conto/cordel)

 
Banho de água e sal no velho sapo,
Depois fora atirado no barreiro
Profundo, ali passou dias inteiros,
Descoberto, já nem batia o papo.
 
O sapo velho parecia um trapo,
Dentro do buraco no terreiro,
Estava em seu momento derradeiro,
Ali jogado dentro do solapo.
 
Foi encontrado por uma menina,
Que tinha o doce nome de Angelina,
Um anjo que lhe salvou dos urubus.
 
Levou pra casa, depressa o tratou,
Suas costas com suas mãos curou,
Retirando, um a um os tapurus.
 
 
O sapo teve o seu dia de sorte,
Quando a menina lhe salvou da morte.
 
 
acompanhando a estória do sapo da poeta Rosa Regis.
fernando cunha lima 119-01-2020.
Para o texto: A SORTE DO SAPO - conto/homenagem (T6308901)