Marcel e Ana
NINGUÉM É O MESMO... NA VIDA... O TEMPO TODO
Não!
Não há como negar... ou questionar...
Ou muito menos... duvidar...
Mas...
Ninguém... é a mesma pessoa... o tempo todo
Nem a será sempre igual... ou idêntica... em toda a sua vida
De forma alguma
Ninguém
Em verdade... mudamos... todo o tempo
Ainda que não tanto percebamos
Ao que trocamos de veste nossas almas
Ao que despimos de nossas fantasias... freqüentemente
Eis nossa, pois “normalidade”... nosso real cotidiano
Ao que assim somos... no tempo de nosso exílio
De nossa peregrinação... sobre o solo deste mundo
Quem o qual foi visto ontem... não será o mesmo hoje
E quem é notado neste instante... não será idêntico amanhã
Por descortinado a que então aqui se revelará
Neste vital espaço em suas variantes a que se transmutam
Continuamente
Quais estações do ano... que modificam e se alteram
Por se alternarem... em seus devidos tempos
Quais periódicos ciclos lunares
Ora sendo um... ora sendo outro
Até porque preciso assim se faz
E destarte somos nós!
Oh, quanto nos surpreendemos com tantas pessoas!
Em que chegamos até mesmo a apostar nelas... nossas vidas
E todas nossas fichas... todas nossas esperanças
Por considerá-las ser o que são agora... para sempre
E, por isso, quanto... nos desapontamos!
Quanto... nos decepcionamos!
A que projetamos nelas uma ilusória imagem
Criada por nós mesmos
Por nossa fértil e enganadora mente
Oh, mente que tanto mente!
Oh mente... demente!
E como nela acreditamos!
E assim... o lindo ídolo de barro
A que fascinou nossos míopes olhos
Caiu no chão... e se espatifou!
E... diante, de tal revelação dizemos então:
“Quem te viu... e que te vê... hein!”
Seria uma pena?
Ou não teria sido melhor assim?
Da verdade que se revela nas circunstâncias
A que antes camuflada então era
E não seria a desilusão a libertação... de uma ilusão?
Ou o desencanto... a ruptura de um mentiroso encanto?
Sendo assim, então, melhor sem dúvida foi
Ainda que de início não deixou de ser... uma tremenda porrada
Ah, a traição... da amizade!
Quanto dissabor!... Quanto desgosto!... Quanta mágoa!...
E pensar que até Cristo passou por isso!
Seja por Judas... seja por Pedro... que também o negou
Na mais dura de sua hora...
Mas também, analogamente, perplexos ficamos
Quando o vilão ou o ofensor de ontem
Tornou-se o mocinho de hoje
E o nosso prazeroso camarada de estrada
Que bom! Daquele que achávamos não ter esperança!
Porém verdade seja dita:
Quanto difícil é apagar de nossas memórias:
A bofetada da ofensa e da injúria!
O vitupério da palavra maldita!
O ataque da desfeita!
A dor do insulto!
E de todas as amarguras a que nos ofereceram
Cujos frutos a contra-gosto ingerimos!
E desta forma, quão difícil conviver como antes
Com o amigo e companheiro de estrada... o qual nos feriu
A não ser se a pessoa seja provedor
De uma extraordinária capacidade... de perdoar
Ou pelo menos... de compreender... o ofensor
Ao que a dor n’alma de quem a sente
É, pois... bem pior e mais dolorosa... que qualquer bofetada na cara
Principalmente sabendo que quem a deu
Foi justamente pelas mãos de alguém de nosso convívio e apreço
Caso seja de algum inimigo
Torna-se menos difícil de aceitar
O que não quer dizer sê-la tolerável
Pelo menos em nossa atual humana condição
Por outro lado... verdade seja também dita:
E quão fácil é esquecer as inúmeras gentilezas:
Nos favores a que nos prestam!
Nos benefícios que d’outras mãos recebemos!
No carinho de seus gestos... palavras... atenções... olhares...
Os quais... de nossas lembranças deixamos, pois ir embora
Ao que deles somos tão devedores...
E assim em nossas vidas não, pois ficaram
Por as expulsarmos de nosso convívio... de nossas lembranças
E destarte é nossa vida:
Em que trazemos conosco tantas desagradáveis pessoas
Repugnantes e antipáticas...
Em todos os lugares aonde vamos
Mesmo estando-as... no momento... distantes e ausentes
E.. algumas delas... até mortas
E as levamos para os nossos lares... para o trabalho... para a rua...
Ou até para a cama
Que triste!
Mas, em tom antropológico, sejamos sensatos:
As pessoas mudam com o passar dos anos
E quando se vê aquela pessoa que está ao seu lado
Você se espanta e se assusta
A que enxerga... de outro ângulo
E vê que não é ela... aquela mesma pessoa
Com a qual a gente conheceu... conviveu
Ou mesmo se casou
Mas... nós também mudamos!...
O que é fato!
E então, pode ser menos difícil passar a entendê-las
Por sabermos que estamos todos “no mesmo barco”
Oh, quem pode ver alguém de ontem com uma nova visão... hoje?
Quem pode deletar de seu mental HD as afrontas do passado?
Ah, quão preciso se faz “formatar” a nossa cabeça
Pelo menos... de vez em quando!
E, se for possível... sempre... diariamente
E tirar todo o lixo em que nela tanto acumulamos!
Oh, que bênção!
Paulo da Cruz e Adria Comparini