LIÇÕES DE ITAMBÉ (PE), PONTO DE PARTIDA PARA UM NOBEL
Pequeno município da zona canavieira pernambucana (Microrregião Mata Norte), vizinho aos lugarejos paraibanos de Pedras de Fogo e Juripiranga, Itambé a muitos surpreendeu nas duas últimas décadas. Com cerca de 36.500 habitantes, distribuídos numa área de 304,38 km² (IBGE) e com um PIB per capta anual de R$ 6.477,27 (IBGE/2012), grande parte da população ativa masculina dependeu, exclusivamente, do salário-mínimo recebido durante a safra da cana de açúcar, no período setembro/fevereiro dos muitos anos de moenda. Nos outros seis meses, férias compulsórias não remuneradas e sofrimento. Uma situação que vai se tornando cada vez mais precária na medida em que os engenhos, quando não param de operar, modernizam seus instrumentos de trabalho, o que significa, num caso ou noutro, redução no quantitativo da mão de obra braçal.
Ainda bem que os bons empreendedores sempre acordam na hora certa e com uma bem-vinda ideia. Aconteceu um daqueles insights que, por certo, não passavam pela cabeça de nenhum outro itambeense. Mércia Moura entendeu ser melhor largar o seu curso de desenho industrial para se casar e morar no engenho Bangauá, da pequena Itambé. Mesmo sem conhecer o ofício da costura, pouco a pouco foi se interessando e interagindo com outros profissionais do ramo, chegando à ousadia de transformar a casa grande, e até a cocheira dos burros daquele engenho, numa fábrica de confecções, fundando-a com o nome de Empresa de Confecções “Marie Mercié”. Aprendeu e cresceu. Hoje, além de miçangas e estampas, produz roupas finas destinadas ao público classe “A”. Abriu loja em São Paulo, para facilitar a entrega de seus produtos a inúmeros revendedores daquele mercado, além de manter parceria com a requintada empresa de Constanza Pascolato. Mais recentemente, junto com Márcia Moura, abriu lojas no Shopping Rio-Mar e no Shopping Center Recife, com pretensões de expandir a empresa a nível nacional, via frinshising. Mas, o que mais a dignifica são os benefícios propiciados à cidade e seu povo. Emprega, no momento, cerca de 300 pessoas em sua fábrica – devidamente treinadas -, inclusive 110 do sexo masculino que, rompendo preconceitos, e por serem mais bem pagos, trocaram o corte da cana pelo corte de tecidos, o facão pela agulha, o plantio, soca e ressoca da cana, ou o roçado, pelo bordado.
A outra surpresa é igual ou ainda mais emocionante. Um professor da mesma cidadezinha, Itambé – Jayse Antônio Ferreira –, que leciona artes, conseguiu destacar-se, junto ao MEC, como o melhor do País em 2014, na categoria ensino médio, entre 6.808 concorrentes. Aliás, obteve dupla premiação, pela ventura de o seu projeto também sobressair-se como o melhor da categoria. Intitulado “EU SOU UMA OBRA DE ARTE: ETNIAS DO MUNDO”, o projeto teve como premissa importante a constatação de que os alunos tinham baixa autoestima devido às suas imutáveis características físicas. O professor Jayse iniciou uma pesquisa com os estudantes a respeito das etnias a que eles pertenciam, de que resultou o estudo das características biológicas de vinte povos definidos. Em seguida, partiu para a escolha de vinte adolescentes que pudessem representá-los. Estes foram artisticamente fotografados, maquiados e caracterizados com indumentárias pertinentes aos povos representados. Evidenciou-se o voluntariado - inclusive dos trabalhos fotográficos e de maquiagem -, que envolveu, solidariamente, professores, pais de alunos, pequenos comerciantes locais e – por que não? – os costureiros e costureiras da “Marie Mercié”.
Autoestima elevada, todos os itambeenses agora esbanjam alegria por haverem mergulhado fundo no estudo e assimilação de suas origens.
Enfim, tão orgulhosos quanto os que já vivenciaram eras sombrias nesses rincões outrora incultos e ocultos de nosso País, estão todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para essa vitória um tanto arduamente conquistada. Ponto de partida, sim, mais que ponto de chegada.
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Fonte consultada:
Jornal do Commercio/Recife, edições de 21/09/2014 e 13/12/2014.
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Pequeno município da zona canavieira pernambucana (Microrregião Mata Norte), vizinho aos lugarejos paraibanos de Pedras de Fogo e Juripiranga, Itambé a muitos surpreendeu nas duas últimas décadas. Com cerca de 36.500 habitantes, distribuídos numa área de 304,38 km² (IBGE) e com um PIB per capta anual de R$ 6.477,27 (IBGE/2012), grande parte da população ativa masculina dependeu, exclusivamente, do salário-mínimo recebido durante a safra da cana de açúcar, no período setembro/fevereiro dos muitos anos de moenda. Nos outros seis meses, férias compulsórias não remuneradas e sofrimento. Uma situação que vai se tornando cada vez mais precária na medida em que os engenhos, quando não param de operar, modernizam seus instrumentos de trabalho, o que significa, num caso ou noutro, redução no quantitativo da mão de obra braçal.
Ainda bem que os bons empreendedores sempre acordam na hora certa e com uma bem-vinda ideia. Aconteceu um daqueles insights que, por certo, não passavam pela cabeça de nenhum outro itambeense. Mércia Moura entendeu ser melhor largar o seu curso de desenho industrial para se casar e morar no engenho Bangauá, da pequena Itambé. Mesmo sem conhecer o ofício da costura, pouco a pouco foi se interessando e interagindo com outros profissionais do ramo, chegando à ousadia de transformar a casa grande, e até a cocheira dos burros daquele engenho, numa fábrica de confecções, fundando-a com o nome de Empresa de Confecções “Marie Mercié”. Aprendeu e cresceu. Hoje, além de miçangas e estampas, produz roupas finas destinadas ao público classe “A”. Abriu loja em São Paulo, para facilitar a entrega de seus produtos a inúmeros revendedores daquele mercado, além de manter parceria com a requintada empresa de Constanza Pascolato. Mais recentemente, junto com Márcia Moura, abriu lojas no Shopping Rio-Mar e no Shopping Center Recife, com pretensões de expandir a empresa a nível nacional, via frinshising. Mas, o que mais a dignifica são os benefícios propiciados à cidade e seu povo. Emprega, no momento, cerca de 300 pessoas em sua fábrica – devidamente treinadas -, inclusive 110 do sexo masculino que, rompendo preconceitos, e por serem mais bem pagos, trocaram o corte da cana pelo corte de tecidos, o facão pela agulha, o plantio, soca e ressoca da cana, ou o roçado, pelo bordado.
A outra surpresa é igual ou ainda mais emocionante. Um professor da mesma cidadezinha, Itambé – Jayse Antônio Ferreira –, que leciona artes, conseguiu destacar-se, junto ao MEC, como o melhor do País em 2014, na categoria ensino médio, entre 6.808 concorrentes. Aliás, obteve dupla premiação, pela ventura de o seu projeto também sobressair-se como o melhor da categoria. Intitulado “EU SOU UMA OBRA DE ARTE: ETNIAS DO MUNDO”, o projeto teve como premissa importante a constatação de que os alunos tinham baixa autoestima devido às suas imutáveis características físicas. O professor Jayse iniciou uma pesquisa com os estudantes a respeito das etnias a que eles pertenciam, de que resultou o estudo das características biológicas de vinte povos definidos. Em seguida, partiu para a escolha de vinte adolescentes que pudessem representá-los. Estes foram artisticamente fotografados, maquiados e caracterizados com indumentárias pertinentes aos povos representados. Evidenciou-se o voluntariado - inclusive dos trabalhos fotográficos e de maquiagem -, que envolveu, solidariamente, professores, pais de alunos, pequenos comerciantes locais e – por que não? – os costureiros e costureiras da “Marie Mercié”.
Autoestima elevada, todos os itambeenses agora esbanjam alegria por haverem mergulhado fundo no estudo e assimilação de suas origens.
Enfim, tão orgulhosos quanto os que já vivenciaram eras sombrias nesses rincões outrora incultos e ocultos de nosso País, estão todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para essa vitória um tanto arduamente conquistada. Ponto de partida, sim, mais que ponto de chegada.
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Fonte consultada:
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