Cordel #037: EU QUERENDO TAMBÉM FAÇO, IGUALZINHO AO ZÉ LIMEIRA

EU QUERENDO TAMBÉM FAÇO,

IGUALZINHO AO ZÉ LIMEIRA

Autores: Um desafio cordelístico sobre Limeirismo entre:

Bosco Esmeraldo

Daniel Fiúza

Alessandra Lully Ferrario

Ana Flor do Lácio

Násser Queiroga

Publicado também no blog [http://boscoesmeraldo.blogspot.com/2011/07/eu-querendo-tambem-faco-igualzinho-ao.html]

(*) LIMEIRISMO: Artifício utilizado por Zé Limeira, inventando palavras ou frases sem nexo pelo simples fato de forçar uma rima quando esta lhe faltava. Transparece na obra desse famoso cordelista que na poesia, o mais importante é a rima, estando o verso, a harmonia, o sentido e a ideia relevado a último ou a nenhum plano.

BOSCO ESMERALDO

Quando o Hebdomadário <- (calendário)

Começou fazer poesia

Assim, da noite pro dia

Pra tornar-se um mandatário

Travestiu-se em dromedário.

Tracei cá pior asneira

Nego planta bananeira

Colhe-se figo do espaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

DANIEL FIÚZA

Um galo cantou ao longe

Acordando a vizinhança

uma menina de trança

Foi reclamar com o monge

Um bode velho que tange

E pega boi na carreira

Se esconde atrás da trincheira

Com o pessoal do cangaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

LULLY FERRARIO

Atravessei os sertões

Em pêlo no meu tordilho

Não comi churros nem milho

Tampouco comi feijões

Dados pelos aldeões

Subi numa laranjeira

De repente deu canseira

Me deixando num bagaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO

O Astronauta Dom Fiúza

Que também é motorneiro

Derna quano era isoneiro

Que a pipa parafusa

Nos cascos na preta fusa* <- (Limeirismo)

Lá do sol "corró, quebreira"* <- (Limeirismo)

Nos cacho da carabina

Pelo fluxo da menina

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira

DANIEL FIÚZA

Passei um dia em Macau

Passeando de charrete

Jantei numa lanchonete

Comi feijão com mingau

Depois toquei berimbau

Pra deleitar uma freira

Nascida em ilha madeira

Navegando num barcaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

LULLY FERRARIO

Domfiuza Gran poeta

Nadou lá do Ceará

Com a baleia gagá

Vei’ tocando clarineta

Nas costas de um cometa

Com rimas na algibeira

Pra uma mulher rendeira

Que apareceu no pedaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira

BOSCO ESMERALDO

Dom Fiúza, de repente

Ele é bão demais dá conta

Quebra couro, boi de ponto

Matutu, chorró de enchente <- (Limeirismo)

"Purulu, potó, pelente"* <- (Limeirismo)

Pratichuli de pauleira <- (Limeirismo)

Ponta Porã da Ribeira

Invenção, pratá pró laço <- (Limeirismo)

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira

DANIEL FIÚZA

Montado num elefante

Eu vi a banda passar

E um tatu me mostrar

Um dente fino e cortante

Tal qual um rinoceronte

Descendo a ribanceira

Montado numa esteira

Sem cometer erro crasso

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

LULLY FERRARIO

Pobre mulher sem agulhas

Não vai conseguir bordar

Sem sapatos para andar

Tem que contar as estrelas

Para esquecer as favelas

Do burro sem barrigueira

Correndo pela clareira

Com grande estardalhaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira

BOSCO ESMERALDO

Tripa seca manguá Riba*

Ribamar, riba do rio*

Qué cum lé, não dá um pio*

Muito estrume se estriba

Poeta das Caraíba

Sabido num diz besteira

Navio sem eira ou beira

Espora, taca, compasso

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira

LULLY FERRARIO

Corre o galo atrás do bode

No meio da multidão

Vem chegando um caminhão

Pra mode dançar pagode

Vejam como se sacode

Se quiserem a capoeira

Mas não percam a estribeira

Se o Brasil faz um golaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO

Lendo aqui Lully Ferrario

Que dança balé e num despista

Uma exímia cordelista

Fico meio temerário

Me sentindo um quase-otário.

Não dá pra dizer besteira

Ou até plantar bananeira

Jamais entrei no cangaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

DANIEL FIÚZA

O filho da véia kenga

Cujo nome não me lembro

Foi de abril a setembro

Trampando num lengalenga

Cabra que gosta de arenga

E de fumar com piteira

Carrega cesta na feira

Nas costa tem um inchaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO

O amigo mandou bem

Fazendo u'a obra da prima

Do absurdo eu crio rima

No Uól Strit di Belém

No morro o sino blém-blém*

Couro cru na bandoleira

No Exército baladeira

Nuvem lhe sai do cachaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira

DANIEL FIÚZA

Foi visto na madrugada

Aquilo que o bicho come

vestido de lobisomem

acompanhando uma fada

numa floresta fechada

plantada de seringueira

berrando a noite inteira

se ouvia até no terraço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

DANIEL FIÚZA

Por cima tinha o vestido

por baixo vinha anágua

Com o olho cheio de mágoa

Por ser assim atrevido

Teimoso e maluvido

Gostar de dizer besteira

Fazendo arte ligeira

Com cobre, ferro e aço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

LULLY FERRARIO

Há uma festa no saguão

Com churrasco de cabrito

Quem quiser um pirulito

Vai sacar do cinturão

Pra poder matar dragão

Precisando de enfermeira

Pra cuidar duma frieira

Mandando tudo pro espaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO

Quando o galo de campina

Campina Grande da serra

Vê que o mote se emperra

Brincadeira de menina

De rapaz que se amofina

Vem na frente, de tranqueira

Injustiça brasileira

Da cobra arco e flecha eu faço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

DANIEL FIÚZA

Chiquinha fia do Zé

Neta da velha coroca

Morreu comendo paçoca

Na mesa dum cabaré

Jantando com Nazaré

Uma mulher encrenqueira

Nascida na Mantiqueira

Onde eu criava cachaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

LULLY FERRARIO

Já andei pelos sertões

Querendo achar uma prenda

Toda vestida de renda

Procurando os aviões

Pescar peixes sem arpões

Em cima duma mangueira

Para espiar a roceira

Se cair será um fracasso

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira

BOSCO ESMERALDO

Faca, peixeira sem ponta

Bomba cega sem estopim

Quem pode valer a mim

Parafuso, rosca, afronta

Quando quiser ficar pronta

Tudo o mais é só doideira

Café se faz na chaleira

Rapadura no bagaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

DANIEL FIÚZA

Uma cabrita lesada

Fugiu pro Rio de janeiro

Ficou até fevereiro

Voltando numa enxurrada

De bucho toda emprenhada

Pariu numa sexta feira

Lá dentro da geladeira

Nasceu um filho sem baço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO

De bucho, toda emprenhada

Saltou a macaca Chita

Falando qual mexerica

Sem ficar encabulada

Uma boa companheira

De Tarzan, mas que besteira

De concreto tem bom traço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

NASSER QUEIROGA

Va' puxando esta corda,

sem medo dela quebrar,

cuidado com o preiá,

que ta dentro desta loca,

gamba fede qui so' bosta,

nem perto quero chegar,

hoje eu como mugunzar,

vendo a menina faceira,

eu querendo tambem faco,

iguazinho ao Ze' Limeira!

DANIEL FIÚZA

Segui pegadas de cobra

mordido por urubu

Pulei do norte pro sul

Pra terminar uma obra

Comendo resto e sobra

Em casa de carpideira

Desci pela cumeeira

Quase levei um balaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO

Segui os rastros da cobra

E também suas digitais

Seus retratos virtuais

Fazem parte da manobra

Porque ninguém não me dobra

Não gosto de baderneira

Capim santo, laranjeira

Pega a cobra e dá um laço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé Limeira.

NASSER QUEIROGA

E, la' vinha ele por cima,

enquanto ela por baixo,

igualzinho a sapato,

com meia furrada no pe',

(O)cheiro bom de cafe,

vou tomar sem adoçar!

olha la' uma rolinha,

mim enpresta a balhiadeira,

Eu querendo tambem faco

igualzinho a Ze' Limeira!

DANIEL FIÚZA

Quando estive em Canindé

Capital de Maceió

Onde nasceu minha vó

Quando inventou a colher

Foi forjada na coité

Na casa de João Teixeira

Afiador de peixeira

Bebendo pinga e melaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé limeira.

ANA FLOR DO LÁCIO

P´ra casa do meu paizinho

Eu vos convido, amigos!

Fica um segredinho

Lá sereis bem tratados

Bom e velho Portinho

Figos, bolo, melaço!

Desde a uva à videira

De nada me desfaço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé limeira.

NASSER QUEIROGA

Vou parar por aqui Bosco,

pra estrofes num alongar,

desculpe a palavra acima,

coloquei só pra rimar,

Se num gosto só apagar,

ignore o escrito,

que o rimista

aqui as vezes rima esquisito!

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé limeira.

BOSCO ESMERALDO

Co'a cunhada avó eu brinco

Cum filho avô do bisneto

Pela musa do concreto

Oito noves fora cinco

Pois tranco a porta sem trinco.

Não vou falar baboseira

Dançando na betoneira

De ninguém nunca desfaço

Eu querendo também faço

Igualzinha a Zé Limeira.

DANIEL FIIÚZA

Eu querendo também faço

Qualquer coisa nesse mundo

Pode até chamar Raimundo

Sem fazer estardalhaço

Nem cometer erro Crasso

Na guerra da bagaceira

Onde o índio faz carreira

Querendo ser brocoió

Um cabo de Cabrobó

Igualzinho a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO

Eita coisinha boa

Por demais irresistível

Vocês são de alto nível

Compondo aqui essas loa

Que em todo canto se entoa

Interagi de primeira

Ana e Nasser, sem canseira

Daniel, Lully, me refaço

Eu querendo também faço

Igualzinha a Zé Limeira.

BOSCO ESMERALDO

Na casa da minha vó

Sou tratado a pão de ló

Pois ela é mãe de Mamãe

Pai é pai e mãe é mãe

Vô é vô e vó é vó

Amizade de primeira

Minha glosa derradeira

Pela interação me engraço

Eu querendo também faço

Igualzinho a Zé limeira.

Obrigado a todos os interagentes que aqui colaboraram com este desafio e o enriqueceram por demais.

Valeu Daniel, Lully, Ana e Násser Queiroga!

Ficou simples e absurdamente perfeito.

Alelos Esmeraldinus, Daniel Fiúza, Alessandra Lully Ferrario, Ana Flor do Lácio e Nasser Queiroga
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 06/07/2011
Reeditado em 17/10/2011
Código do texto: T3078088
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