Retratos da vida

Viajei por uma boa parte desse país, e sou grato pelo aprendizado, pois conheci pessoas dos mais diversos níveis sociais, pessoas como eu, que buscavam respostas em torno de si mesmos, analizando os relacionamentos e as grandes provas de amizade, algo quase extinto em nossa atual conjuntura. Passei por caminhos onde vi a dor frente à frente, corroendo o coração de muitos amigos; estive muito próximo da inveja e do egoísmo, confrontando-se com meu mundo, que em si, buscava apenas conforto; atravessei regiões onde um simples olhar identificava sua personalidade; convivi ao lado de jovens que se drogavam para fugir de seus problemas, e ao invés disso, contraíam a dependência, e o desequilíbrio para seus lares; ganhei noites nas ruas das cidades, acalentando famílias inteiras, que contorciam-se nas calçadas e ruelas, sem ao menos uma palavra de conforto, sedentos por um simples prato de sopa; dormi em praças, casas, sítios, fazendas, pousadas e hotéis, para os mais variados gostos, condomínios, cortiços e favelas, mas sempre satisfeito, seguro em mim, na certeza de que a vida não se resume somente em seu quarto, ou dentro de sua casa; distribuí alegria, onde vi tristeza; amei muitas mulheres, mas nunca quis me entregar às paixões, pois sempre acreditei no amor como não só uma fonte de desejos, mas também como uma fábrica de realizações. Analizei costumes e culturas das mais diversas; aprendi coisas que jamais vi na escola; Chorei nas noites frias, onde qualquer paisagem lembrava-me dos amigos, àqueles que se foram, e deixaram em mim, a essência de uma verdadeira amizade; Vi o mar se esvairir no horizonte, e com ele, a certeza de que muito havia a se aprender; Trabalhei duro, subi em andaimes, fui ambulante, sempre corri atrás do meu espaço; me isolei de tudo e de todos, para compreender que somente as grandes companhias e as verdadeiras amizades, me eram realmente importantes; fui sempre ciente das minhas fraquezas e apostei no amor, para um dia poder superá-las; fui criança, menino e homem, diante das situações; enfim, tive exemplos de vida que me tornaram o que hoje sou, e acredito que tudo tem uma resposta, um significado, e que ninguém caminha ao léu, pois está sempre ocupando um espaço promissor para sua identificação pessoal. Ninguém deve se acovardar diante da predestinação que lhe for endereçada, pois a vida é uma grande batalha onde há vitoriosos e fracassados, e o limite da vitória está na superação dos mêdos e da ignorância, a lama apodrecida ao qual se enterram os fracos, enquanto o limite do fracasso está na perda da razão e do bom senso, armas infalíveis em defeza do Progresso. Com a terra envaidecida, em suas ilusões e apêgos, nós perdemos o dom da percepção e da sensibilidade, entregamos os nossos corações ao vazio, e em face dos nossos erros, destruímos a nossa própria casa, nosso berço, e a própria mãe natureza; castigada e esquecida pela falta de amor e humanidade, nos pede socorro aflita, e sente por todas as nossas dores, pois quando o ser vier a perecer, a natureza contará com seus últimos dias de vida...

Assim como as células necessitam do trabalho e da ação ordenada de substâncias e reagentes químicos para se desenvolverem, a terra necessita do homem, como agente promissor para o seu desenvolvimento físico e moral, visto que cada ação do mesmo em seus limites, repercute numa reação de igual tamanho para a natureza, e o bem-estar da humanidade, depende tão somente da nossa vontade e do nosso esforço, pois a cada novo nascer do sol, surge uma nova esperança, e a cada esperança, um novo retrato de vida para o homem. Não há o que temer, somos frutos das nossas próprias ações, e uma vez vestindo a farda do caminho reto, deslumbraremos um futuro melhor e mais digno, onde a consciência, poderá se estabelecer com a sua natural magnitude.