DOS RECADOS QUE A VIDA NOS DÁ
Gosto muito de escrever crônicas, e quem me acompanha já percebeu tal fato.
Na verdade, para quem escreve há que se garimpar fatos, focar os olhares, pescar os acontecimentos.
O cronista também é um repórter de plantão.
Os "paparazzi" das letras...
A vida não pára, muito menos o tempo, portanto as crônicas são infinitas.
Deve ser por isso que são designadas de "crônicas", algo sem cura, posto que escrever é algo incurável, mesmo.
Costumo dizer que na verdade, não somos nós , os escritores, que escrevemos a vida.
Nós apenas transcrevemos o que a vida escreve e também nos insere, não apenas nos textos, mas nos contextos.
Às vezes acho que nossa participação é pouca expressiva, e principalmente nas crônicas os escritores são quase 'pontas" da sensibilidade.
Mas o fato é que minha última crônica aqui do recanto, falava dos milagres.
E eu abri este texto em formato de redação para dizer que os milagres também nunca terminam.
Talvez escrever crônicas da vida seja também tentar detectar os recados que a vida nos manda a cada instante, nos meandros dos seu roteiros.
E aquele milagre da vida... continou...
"No dia seguinte , quase pelo mesmo horário, eu voltei àquele lugar"
O cenário, apesar do mesmo, já era outro, pois o sol brilhava alto, elevando a temperatura dos dez para os dezenove graus.
E eles haviam despertado.
A casa ainda bagunçada, quase afundava na grama ainda encharcada.
O pequeno cãozinho bocejava sorrindo com o pelo ainda eriçado pelo frio da madrugada, meio sujo de barro.
Depois de se espreguiçar, o homem havia reacendido o fogareiro para o preparo dum café preto; e eu do meu automóvel, quase pude ouvir a água a borbulhar na chaleira enferrujada,e sentir o igual odor do café lá de casa.
Esticou seus braços lânguidos para elevar a tenda de plástico azul que havia cedido com a chuva da noite.
Dela ainda caiu-lhe por sobre a camiseta, uma enxurrada d'água.
Em poucos minutos reestruturou o lar...e a vida.
Olhei para o entorno, e percebi o recado daquela pequena crônica do dia a dia, encenada à margens do rio Tietê.
Aquele "lar amargo lar", fora elevado bem em frente a uma das maiores lojas de "construção arquitetura e design", aqui de São Paulo.
Talvez uma mera coincidência...ou tão somente a vida poetizando os seus versos...e os seus reversos...para um cronista de plantão".