"MAL x VIOLÊNCIA"

MAL x VIOLÊNCIA

O mal é substantivado pelo ato da maldade e a violência qualifica a agressividade. O mal subsiste em todos nós em menor ou maior grau. Surpreendemo-nos com a maldade porque poderíamos estar praticando essa ignomia com outro igual, da mesma classe. Ficamos alheios quando não ocorre na nossa esfera, no nosso convívio. Paradigmas de comportamento maldoso e violento a mitologia nos revela de há muito. Tântalo esquartejou seu filho Pélope e serviu-o no banquete preparado para os deuses. Motivo fútil e torpe levou-o a cometer tal violência. Mas, se buscarmos a origem desse pavoroso acontecimento veremos que “pais violentos têm filhos que, por sua vez, tornam-se violentos com seus próprios filhos”. Herança psicológica é um ingrediente substancial que compõe essa macabra receita. O caso da menina Isabella Nardoni sob investigação assusta-nos pelo requinte de atrocidade com que foi cometido o assassinato. Em que condições um ser humano comete tal crueldade? Será um sóciopata, um psicopata ou uma besta que pratica esse sórdido episódio. Estudiosos do comportamento identificam nas relações interpessoais um certo ethos masculino pelo poder, notadamente na família. O assédio moral é uma forma de perversidade. A patologia estuda a densidade de todas as discrepâncias éticas e morais do relacionamento levando a considerações discutíveis a cada ocorrência. Dos nossos escuros porões da identidade podemos num átimo ter atitudes jamais imaginadas. Lá recalcado no imo do nosso ser sentimentos obscuros sedimentados pela vivencia coloca-nos como protagonistas a qualquer momento de uma atitude mais indigna. Quem poderá assegurar que isto não acontecerá? “O mal e a maldade existem, pois, na sociedade, viabilizados por indivíduos perversos que encontrarão sua redenção ou justificação numa história de vida que os fez também alvo da maldade dos outros. Uma cadeia infernal e interminável de negados”. O maniqueísmo presente em todos os espaços institucionais da atividade social gera combate, disputas que objetivam o poder. E através deste perpetram aqueles que devem ser eliminados. “A estratégia do poder baseada no exercício da violência psicológica é um processo que começa com uma fase de sedução perversa e que avança a outra de violência manifesta. Sedução, enredamento e controle, ou atração, desestabilização e submissão, são as estratégias violentas empregadas pelos predadores para poder destruir finalmente o outro. O prazer do predador é o sofrimento do outro; mas esse outro deve estar à altura, isto é, deve resistir tanto quanto responder às provocações do perverso. A resposta violenta da vítima o enche de regozijo, permite o espelhamento de sua própria maldade”. Segundo Daniel Delouya o “mal está por toda a parte, nos o sabemos e, com exceção de poucas outras coisas, só se fala dele. Nada mais cativante do que o mal presente no diálogo diário, da fofoca e no que se assiste e se procura nos meios de comunicação. Todo interdito, portanto mal, implica o desejo, notava Freud. Os grandes prazeres do corpo – comer, beber, evacuar, transar – não seriam prazeres se não fizessem mal, derivassem do mal ou contivessem certa maldade: a maçã sem a serpente não tem graça”. Interessante, na definição da Organização Mundial de Saúde, a violência é considerada uma patologia social, entendida como “a imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis. Já Gilberto Velho, por sua vez, conceitua ”Violência não se limita ao uso da força física, mas a possibilidade ou ameaça de usá-la”. Estudos antropo-sociológicos perambulam por todos os descaminhos consagrados pela ética, pela moral e pela religião, mas não podemos e não devemos nos deixar dominar por surtos mesquinhos.

paulo costa

abril/2008

paulo costa
Enviado por paulo costa em 01/05/2008
Código do texto: T969710
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