Camdomblé é tema de debate na Faculdade Social
“Candomblé não é só azeite e macumba” (Jaime Sodré, historiador)
Mídia e Cultura Africana foi o tema debatido no Café com Prosa, que aconteceu na noite de quinta-feira (27) na Faculdade Social da Bahia.
Religião e cultura afro-baiana é um assunto recorrente nos jornais de Salvador, notadamente nos períodos de alta estação do turismo, durante os meses de novembro a março. Esta é a constatação que fez o jornalista Bruno Mansur em seu trabalho de conclusão de curso. No entanto, a quantidade de matérias publicadas não corresponde a boa qualidade de informação nem textos aprofundados. Muitas matérias associam o candomblé a manifestações folclóricas e sincréticas, em detrimento de uma visão mais abrangente. O desconhecimento dos jornalistas acerca da cultura e da religião africana proporciona gafes, erro na grafia de palavras da língua yorubá, além de reproduzir preconceitos.
O historiador Jaime Sodré afirmou que este é um problema tradicional, e completou que “o candomblé não é somente azeite e macumba”. “A realidade do candomblé é o respeito aos laços sociais e à hierarquia, solidariedade, estudo das tradições”. Mas não é esta a imagem que aparece na imprensa, infelizmente. “Não vamos ‘demonizar’ a mídia”, disse o historiador, “pois temos exemplos de bons jornalistas que estudam, pesquisam e publicam matérias aprofundadas”.
O trabalho de um repórter na cobertura de eventos precisa ser de muita paciência, dedicação e respeito às fontes, é o que pensa a jornalista Agnes Marinho. Para ela, a “fala” é da fonte e não do entrevistador. Assim, é necessário que se reproduza com fidelidade o que foi dito, respeitando limites éticos e morais. Em se tratando da religião afro-baiana, há segredos que não podem ser revelados ou descritos. Mesmo que o repórter tenha acesso privilegiado, por ser fiel da religião ou por outras motivações, deve manter sigilo sobre o que teve acesso.
Quando um repórter entrevista sempre as mesmas pessoas, não contextualiza sua matéria e escreve orientado pelo senso comum, pode cometer mais deslizes e gafes do que outro jornalista que se debruça sobre livros, se informa mais. Saem ganhando o jornalismo e a cultura, beneficiando a sociedade e prestando um serviço de qualidade.