Mudança para a Felicidade
Numa quinta-feira, ela acordou apática, preguiçosa e sonolenta; mal sabia o que esse dia lhe escondia. Ficou alguns minutos rolando de um lado para o outro em sua cama, como se fosse uma criança. Desastrada desde pequena, ela deixou cair o relógio despertador; e foi acordada obrigatoriamente pelo barulho ensurdecedor Depois de despertada, ela foi muito apressada, mesmo com a cabeça meio zureta de tanto sono. Fez tudo de qualquer maneira, escovou seus dentes, lavou-se, vestiu-se, e pronto; e lá estava ela, nova em folha.
A moça deu alguns passos em falso, mas finalmente saiu de casa. Deu um sorriso entre os dentes para o Jimmes, seu jardineiro, e parou em seu amigo matutino e diário: o ponto de ônibus. Quando já estava dentro sua condução para mais um dia de trabalho, sua vista simplesmente ficou turva e logo em seguida se apagou, tornando tudo ao seu redor uma grande imensidão negra. Ela de fato havia perdido todos os sentidos, e ao perceber isso entrou em pânico. E a todo o momento se perguntava (mentalmente), onde estava e porque não sentia nada. Tudo se encontrava da mesma maneira por mais ou menos três horas, e o nervosismo da moça só aumentava.
- Por que isso foi acontecer? Será que estou morta e não sei? Não pensei que morrer fosse tão ruim. Gritava sem rumo e atordoada.
Horas e horas se passaram; e quando já havia perdido as esperanças, ela volta ao seu estado normal. Voltou tudo como deveria ter ficado. Ela se encontrava na cama e tudo ocorreu novamente. Como se fosse uma desagradável e indigesta reprise. O relógio caiu, o jardineiro sorriu e por mais engraçado que pareça, a cara amassada dela era igual. E para o seu desgosto, exatamente no mesmo tempo, ela voltou para o quarto e ocorreu tudo novamente.
Talvez se ela fizesse tudo com mais prazer, com mais gosto; poderia ser diferente. Ela repetiu o processo dezenas de vezes, e por luz divina ou sei lá o que; um belo dia ela resolveu ser feliz e agradecer mais tudo o que ocorria em seu fechado mundo.
Dessa vez ela acordou bem humorada, disposta e de bem com tudo e todos ao seu redor. Deu um belo sorriso acompanhado de um amigável aperto de mão no jardineiro. Foi cantarolando pela rua, e pela primeira vez deixou de ser chata e decidiu ir de táxi; e por incrível que pareça: deu uma boa gorjeta para o senhor que a levou até o trabalho. Ela resolveu trocar de nome, mudar de vida, “vestir uma capa”, ampliar os pensamentos.
Na hora exata em que ocorreu todo o sinistro do desaparecimento dos seus sentidos, nada aconteceu. Chegou em casa aliviada, e mesmo assim não entendeu porque tudo foi diferente. Deu uma boa olhada em sua casa e teve uma idéia um tanto quanto maluca. Como ela já havia trocado de nome por intermédio de uma reflexão, escreveu o seu nome antigo nas paredes da sua casa, em imensos garranchos, todos eles borrados e de difícil compreensão. Dentro da casa ela decidiu escrever seu novo nome, em letras singelas, femininas, num tom totalmente inspirador. Após tudo terminado, já era noite; ela debruçou na janela e gritou:
- Meu nome? Meu nome era Infelicidade! Sentidos? Eu não deveria realmente possuir... Agora sou um sentimento de verdade. Sirvo para alimentar as esperanças das pessoas, colocar um belo sorriso no rosto de quem está triste, beijar o céu, cantar pras nuvens... Meu nome é Felicidade!
Ela se propagou, tudo tomou uma nova cor e forma. Sorrisos surgiram de bocas tristes, abraços foram dados por muitos de forma pró-ativa, ouvia-se gente cantando e o seu mundo era mais feliz.