Não existe razão para ser mais feliz do que triste...
Deveria haver um meio termo. Mas o equilíbrio perfeito só existe nos nossos sonhos. Somos irregulares por natureza. Espelhamos sua agonia em forma de vida. De um caminho misterioso que surgiu há muito tempo e continua se perpetuando sem um significado que o justifique. Não mais que forças, energias e sensações aprisionadas... E um desejo de existir que pode ser passado adiante, como uma promessa sem verdadeira explicação... E que acaba abruptamente. É por isso que não existe razão para ser mais feliz do que triste. E sim! Existem muitas ilusões que podemos adotar para fingir que não está acontecendo. Que o tempo continua passando inexoravelmente. Que o sentido continua a ser um artifício que inventamos e acreditamos. Que é a pluralidade de uma mesma fé cega. De que um dia, e será o último, tudo fará sentido. E a lógica que consideramos estreita demais para os nossos sentimentos se revelará completamente oposta ao que nossos corpos vivem a todo momento. E não haverá mais razão para sermos mais tristes que felizes. Que existe uma saída para esse caminho. Que será como deitar embaixo de um arco-íris belíssimo e nunca mais saber o que é o sofrimento. Essa dor, esse incômodo perene de existir. Como nos acostumamos a sentir. Que é como descansar e não ser apenas uma metáfora reconfortante. Que existe um "para sempre" depois e não um "nunca mais". E que tudo não é tão pouco e tão rápido como sentimos. Que os nossos sentidos nos enganam desde os nossos primeiros passos nessa terra. De que existe uma única razão e nos mostrará que tudo valeu a pena. Porque muitos precisam pensar que o que se faz não tem valor em si mesmo. Que o valor está sempre à frente. Que o perseguimos e nunca conseguimos alcançá-lo. Seguindo os nossos instintos mais básicos, racionalizados por nossas inteligências complexas. E que toda esta complexidade só serve para saber que tudo acaba e nada faz sentido.
E que muitos acham um grande absurdo. Na verdade, acho que até o mais cinzento dos realistas. E que, no fim, o máximo que fazemos nada mais é do que nos distrairmos em relação ao que não temos controle. Nos entretendo com as nossas próprias vontades. Lutando ou se esquivando desta tristeza impregnante. Mentindo para si próprios, do fundo do coração. Porque são poucos os que não conseguem sair de suas próprias mentiras. Se talvez não tenha como sair de seu próprio mundo. E que alguns mundos humanos estão mais alinhados com o mundo de fora. Ou menos paralelos. Talvez um defeito da mente, uma mutação que abre mais os olhos, que sensibiliza mais a pele, que reflete mais o que é alheio e impessoal, o mais ilógico à vida, tão profunda em si mesma. E nasce um cientista ou um melancólico destino. E que a única diferença é uma linha tênue entre a verdade e a mentira. Tudo muito mais simples do que imaginamos, do que queremos. Que qualquer vitória ou progresso não é exatamente como uma pequena sombra em meio à imensidão de um universo tão absoluto... Não há nada nosso que consiga ter um mísero pingo de relevância nesse oceano tão turvo...Porque somos tão temporários, tão diminutos...
Ainda assim, e apesar de tudo, ainda estamos aqui, que você ainda me lê ou me escuta com as minhas palavras. Ainda assim, também existem muitos motivos para ser feliz.