Morrer de amor, balançar...Plantar sonhos...
Morrer de amor, balançar...Plantar sonhos...
Finais...recomeços nos fazem refletir... Reportar-nos aos tempos idos,
e o quantos estes foram determinantes em nossas escolhas...
Datas comemorativas, encontros e desencontros familiares levam-me
a reflexão recorrente de quanto fui e sou privilegiada nesta existência.
Já ao nascer encontrei-me entre pessoas que cultivaram e, mantiveram escolhas que me influenciaram na busca dum viver prazeroso em contato com as forças da natureza; Meu querido e, já falecido pai mostrou-me seu “universo”, sua maneira de ver e deixar-se afetar pelo meio que o circundava e,indo em busca de outras fontes de reabastecimento energético.
Inspirou-me a venerar a natureza,a ouvir e amar o canto dos pássaros,
estimulou-me a coragem de nas águas banhar-me,o prazer dos pés
descalços na relva, do valor de devaneio ou cochilo à sombra de uma
frondosa árvore.
Costumava procurar as Figueiras, espécie que possui significados especiais aos budistas; imortalidade e conhecimento superior. Não creio que meu pai tivesse tomado contato com a cultura oriental para saber deste significado...
Coincidência eu ter-me encantado pelo pensamento Oriental. Por sua simpatia á espécie plantou sua própria Figueira* em nosso terreno, instalando aí um banco de jardim, elegendo este espaço seu local predileto para sesta ,após o almoço, reflexões ao entardecer.; seu local de isolamento voluntário,diria...
Também não sei se ele leu o Poeta Renè Char mas imagens dos versos
deste recordo agora...“...A figueira pediu ao amo do jacente
O arbusto de uma nova fé.Mas o verdelhão, seu profeta,
Na alva quente do seu regresso,Ao pousar sobre o desastre,
Em vez de fome, morreu de amor.”(R. Char-Lied da Figueira )
Sim, escrevia poemas e os dedicou a nossa mãe, sua amada esposa,
um russeauaniano, romântico incurável meu pai, que sorte a nossa!
As coisas simples me proporcionam imensa felicidade.Não posso
deixar de lembrar o quanto a ele devo este aprendizado, exercício
contemplativo que beneficia a mente e o corpo conseqüentemente.
Hoje ergo meu brinde a este mestre que Influenciou muitos jovens a
conduzirem suas vidas de forma libertária ecriativa. Foi um militante
ecologista, um homem com visão e sensibilidade extraordinária.
Ensinou-nos a cultivar nosso jardim.Não frequentei o jardim de infância.
Nossa rua, nossa pátio foi minha pré-escola escola, com árvores em
abundância, balanços e muitos amigos. Se o dia era quente e lindo,
levava-nos a expedições ecológicas, que chamava de piqueniques no
rio. A meninada da vizinhança também, cabia no carro, no barco...
Uma viagem à praia que poderia ser feita em 2 horas, levava uma tarde
inteira de verão, pois ia parando no caminho, se avistássemos algo
interessante parávamos e nova expedição iniciava-se.
No litoral, percorríamos os arredores conhecendo lagoas, recantos de
beleza ímpar. Punha-nos em andanças, admirando a fauna e flora.
Levou-nos a conhecer através do contato direto, culturas diversas em viagens atrás de especiarias, de um apicultor, por exemplo,
em busca de um MEL especial, com o qual nos cuidaria no inverno;
À busca de conhecer os vinhos explorávamos a Serra Gaúcha, aproveitando para fazer novas amizades.
Talvez, tenha marcado-me demasiadamente este modo de aprendizagem ; experimentação, degustação ...Tais são alguns de meus devaneios à sombra do Jacarandá Mimoso**, balançando-me na rede, que prefiro ao banco de jardim , já que não estou pronta para morrer de amor ...
Ainda não plantei minha figueira ! ...
“ navegar é preciso...”
Notas – 1-O terreno foi vendido, mas a Figueira ainda vive graças a secretaria do meio ambiente ter proibido que a “assassinassem” em prol do progresso ...
2- texto ref ao Jacarandá Mimoso Jacarandeira - no Recanto das Letras http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=15133
Virgínia Fulber, Novo Hamburgo -RS, 22 JAN 2008