O “bem” direcionando as ações humanas
Desde crianças, somos ensinados a pensar que existem vilões e mocinhos, criminosos e policiais, e que as pessoas agem direcionadas por seus desejos intrínsecos de serem boas ou más. Entretanto, crescemos e nos deparamos com nossos pais, professores e ídolos tomando atitudes que não condizem com o que é correto, obrigando-nos a refletir sobre o suposto maniqueísmo que existe no mundo. Não apenas no âmbito individual de nossas vidas privadas, mas também problemas estruturais da sociedade são colocados em questionamento — como a desigualdade no mundo, o antissemitismo e o apartheid. Resta, então, a reflexão: apenas boas atitudes são suficientes para solucionar fenômenos sociais?
Primeiramente, é válido retomar os clássicos da filosofia para contemplar o que é o bem. Para Santo Agostinho, o bem era a presença do ser e, em máxima, a presença de Deus; enquanto o mal é a sua ausência e tem origem no livre-arbítrio do homem e na sua capacidade de raciocinar. Essa visão cristianizada submete o homem a uma valoração moral de como agir, demonizando, por exemplo, a liberdade sexual e de gênero, bem como a escolha de outras religiões. Tal perspectiva influenciou anos de Idade Média, condenando e matando aqueles que não viviam de acordo com o que era tido como socialmente normal.
Em contrapartida, Sartre, filósofo existencialista francês, condicionava a existência do homem à sua liberdade, indicando que cada pessoa poderia escolher seu próprio propósito de vida. A partir dessa visão, o bem não necessariamente está atrelado à razão inicial de existência do ser e, como consequência, o contexto social em que estamos inseridos é determinante para a nossa tomada de consciência. Assim, emerge a ideia da importância da educação e de boas condições de vida para a formação do indivíduo, tornando-o capaz de pensar no coletivo e de agir bem. Como exemplo, Nelson Mandela foi ativista pelos direitos humanos e o primeiro presidente negro democraticamente eleito da África do Sul. Mandela pôde frequentar a escola, formou-se em Direito e se conscientizou sobre o regime segregacionista de onde morava, tendo como cerne a ideia de que “para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”.
Portanto, conclui-se que boas atitudes, de forma isolada, não são suficientes para solucionar as mazelas sociais, mas podem, certamente, ser incentivadoras de mudanças pertinentes. A máxima popular “o que se planta, se colhe” nem sempre é observada, como no caso de Mandela, que, mesmo tendo ideais genuinamente bons para o seu país, passou vinte e sete anos injustamente na prisão — e nem por isso desistiu da luta. Por fim, julgo pertinente uma frase do texto “O Menestrel”, que dita: “heróis são pessoas que fizeram o que precisavam fazer, enfrentando as consequências”.