VENDO A PRAIA DA JANELA
Eu realmente não gosto de escrever sobre as mazelas de nosso país. Prefiro assuntos mais amenos. Porém há fatos que chateiam, incomodam ou que nos deixam preocupados ou envergonhados. Meu irmão, Odilon, esteve recentemente em Natal, Rio Grande Norte. Hospedou-se em bom hotel, de frente para o mar, em praia famosa. Chegou ao cair da tarde e após o jantar decidiu dar um pequeno passeio nas proximidades do hotel, nada mais do que atravessar a rua e fazer curta caminhada na calçada, junto ao mar. Ao chegar à porta do hotel, foi interpelado por um segurança que lhe perguntou se pretendia sair a pé naquela hora. Ele respondeu afirmativamente. Ao que o funcionário aconselhou-o a não fazê-lo por ser muito perigoso, principalmente à noite. “Há muitos assaltos por aqui, completou.” Infelizmente, ele teve que dar meia volta e recolher-se ao aposento, contentando-se em ver o mar da janela.
Meu companheiro é de São Luis - Maranhão. Há tempos que não visitávamos sua família e, em setembro último, viajamos para lá. Nos hospedamos em excelente hotel, bem localizado, a cerca de 200 m do mar, na Ponta D'Areia. Praia linda, badalada, mas não pudemos ir a pé até lá. Na recepção do hotel nos aconselharam a não fazê-lo, pelos mesmos motivos do outro episódio. Isso nos entristeceu. Fomos à praia de carro, com parentes, e ficamos somente em lugares com mais pessoas, protegidos pelos toldos de um quiosque ou sob o teto de um restaurante. Neca de colocar os pés na água.
Não quero dizer que isso só acontece no Brasil, mas nem sempre foi assim.
Eu mesma tive experiência parecida em outro país. Certa ocasião, em Washington DC, USA, fiquei com dois parentes hospedada em pequeno hotel, muito simpático e aconchegante, na Massachussets Ave. Era de propriedade de um moço chamado Ralph, que nos disse manter o hotel para pagar sua Faculdade de Medicina. Ele atendia a recepção, passava aspirador e removia a neve da calçada e da escada. Não tinha funcionários, tomava conta, ele mesmo, de todo o serviço. Não servia café da manhã, como a maioria dos hotéis nos EUA. Este tomávamos no quarto, comendo e bebendo o que comprávamos nas groceries da redondeza. Havia um forno de microondas no aposento, onde aquecíamos sopas de miojo e outros alimentos. Fora isso, tomávamos sucos de caixinha que não precisavam de refrigeração, pois estávamos no inverno, com baixas temperaturas e neve.
Ralph nos aconselhou a não ultrapassarmos certos limites do bairro, pois podíamos correr riscos, entrando em ruas onde imperavam o tráfico e o crime. Então, a violência não é exclusividade nossa. Se é uma realidade até na capital americana...
Mas é lastimável que não possamos nem caminhar junto às nossas belas praias.