Artistas da Palavra lutam por espaço e valorização nos eventos literários

"Oh! Bendito o que semeia

Livros... livros à mão cheia...

E manda o povo pensar!

O livro, caindo n'alma

É germe – que faz a palma,

É chuva – que faz o mar!"

(Fragmento de Espumas Flutuantes - Castro Alves)

 

Os eventos literários da Bahia, historicamente voltados a escritores consagrados, estão em transformação. Antes restritos ao "mais do mesmo", com foco nos autores estabelecidos, agora começam a abrir espaço para vozes periféricas, artistas independentes e novos formatos. Essa luta vem de longe, e um dos capítulos foi encabeçada por grupos como o Fala Escritor e a União Baiana de Escritores (UBESC), culminando em conquistas para a inclusão de editoras independentes na Bienal do Livro da Bahia de 2013, durante a gestão de Ubiratan Castro, que garantiu um estande gratuito para esses coletivos.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Valdeck Almeida no lançamento do livro "Abre a Boca, Calabar", em 2013. Arquivo pessoal

 

Durante a gestão de Valdeck Almeida de Jesus como presidente do Primeiro Colegiado Setorial de Literatura (2012-2014), se consolidou outro marco: o termo “escritores baianos” foi substituído por “Artistas da Palavra” na construção do Plano Setorial de Literatura, ampliando o conceito para incluir contadores de histórias, performers, mediadores, pesquisadores etc.  

 

Atualmente, o movimento luta por políticas de valorização financeira. A reivindicação por cachês nos eventos literários, seja em feiras municipais ou nacionais, ganhou força com um abaixo-assinado que gerou um processo na Secretaria de Cultura da Bahia (Secult-BA): 022.2247.2024.0008383-05. Rita%20Pinheiro%20_Foto.jpg

 

Para Rita Pinheiro, a Garimpeira da Cultura, recentemente eleita para o período 2024/2027 ao Conselho Estadual de Cultura da Bahia - CEC, detona "É inadmissível o 'sucateamento literário' dos autores independentes nas feiras literárias." E ainda dispara: "O tratamento diferenciado entre os participantes nas feiras literárias é visível; o não pagamento de cachês pelos organizadores tem sido uma prática que não pode ser compreensível diante dos projetos serem contemplados em editais e terem na maioria das vezes apoio da prefeitura local e/ou patrocinadores."

 

 

A escritora Anajara Tavares, autora de Unguento e participações em várias antologias e produções culturais na Bahia, questiona: "Como manter a produção artística sem as mínimas condições de existência?"

 

Anajara%20Tavares%20-%20escritora%20e%20poeta.jpegAnajara afirma que é indispensável que olhem para os autores independentes com o mínimo de respeito, reconhecendo que é um capital intelectual que está sendo circulado nas feiras, e que capital intelectual não se paga com 'muito obrigado', vitrine ou possibilidades futuras. Para a escritora “o investimento na produção de um autor independente não pode ser feito apenas por ele próprio. "Se a literatura deste autor está a contribuir para o cenário literário, é no mínimo desrespeitoso que não lhe garantam nada de subsídio à manutenção de seu trabalho." Sobre visibilidade em eventos, Anajara se queixa: "vitrine não paga transporte, não paga alimentação e não possibilita o mínimo para a continuidade de um trabalho intelectual."

 

Já Oxossi de La Rua (foto do título da matéria), também conhecido como KN, o poeta Ítalo Andrade Guimarães, opina que é importante que se pague cachê para autores independentes em eventos literários porque "É para nossa sustentabilidade, é saúde mental e valorização". E faz uma chamada aos escritores que façam a crítica da estrutura vigente para que haja sua transformação e para torná-la mais igual, justa e igualitária.

 

A demanda por inclusão dialoga diretamente com a Lei 12.244/2010, que prevê bibliotecas em todas as escolas do país, e com o Plano Nacional de Cultura (Lei 12.343/2010), que destaca a democratização do acesso à leitura. Além disso, iniciativas como a Política Nacional de Leitura e Escrita (Lei 13.696/2018) reforçam o direito à literatura, reconhecendo a leitura como essencial para o desenvolvimento cultural.

  

A mobilização dos Artistas da Palavra expõe a necessidade de maior reconhecimento e investimento na diversidade cultural, ressaltando que a democratização do acesso à literatura passa, também, pela justa valorização de seus protagonistas.

Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 04/12/2024
Reeditado em 04/12/2024
Código do texto: T8211712
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