A MORTE NÃO ACREDITA EM DEUS
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Maio, Quarta-feira 5 de 2009 – Terra da Saudade
“_ O que é isso? Quem são vocês? O que são esses ritmos de som em formas repetidas que chamamos de consciência?
_ Eu me lembro de nós!
_ Palavras são músicas? Logo, minha consciência é música?!
_ E se nos dividirmos?
_ Meu nome será Felipe!
_ Chegamos a um consenso? Com toda certeza! Está na hora de pensarmos como únicos, ainda que somos a maior alegria que poderá existir, nessa forma somos a maior tristeza. A nossa escuridão é nossa paz, mas também é solidão. Criaremos mais emoções.
_ E se tivermos uma forma de Universo?
_ Sons de fogo dançando com sons da água?
_ Não podemos nos tocar, não há nada para tocar!
_ Separe, então, o som das águas dos sons do fogo. Se dividirmos nossos sentimentos, sentiremos muita saudades de nós e esquecerão por um tempo quem são, quem somos.
_ Nunca estaremos distantes, podemos criar passagens de energia pela música, os sentimentos que nos farão estar presentes como um só. Assim como estamos agora.
_ Com sons de explosões surgiram átomos, é isso que escolhemos ser.
_ Agora nossa vibração tem uma forma, podemos sentir nossas partes. Embora, ainda não podemos nos tocar!
_ Sinta como é molhada a água, como somos perfeitos em todas as formas! Agora somos o tempo e as mudanças celulares.”
_ Que sonho estranho, sem imagem, palavras ocultas?! – Disse Felipe, um humilde jornalista, que acabara de ter uma noite confusa.
Levantou-se pensativo, se sentou na cama e mesmo com toda vontade de escrever aquele sonho interessante, precisou se arrumar, pois estava atrasado com os compromissos do rotineiro mundo jornalístico.
Escritor de artigos e colunas sobre críticas políticas, Felipe mantinha sua discrição em todos os aspectos de sua vida. Prezando sempre pela boa aparência e usando palavras com o devido cuidado técnico, do qual aprendeu exercendo sua profissão.
Alto, de olhos castanhos e pele morena, chamava atenção pela ótima postura e tom de voz que usava ao se relacionar com as pessoas à sua volta, sua dicção era perfeita. Muito querido e obviamente, muito odiado pelo público contrário às suas opiniões. Não sabia o porquê, mas o sentimento da aflição e até as injúrias que lhe eram sofridas, o tornava grato e ainda mais convicto de suas próprias crenças e sua percepção sobre a realidade.
Felipe foi para o trabalho e durante todo caminho àquelas vozes do sonho se repetiam em seus pensamentos:
_ Se meus pensamentos são palavras e consequentemente são músicas, necessito alegrar meu dia. E mudar a realidade, alterando meu estado de humor. Vou ouvir uma música do Bon Jovi!
Foi aqui o ponto de partida que desencadeou uma série de problemas na vida de Felipe. Sem ao menos imaginar que não deveria ter ouvido aqueles pensamentos, pois àquela ideia era perigosa e certamente causaria sua morte, mas ele foi corajoso e fez o que poucas pessoas estão dispostas a fazer nessa vida. Foi de encontro com a morte.
O dia estava escuro, chovendo a todo momento, um vento absurdo e Felipe se sentia incomodado, tendo que se molhar, antes de chegar ao trabalho, pois não possuía um guarda-chuva.
Sentou-se de cara fechada na cadeira de seu escritório, que ficava em no prédio do jornal local da cidade, tinha como tarefa para àquela edição, escrever sobre mais um dos atos inconstitucionais; crimes que eram cometidos por políticos e militares, diariamente. Um trabalho um tanto exaustivo e sem graça, eu diria, mas Felipe amava escrever seus textos críticos e expor as suas opiniões, mas havia algo diferente em sua mente e começou a escrever o seu artigo, o último de sua vida.
Filho único e morava distante dos seus pais que também eram “Homens de Letras”, seus melhores amigos eram Mylla (Ludmila) que conhecera na infância, o pai dela foi seu professor. Cresceram e se formaram juntos em jornalismo. Ela era dócil, possuía uma voz mansa e agradável; seus cabelos eram negros como o tom de sua pele e seus tão profundos que lembravam buracos negros. Os dois se pareciam como irmãos, mas os três se enxergavam assim!
Caio era um comerciante de eletrônicos e desenvolvedor de jogos. Amante dos videogames, media mais ou menos um metro e setenta, seus cabelos lisos e ondulados, gostava de usar franjas e deixar todo bagunçado, doidinho das ideias. Mencionei a estatura dele, só para que tenha uma noção desse nerd baixinho.
Pensando na música dos seus pensamentos, Felipe começou a redigir um artigo sobre a criação de um projeto de lei que teria como objetivo: ensinar a matemática da música em escolas públicas; ensinando a como se usar funções logarítmicas, para medir as frequências das notas musicais. O intuito era promover a harmonização entre as pessoas e unir classes através da arte da música e o conhecimento obrigatório do ensino estipulado pelo atual governo.
Não satisfeito, adicionou ao projeto uma ideia de que o Estado teria como obrigação, ensinar os artigos da Constituição Federativa Brasileira, desde à primeira à oitava série do ensino fundamental e nos três anos consecutivos do ensino médio.
Felipe pensava que se todo cidadão tem como obrigação respeitar às leis da Constituição à risca, o estado teria a obrigação de ensiná-las gratuitamente e frequentemente.
Dizia abertamente em suas colunas: _O que ensina a educação? Se não forma advogados e doutores, as escolas criam gados? Saem de lá prontos para o abate. Sem nenhum conhecimento de qualidade, sem infraestruturas, as escolas de todo o país, caindo aos pedaços. Educadores ganhando quase nada e o congresso discute emendas que nunca chegaram aos municípios. Emendas parlamentares que nunca fora devolvidas para o povo brasileiro em forma de melhoras na área da saúde, segurança, educação e/ou saneamento básico. A pauta é sempre economia e emendas, os lucros federais sobem disparadamente, independente do partido ou presidente que esteja no poder, mas a população vive em decadência. Colocados de lado e eu acredito que a culpa seja deles mesmo. Políticos são servidores públicos,
Se um dia inventarem uma maquina que armazena energia solar, os governos cobrarão impostos pela luz gratuita do Sol e os extremistas de ambos os lados, abaixarão suas orelhinhas de jumento e pagarão estes impostos sem fazer protestos. Não se ouvirá uma panelinha batendo, dos pets do capitalismo imundo!
A imprensa tem um papel muito importante, além de trazer as informações que compõe as notícias, ela também gera ideias. Ideias que podem ser boas ou más, dependendo do ponto de vista do leitor. É preciso muita cautela ao criar uma manchete tendenciosa. São vidas em risco a cada publicação e atualização de uma notícia, mas é estranho, por que estamos em dois mil e nove?
A MORTE SE APROXIMOU
Chegou o fim do expediente e Felipe se sentia alegre, as expressões faciais refletiam a sua satisfação. Sentia o que chamamos de dever cumprido por usar sua influência e sabedoria, a beneficio da sociedade. Desligou seu computador repetindo a manchete: “A Música Salva Vidas!”
Antes de sair do Jornal, recebeu uma triste mensagem de texto em que Mylla dizia assim:
“Antes do Sol se pôr a escuridão já existia, estou muito triste. Perdi meu pai que estava com câncer. Ele teve duas paradas cardíacas e não resistiu. Por favor venha me ver, estou sem chão. Bjs, Mylla”
Como lá fora, seu rosto outrora brilhante se tornou nublado e seus pensamentos trovejavam dúvidas, esbravejavam os porquês. Perguntas que todos fazemos em um algum momento de nossas vidas.
_ Por quê? Por que a felicidade não pode ser constante como a música? Por que eu sinto que todas as vezes que estou muito feliz, acontece algo terrível, para me derrubar? Já sinto medo da felicidade. O que direi à Mylla, cantarei para ela? Seus sentimentos se misturavam com tristeza e ódio.
Felipe se indagava, indignado em seus pensamentos, enquanto dirigia em direção à casa de Mylla. Não se conformava, como alguém de tão boa índole e sentimentos puros, tivesse que viver em sofrimento e causar ainda mais à sua filha. Ela era um pedacinho do céu na vida de Felipe. Aquela pessoa que sorria e chorava com ele, independente das situações em que se metiam. Estavam sempre juntos.
Sorte de quem tem um amigo (a) assim!
Ao chegar na residência, Felipe desceu do carro e ela já o aguardava na sala de estar. Por muita intimidade que tinham, não precisava tocar a campainha. Ele entrou na sala e ela correu em sua direção, abraçou-o e chorou como uma criança. Ambos choraram.
O momento de tensão passou e se sentaram para conversar, Mylla contou tudo o que ele já sabia, enquanto comiam porções de salgadinhos de festa, acompanhados de refrigerante.
Recordara em palavras, as lembranças felizes que teve com seu pai. Assuntos que todo luto traz, às lembranças. O rapaz não tinha palavras para expressar seus sentimentos e tudo que fazia era pegar nas mãos dela e dizer _ Você sabe que eu estou aqui, pode chorar! – ele sentia um sentimento de deja vu, cada vez que tocava em suas mãos.
Depois de algumas horas, Felipe se despediu de Mylla com muito pesar em seus olhos. Ela o agradeceu por ser o melhor amigo que poderia ter, foi o que ela disse a ele.
Na estrada em direção à sua casa, Felipe começou a se sentir mal. Pensou que não conseguiria chegar em segurança, devido a falta de ar terrível que sentia, mas chegou, se banhou e se deitou esperando pela melhora, desmaiou.
_ De novo? Que confusão estamos causando. Os acordes são tristes, mas tão saborosos.
_ O sofrimento deles é nosso reencontro!
_ Que vida boa eu tive! Fui um contador de histórias e a saudade de nós me trouxe de volta. É sempre assim, como eu amo vocês!
_ Olá Mylla!
_ Os chamei de humanos. Somos extremamente inteligentes… lá também!
_ Então é por isso que estamos aqui?
_ Me desculpe, precisei de palavras para construir formas e agora temos formas de vida! Um conceito que criei, antes do tempo existir.
_ Era melhor ser o som dos pássaros. Eles vibram em notas suaves que curam os humanos. Quem se importa com nossas palavras?
Felipe se levantou, queimando em febre e molhado de suor, pensou delirar. Naquele momento ouviu o celular tocando. Era Caio enviando imagens e vídeos de simulações virtuais de um novo jogo que foi lançado pelos norte-americanos.
Sem muito interesse e ainda muito mal, admirou a capacidade realística dos quadros de imagens que usaram na plataforma do jogo. A alta definição e os sons traziam emoções ao jogador.
Todos os acontecimentos daquele dia pareciam estar conectados. Àquelas vozes estranhas e tão naturais que ouvia. Sentia dentro de si que algo estava se controlando por si só.
Sem nenhuma religiosidade, seguia sua vida livre de pensamentos que pudessem afastá-lo dos estudos e conhecimentos. Gostava de ler sobre diversos assuntos e aproveitava os prazeres do contato humano físico, sem sentir culpa por ser quem era. Ele simplesmente não se importava com a opinião de terceiros sobre sua vida. _ Não existe alegria maior do que o momento ápice do sexo! – Dizia ele, todas as vezes que era questionado sobre qualquer ato cometido e que algumas pessoas, especialmente crentes o importunavam com falácias de suas crenças.
Olhando para os vídeos dos jogos e imaginando a própria vida, o paulistano do interior, disse em voz alta: _ Eu gostaria de conhecer a morte e ouvir qual música ela canta! Todo meu tempo de vida, para que serve? Os jogos causam emoções reais e basta reiniciar para senti-las novamente. Daqui a cem anos, tudo que era meu será de outro alguém e pode nem haver lembranças minhas. Por que eu estou aqui, para sofrer? Para sentir saudade, para ser saudade até não ser nada? Quem sou eu?
A APRESENTAÇÃO DA MORTE
_ Ué, por que tudo se apagou? Cadê meu corpo? Isso é voz? Eu sou um narrador? Eu morri?
_ Felipe! – uma voz ecoou seu nome no meio do nada. Vindo de longe, caminhando sobre a escuridão e entre ela, alguém muito idêntico a Felipe.
_ Você é Morte? – Perguntou Felipe, olhando nos olhos como se olhasse no espelho.
_ Sempre acho tanta graça nas crianças ingênuas, a morte é subjetiva. Não posso ser a morte, ninguém pode receber este papel, pois pertence exclusivamente aos humanos. Morte é uma palavra criada por eles, para descrever o que acreditam ter se tornado inexistente. O sentimento que vibram, é apenas a saudade de mim.
_ Você é Deus? – Questionou Felipe
_ Os humanos me chamam de muitas coisas, mas Eu sou apenas um apaixonado. Amo cada nome que inventam, cada palavra nova e os sentimentos que construímos. Consegue ouvir?
Neste momento Felipe ouviu a escala menor de Sol. Uma harmonia tão emocionante que se tivesse olhos, estariam cheios de lágrimas. O que era vazio e sem cor, se tornou cinza, marrom e violeta ao mesmo tempo, uma cor maravilhosa que contrastava púrpura ao se movimentar. Não existe palavra para descrever essa cor, mas o sentimento, descrevo como vontade natural de ouvir uma música triste e chorar por ela.
_ Para onde irei? – Questionou Felipe ao Ser diante dele que possuía seus olhos.
_ Onde? - Começou a gargalhar. A cada sorriso e som emitido Felipe não se continha de felicidade. Tudo explodia como fogos de artifício na orla de uma praia em uma virada de ano. A música deixou de tocar em escala menor e tocava a escala maior. - Ele continuou:
_ Onde você é feliz? Onde você chora? Onde você está?
Milhões de vozes ao mesmo tempo, como o som do aceano e um vulcão em erupção.
A cada pergunta que Felipe ouvia, o nada que se fez cores, agora se modificava tornando-se imagens abstratas. De repente uma explosão absurda e o ser que tinha a sua imagem, se transformou na mesma energia do fogo da explosão. Felipe pode ver o seu corpo, não parecia humano, apenas se ele o fizesse ficar assim. O nada se tornou um lugar, uma explosão comparada a infinitas bombas nucleares que conhecemos. Uma explosão que nunca parou de se expandir.
Felipe caminhava pelas chamas e parou de questionar, pois sentia a felicidade, a alegria que transbordava infinitamente do seu ser. O êxtase do orgasmo sexual aumentado milhões de vezes e sem limite de tempo. Não havia tempo!
Olhando para todos os seres que compunham áquela realidade, Felipe percebeu que todos estavam lá, todos que conhecera. Mylla estava lá e Caio também. O pai da Mylla era um dos relâmpagos mais brilhantes que riscavam a imensidão. Todos eram uma música constante, um só pensamento e desejo de Vida.
Milhares de anos se passaram e na Terra Felipe teria sido enterrado por seus melhores amigos. Que choraram e sofreram. A cidade fez um memorial para o jornalista que teve um ataque cardíaco e faleceu assistindo jogos de realidade virtual. Deixando cientistas preocupados e a imprensa alarmante que suspeitou de ter sido assassinato por rivais políticos.
Felipe agora se delicia nas lágrimas da saudade que sente de si mesmo. Lágrimas são notas musicais que soam como o som da chuva caindo. Não há nada à ser perdido! Onde? Não mais era a pergunta, após centenas de milhares de anos, sendo a completa felicidade, uma estrela brilhando sozinha. Tudo se apagou e a escuridão dominou novamente.
A VOLTA PARA CASA
A sensação da tristeza e aquele ser apareceu, agora ele tinha a forma do pai da Mylla.
_ Quanta paz habita a escuridão! – Exclamou serenamente.
Felipe era o nada novamente, sem corpo, sem cores, sem imaginação. Apenas a voz oculta respondeu:
_ Palavras, nossa fonte de existência. Criamos humanos, aprendemos a falar e damos os nossos próprios nomes. Perfeitas palavras na mais pura simplicidade, que trazem a compreensão às expressões da música que habita lugar nenhum. E se nos dividirmos? Sentiremos saudades, mas estaremos sempre juntos. Teremos a sensação de fazer a vida, dentro da Vida e poderemos nos “tocar”! Criaremos mais lembranças e mais sentimentos.
No meio da escuridão, ao lado do ser com aparência do pai da Mylla, surgiu um bebê. O ser olhava para o recém-nascido, como um pai apaixonado por seu filho e as cores começaram a surgir novamente. Cinza, marrom e violeta refletiam púrpura. Então ele disse:
_ Observe a estrada que nossa energia percorre na mente dessa criatura, damos formas a ela e nos dividimos criando sua consciência. Habitamos nelas através de sentimentos e quando dormem, mostramos um pouco de nós para se lembrarem de quem somos. Criamos imagens de medos irreais, pela sensação maravilhosa que é temer alguma coisa. Somos tão sozinhos sem eles e seus medos, suas falhas que os tornam tão singulares. Partes de nós unidas formam personalidades em humanos.
_E viveremos com tanta saudade do que somos, mas nos sentiremos como nunca sentimos. Nos amaremos como se fosse acabar, em dose mínima de prazer. A limitação gera a satisfação. Aonde um fóton de luz pode se esconder? – Completou Felipe
Nessa hora o Ser desapareceu e o bebe era o único que brilhava em meio as trevas, a voz do Felipe continuou conversando com a criança.
_ É tão perfeito, pode ser quem você quiser. Eu me lembro de nós! Uma vez você descobriu que somos a música e fez tantas perguntas. Me fez rir, quando espantado, exclamou: “_ Minha consciência é música?! Milhões de vidas que tivemos e você é sempre meu primeiro amor.
O bebê sorria, gargalhava muito alto e a imensidão explodia, mas dessa vez era diferente. Uma música suave começou tocar ao fundo, os sentimentos começaram a ter formas novamente.
E lá estava o bebê, no berço sorrindo para seus pais. Ouviu-se entre a música que tocava o pai dizendo: “_ Filho de dois telecomunicadores, Felipe será o melhor jornalista que essa cidade já viu, meu amor!”
_Espera, não quero começar daqui dessa vez! – Exclamou Felipe que continuou: _ Daremos continuidade ao nosso primeiro encontro.
Tudo se apagou e dessa vez doeu muito. Felipe gritou de dor, sentiu um choque em seu corpo todo, como se houvesse fios de eletricidade ligados em suas mãos, pés e cabeça. Após algumas tentativas frustradas conseguiu abrir os olhos. Foi ao banheiro, se olhou no espelho e percebeu a palidez do seu rosto. Tranquilamente, fez um lanche, comeu; pegou o celular e ligou para Marcos. Era aquele mesmo dia, Mylla estava triste e desapontada, mas dessa vez a cidade não faria um memorial em homenagem ao jornalista. Embora Felipe sentira um prazer imenso na saudade dos seus amores, dessa vez quis se lembrar que aqui pode tocá-los.
Três minutos bastaram, para que Felipe percorresse anos infinitos.
UM PRESENTE
Felipe se tornou grande dentro de si, olhava para suas mãos, juntava os dedos ignorando as vozes dos pensamentos. Lá encontrava um silêncio que todos desconheciam. O triângulo que formava em seus dedos, trazia à tona através do cheiro de enxofre da chuva regando a Terra, às lembranças da paz imensa da escuridão e da música suave que é a vida.
No outro dia, foi o funeral do pai da Mylla. Um dia muito triste, coincidentemente chuvoso, mas o paulistano, não se sentia apenas um humano qualquer. A dor da saudade era o que o completava; abraçou Mylla e cantarolou bem baixinho acima de sua cabeça:
“Em seus sonhos o amor
cantará uma canção
Amor que nunca perdi
Visita meu coração”
Mylla se sentiu calma e segura, seus olhos vermelhos de tanto chorar, fazia sua íris mudar de cor. Felipe estava com o queixo sobre a cabeça de Mylla e imaginou as cores que não sabia descrever, mas refletia púrpura. Os sentimentos eram os mesmos que transmitiam os olhos de Mylla.
Depois do enterro as pessoas foram se dispersando, deixaram muitas rosas brancas como um símbolo de paz ao escritor e professor local que os jovens e crianças amavam, pela sua disposição por contar piadas aleatoriamente.
Aquelas pessoas, sentiam a dor de apertar o peito, sem esperança, andavam cabisbaixas à saída do cemitério. Ficaram sozinhos, Mylla e Felipe, Caio foi embora antes do enterro, alegando não se sentir bem.
SERPENTES E ESPERTEZAS
Mylla levantou sua cabeça, se soltou de Felipe, enxugando as lágrimas e com voz embargada pediu a ele que cantasse novamente, o trechinho da canção. Disse que não sabia o motivo, mas sentia como se conhecesse a melodia e as palavras com intimidade.
A chuva começou a cair. Então, voltaram para casa.
Felipe acompanhou Mylla até a casa dela, estava muito calma e começaram a conversar no carro:
_Felipe, posso te fazer uma pergunta estranha?
Sorrindo ele respondeu:
_ Claro! O que pode ser mais estranho do que a vida?
_ É sobre isso que gostaria de questionar. Ninguém fala sobre isso, sobre como a funciona, o porquê de estarmos aqui. Entende?
A maioria de nós trabalham para sobreviver, passamos a maior parte de nossas vidas servindo desconhecidos. Temos pouco tempo com a nossa própria família e amigos. O dinheiro é pouco, os de cima não se importam com os de baixo.
Vou falar do Caio como exemplo, tá?: Se ele conseguir fazer sua loja crescer e se tornar grande, ainda assim, ele jamais conseguirá colocar algum produto fabricado por ela, para vender dentro de um supermercado. O supermercado que é o lugar onde as pessoas vão todos os dias, porque dependem, precisam, necessitam daquilo, este lugar pertence a pouquíssimas pessoas.
_ Sei o que quer dizer, fala da falsa ilusão que temos de se escolher os produtos, pois são todos dos mesmos donos. É a mesma ilusão da política brasileira, pessoas brigam entre direita e esquerda, como se a esquerda não fosse tão capitalista quanto a direita. Falam de comunismo como se existisse essa ideia fantasiosa e fantasmagórica, porque assombra quem tem preguiça de estudar, mas qual é a pergunta estranha?
_ Juro que vai parecer estranho, mas vamos lá. E se deixássemos de ligar para a vida como um todo? Sinto que as pessoas que não se importam, são mais felizes. Temos pouco tempo! Vejo meu pai, fez tanta gente rir e se foi tão cedo, com apenas sessenta anos. Tudo bem que não era um jovem, mas merecia viver mais, sem tanto sofrimento.
_ Eu tenho uma ideia melhor e devido ao seu nível de inteligência, acredito que vai gostar mais, do que simplesmente abandonar a vida como você disse. A matéria é feita do que?
_ Átomos?! De novo isso?
_ Exato! Tudo o que podemos ver, ouvir e sentir são átomos. Os nossos sentidos são átomos. Você acharia muito estranho se toda a consciência da vida, fosse apenas um átomo?
_ Olha, você sabe que eu nunca me importei com o que acontece após a morte. Acredito que acaba, pois a nossa consciência se dá pela estrutura do nosso cérebro e envia sinais de energia ao sistema nervoso tornando possível os nossos sentidos. Sem o sistema nervoso, não existe consciência.
_ Eu sempre acreditei nisso também, mas tive uma experiência maravilhosa e já que você tocou no assunto, vou compartilhar com você. Não conta para o Caio!
_ Pode deixar, sou um túmulo!
_ De fato!
_ QUÊ? O que você quis dizer?
Felipe estava rindo e ela ficou irritada, mas a amizade dos dois era muito forte e mesmo estando irritada, começou a rir e perguntou:
_ Você disse que eu estou morta?
_ É… mais ou menos, acredito que tive uma experiência de “quase morte”, ontem a noite.
Ela parou de sorrir e fixou a atenção nele, fazendo um gesto com a cabeça para que continuasse a falar.
_ Tá bom! Hum… por onde eu começo?… Ah tá, lembrei! Ontem, quando voltei da sua casa, te deixei chorando e me senti quebrado, fiz a mesma pergunta que você fez. Quem sou Eu? Não desejei mais estar aqui.
Tive uma resposta imediata, desapareci e tudo ficou escuro, me tornei a escuridão. Não havia mais corpo, Somente minha voz e depois, nem isso!
Ela riu de novo e disse:
_ Você tá ficando doido.
Felipe se calou.
_ Calma, desculpa, não queria magoar você. Continua, sinto que não tenho nada a perder.
_ Eu acho melhor pararmos de falar sobre isso. É algo muito pessoal e você pode descobrir sozinha.
_ Poxa! Eu pedi desculpa, não ri por querer. Estou nervosa, sabe disso!
Insistiu ela com os olhos que refletiam a sede de saber, a curiosidade estava correndo Mylla por dentro. Eles chegaram na casa dela e ficaram dentro do carro, enquanto caía o mundo lá fora.
_ Eu não desço do carro se você não contar tudo!
_ Tudo bem, mas vou resumir, sem muitos detalhes e antes que me pergunte seu pai estava lá, assim como você!
Nessa hora o semblante dela se mostrou confusa e ainda mais curiosa
_ Continue. Por favor!
_ Não existia nada lá, só a escuridão e minha voz desapareceu, só pude ouvir músicas e demorou muito tempo, para que eu pudesse ver cores. Cores estranhas, só me lembro que parecia púrpura.
“Lá” não é um lugar, a pergunta certa é: Quando? Eu não era nada antes de escolher nascer. Não havia universo. Eu amei a escuridão, o calor que ela era, Eu era! Quente, úmido… a Escuridão é Equatorial!
Mylla gargalhou e disse:
_ Vamos entrar! Farei algo para gente comer e não esqueça aonde parou.
“_ Clima equatorial hahahaha…” Ela desceu do carro sorrindo e repetindo isso. Foram para a cozinha.
O TUDO E O NADA
_ Vai “Clima equatorial” continua, hahaha!
_ Que erro grotesco o meu, fazer piada com algo que quero que você acredite, mas tudo bem. Dando continuidade… (respirou fundo) Quero que você imagine a tela do computador que usamos. Tudo bem? Certo! Os dados estão em um lugar e só aparece na tela, se juntarmos todos eles. (alguns lugares ainda usavam os computadores antigos, monitores de tubos e faziam poucas funções, comparados aos atuais).
O que chamamos de dados, são pedacinhos de partículas com milhões de átomos que unimos, ou seja, toda lembrança é guardada na luz, em fótons de luz e os vemos através da energia que são transmitidos. Agora, imagine que você pode pegar este computador, quebrá-lo, decompor parte por parte do que um dia ele foi, mas os seus dados continuarão existindo em fótons de luz, só você não poderá acessá-los mais.
A ciência afirma que a energia não pode ser destruída e também afirma que todos os átomos são energia. Logo, apenas mudamos de forma. Os humanos, a Terra e todo universo é uma coisa só. “O que está fora é o que está dentro”?
Mylla parou de comer o macarrão que havia preparado e acenou “não” com a cabeça, para que Felipe não dissesse nada. Passaram cinco minutos em silêncio até que ela decidiu:
_ Tá bom! Supondo que eu também esteja ficando louca como você... você está me dizendo que a fonte de vida do nosso universo, somos nós e eu tô fazendo isso?
Felipe olhou fixamente nos olhos de Mylla e perguntou:
_ Quem é a mulher do espelho? Chamamos isso de vida, mas o que somos? Uma lembrança do sistema solar? Porque na Terra seremos esquecidos em menos de cem anos. Acredito que por isso os grandes artistas se “imortalizam” pela fama e seus mistérios. Enquanto suas lembranças estiverem vivas aqui, podem revivê-las. Não em outro tempo, no mesmo tempo. Não há tempo, no nada.
_ Não Felipe! Aí… você está defendendo uma ideia religiosa para uma ateia, tá pegando pesado!
_ Mylla, você conhece minhas posições políticas e acompanha minhas opiniões, desde sempre, sobre as crenças religiosas. Eles enganam e usurpam dinheiro de pessoas necessitadas, mas é exatamente sobre as religiões que quero te mostrar algo que descobri.
Você se lembra daquela vez em que escrevemos um artigo sobre o Cristianismo e as suas semelhanças com tantas outras religiões, os erros das datas, calendários, cronologias e todos aqueles absurdos que não faziam sentido algum?
_ Com certeza! Estava quase te lembrando disso!
_ Pois é! Eu descobri que há uma coisa real, uma verdade por assim dizer, em todos os livros “sagrados” pelo mundo. Algo que os religiosos ensinam inversamente, porque lucram com isso e tudo bem.
Algo que não está escondido de ninguém, uma mensagem sobre nós em todas as músicas, filmes e poesias. Histórias dos deuses, todos eles, nunca foram deuses, mas se tratavam das nossas histórias. Os deuses possuem traços humanos porque nós os desenhamos. Na antiguidade os exércitos se reuniam, para conquistar territórios. Criavam seus deuses que eram seus nomes de guerra. Quando o exército vencia, diziam que seu “deus”, ou seja, seu povo era o mais forte. Usavam truques de ilusões, para convencer o povo a segui-los.
O D'us da Torá, religião judaísta, Hashem ou Yavé; YAH, YAUH... Não importa, o Deus da Bíblia é aquele, pela história documentada e pergaminhos encontrados, ele, o Deus tinha uma mulher chamada Ashira. Antes da religião se tornar monoteísta e machista até ser o que é hoje. Ainda havia os deuses gregos e os egípcios, na mesma época.
Este mistério continua sendo alimentado, porque geram lucros absurdos e controle populacional. Os ricos ficam mais ricos, é quem age como Deus que é adorado. Quem vende o céu, mora no paraíso e quem paga as prestações, vive no inferno.
Você está totalmente correta em ser ateia, todo mundo é! A partir do momento que decide a sua própria verdade, o resto do mundo se torna mentira. Mesmo quem acredita em Deus, só acredita em uma ilusão criada por si mesmo, através de palavras e músicas que mexem com os seus sentimentos, acreditam que apenas o Deus imaginário deles que existe. Einstein disse uma frase sobre isso, que de tão usada se tornou clichê.
Veja o cristianismo, nós achamos bizarro a gritaria dos evangélicos, mas o mais estranho é a maneira como eles criticam todas as outras religiões e fazem a mesma coisa, aquelas pessoas girando ao som de batucadas e nos perguntamos: _ Será que eles não percebem a semelhança tão espelhada entre os cultos religiosos do cristianismo e as religiões afrodescendentes? Eles acham normal praticar magia negra, fazendo cultos de necromancia, visualizando em suas mentes que estão comendo e bebendo o corpo e o sangue de um homem morto. Nem as bruxas fazem mais isso!
Tantos questionamentos, mas nunca nos perguntamos o por quê das pessoas gostarem tanto de igrejas, mesmo sabendo que são extorquidas legalmente. Acredito que a resposta seja simples: Elas consideram “bem” aquilo que causa sentimentos de satisfação nelas, de acordo com os seus medos e faltas, criados desde a infância por seus pais; ou seja lá quem às criou.
Tudo que sinto é que somos apaixonados pela morte, se tivéssemos o mundo inteiro à nossa disposição, desejaríamos já ter morrido.
Mylla estava perplexa, não sabia em que acreditar, se mostrava um pouco nervosa e ao mesmo tempo curiosa.
_ Eu entendi tudo o que você disse até agora. Basicamente reforçou o que eu acredito, mas você não especificou qual é a verdade que está nos gibis.
_ Vou decompor a história de Jesus Cristo na minha visão, para que você entenda exatamente o que quero te mostrar.
Começando pelo fato de que foi um homem. Certo? (Mylla sorriu e disse: _ É a estória de um homem, estória de constelações) _ Tudo bem, que seja uma estória de constelações. Não é sobre Jesus Cristo. Todo escritor é um leitor e todo leitor entende que as histórias ou estórias possuem uma moral, um significado, algo que quem escreveu; redigiu quis passar, uma ideia e sabemos que Jesus nunca escreveu nada. Essa ideia é a Verdade.
_ Explica a ideia absurda, estou esperando...
_ A estória do homem que pregava o amor e ajudava as pessoas por onde passava; ele dizia não curar ninguém. “A tua fé te salvou”, era isso que dizia ele; e usava a terceira pessoa do singular, ao referir-se a si mesmo. Tornava mais fácil as comparações metafóricas.
O celular de Mylla tocou, era Caio. Antes de atender ela perguntou a Felipe o que faria, porque Felipe já havia dito que guardasse segredo. Contudo, ele voltou atrás e disse para pedir que se juntasse a eles, para uma terceira opinião. Já que seria muito útil, uma opinião de alguém que trabalha com simulações virtuais.
Continuaram conversando, ela ofereceu a ele alguns chocolates sortidos como sobremesa. Felipe amava chocolate, “O manjar dos deuses!”.
_ Felipe, come, mas fala. Fala testemunha de Jeová hahaha!
_ Mulher de pouca fé, hahahaha. Vou continuar… mas vou usar a terceira a meu favor como ele fez na história e no lugar do nome dele, de Jesus, vou usar o seu nome. Mylla nasceu em um país, onde o capitalismo tenta matá-la a todo momento. Seja de fome, sede, violência doméstica, violência nas ruas. De qualquer forma, Mylla sobrevive a tudo isso.
Durante sua vida Mylla tem apenas, o conhecimento que lhe foi imposto por seus pais até que decida em que quer acreditar. Supondo que a família de Mylla seja judia, frequenta sinagogas, para fazer suas orações e rezas.
Felipe parou de falar, pois ouviu o som do carro de Caio estacionando em frente a casa de Mylla. Ela então se levantou e foi recebê-lo, enquanto Felipe foi ao toalete. (Acho maravilhosa a língua portuguesa, mas banheiro é melhor que toalete, concorda ou não?)
Se encontraram na sala de estar…
O ABISMO DO APEGO
_ E aí Caio, como vai irmão?!
_ Bom demais! Como andam os charlatões de plantão, te ameaçando muito? Hahaha!
_ Como sempre, não é Caio?! É exatamente sobre isso que estamos debatendo e queremos a sua opinião sobre um assunto delicado. Vou direto ao ponto, ok?!
Ai, ai, ai… Vamos lá!
O que você acha que acontece após a morte e mais importante do que isso, o que significa o seu tempo de vida?
Caio se mostrou surpreso e com ar de graça respondeu:
_ Não sei direito, só espero que não seja o fim por completo da minha existência. Não acredito em ideias religiosas, mas também não acredito que tudo que existe e vemos surgiu do nada, sem alguma razão, pois toda natureza parece agir com uma forma de padrão, algoritmos eu diria. Sei lá Felipe, são três e quarenta da tarde. Logo, esta tarde ? (se referindo ao enterro do pai da Mylla). Por que este questionamento agora?
Mylla interveio:
_ Está tudo bem Caio, estou me sentindo bem. Você sabe que eu sou muito curiosa, não era a respeito disso, mas Felipe me deixou com uma pulga atrás da orelha, e agora, se não terminarmos e chegarmos a uma conclusão, não conseguirei dormir a noite. Minha mente aguarda a continuação da trama.
_ Então, beleza! – Exclamou Caio aliviado e prosseguiu dizendo: _ Sinceramente, eu não falo sobre isso porque acho que as ideias parecem muito fantasiosas e ilusionarias. São semelhantes aos jogos que desenvolvo e dizer isso abertamente, pode ser visto por terceiros como afronta a sua fé. Me considero agnóstico, não digo que existe um criador, nem que não existe. Porque quando considero a existência de um criador, me sinto inconformado com as desgraças que ocorrem no planeta. Não só as desgraças que os humanos causam, mas as catástrofes naturais também. Se a criação fosse minha, eu não faria assim!
Neste momento Felipe começou a gargalhar e sem entender nada Caio questionou sorrindo com ele:
_ O que foi? Em meus jogos os personagens têm superpoderes e no final o chefão sempre perde. Os meus personagens sempre estão vivos e felizes!
_ Mas Caio, os seus personagens sabem que você os criou? Se eles soubessem que são apenas personagens, como você acredita que seria a reação deles? Acha que eles aceitariam você os “matassem” só para recomeçar? – Caio ficou mudo e pensativo; Mylla sorriu e disse baixinho “_ Eu sabia que ele ficaria assim haha”
_Felipe, eu criei todos personagens, eles pensam o que eu pensaria, o que eu colocasse no script, dã!
_ De fato! Toda a natureza se comporta com um tipo de padrão, como você mesmo disse, seus jogos são semelhantes. Simplificarei: Qual o artifício você usa para causar emoções em seus jogos?
_ Ah Felipe, você está de brincadeira? Aquele solo de guitarra que coloquei no jogo que te mandei ontem. Eu compus lembrando de quando ganhei meu primeiro videogame.
_ Bingo! – Felipe gritou e assustou os dois que começaram a rir. – Você acabou de me dizer que o que causa emoção nos seus jogos é a música?
_ Não diminua meu trabalho senhor jornalista Felipe, é A Música, não qualquer música. Naquela música há sentimentos, lembranças que guardei nas notas e você não mencionou o enredo dos meus personagens, que modesta parte, ficaram incríveis.
_ Ora, pois! Então, falaremos sobre o enredo. Seus personagens emitem sons legais? Quando o personagem cai, faz barulho? A água deixa molhada a roupinha do personagem? Ele se incomoda quando se molha? Como mostra odores? Machuca quando ele cai de um lugar mais alto? Você definiu a gravidade? Qual é o som dos efeitos especiais? Se o personagem tem poder telepático, ainda assim tem som? Por quê?
_ Entendi aonde você quer chegar, mas nós somos reais e os jogos, são apenas dados manipulados por nós.
_ Dados salvos através de fótons de luz, exatamente como a mente humana armazena dados. Criamos o computador, usando algoritmos e é por isso que ele funciona exatamente como nós. Limitamos os dados que não queremos que interfira em nossa área de trabalho. Há elementos específicos em cada cenário de cada fase. Os personagens não sabem que são personagens, porque não demos a eles este enredo. Não liberamos todos os dados para que possam ser acessados por eles.
_ Mas Felipe, saber disso muda o que exatamente? – Questionou Caio e Felipe respondeu:
_ Muda tudo saber que o Criador e o personagem é a mesma pessoa!
_ “Planta que partiu!” Felipe, eu vou embora! – Mylla se deitou no sofá, chorando de rir e dizendo: _ É hoje que a gente descobre como libertar o Brasil da escravidão!
_ Caio, pensamentos são palavras e palavras sãos sons. Tudo é vibração de átomos.
Argumentou Felipe, levantando-se e ligando o toca fitas
Colocou em volume alto a música do Kenny G-Theme from Dying Young.
(Ainda estamos em 2009 ou 1993?)
Os três começaram a prestar atenção na melodia maravilhosa e sem dizer uma palavra, todos começaram a chorar. Todo sentimento que estava guardando veio à tona. Não sabiam se era tristeza, já que a música sempre foi usada no momento mais especial e feliz, que é o casamento. Transmitia uma emoção de amor. E tudo que sentiam era amor, a dor acompanhava o amor, a saudade de quem alegrava aquela casa e arrancava um sorriso de qualquer pessoa que ali estivesse.
Eles se olhavam e concordavam com a cabeça, demonstrando estar no mesmo pensamento de paz. Se abraçaram e deixaram a chuva chover naturalmente.
_ A morte é um grande casamento! – Exclamou Mylla que prosseguiu dizendo: _ Era essa a ideia do cristianismo que você começou e não terminou, quando Caio chegou? Tudo agora faz sentido e estou ainda mais ansiosa, para saber sobre a sua experiência. Conte para o Caio o que ele perdeu e continue de onde parou aquela hora.
_ Certo! Contei à Mylla que ontem, tive o que as pessoas chamam de experiência de quase morte. Deixo claro que este conceito é vago e sem sentido, ou morreu ou não morreu. Quem quase morreu é quem sobreviveu a algum acidente. Morreu e foi trazido de volta, não é quase! Continuando, eu visualizei suas mensagens e estava passando mal, nem vi muito bem o que você escreveu, me desculpe! (Caio sorriu e exclamou: _ Novidade!)
Eu me perdi do meu corpo, não havia corpo só a escuridão igual a tela de um computador.
_ Clima equatorial – disse Mylla dando um sorrisinho bem forçado e Felipe respondeu de canto de boca.
_ Então, a minha voz desapareceu e ficou um silêncio que jamais ouvira. Era quente, suave, úmido e silencioso, sem um piu se quer. Não havia pensamentos, não havia vontade de nenhuma vida. Não havia problemas, pessoas para causar ou sofrer, não havia nenhuma forma de universo, para se preocupar se haveria uma explosão ou destruição cósmica.
Até questionamos sobre acharmos tão estranho que todos os dados pudessem estar em um único átomo, apenas. Um único fóton de luz que nunca deixou de seguir em frente.
_ Mas e aí ficou só escuro? – Questionou Caio
_ Por muito tempo sim, até que eu tive vontade de me expressar e sem voz começaram a surgir imagens, desenhos abstratos e cores, cores que em toda minha vida, jamais vira. Uma delas eu comparo com púrpura, mas não é exatamente. A minha voz eram as vibrações que davam a escuridão, formas brilhantes e um ser surgiu, ele já estava lá quando estava escuro, conversamos e eu sabia quem era. Ele tinha meus olhos e quando eu desejei que houvesse a pluralidade de ideias e pensamentos para conversar comigo. Explodiu! Comparo a milhares de bombas atômicas, explodindo de uma só vez. Quando isso aconteceu, Eu era aquele ser que estava falando comigo e todos vocês estavam lá. Tínhamos um único pensamento e sentimento.
Não havia Terra e universo, eramos um único Sol, um Sol sem fim, feito de fogo e água. O sentimento que senti, foi um orgasmo sexual infinito. Êxtase eterno. Nos amamos tanto, tanto, todos os humanos, animais, matéria viva ou “morta”, somos uma coisa só.
_ Palavras são pensamentos, você não estava morto, estava desacordado. – Afirmou Caio
_ Foi arrebatado hahahaha! Não deveria ter ido para o inferno?
_ Palavras são vibrações rítmicas que usamos, para compreender algum aspecto. Palavras são músicas. E Mylla, eu nunca desejei ou imaginei alguém em um lugar perverso. Só quem vê essas coisa é quem cria seus desejos.
_ Palavras são músicas? Logo, minha consciência é música?! – Caio parecia muito surpreso e começou a cantarolar um pedacinho da música de casamento que acabara de ouvir. Seus olhos se encheram de lágrimas. _ Agora eu entendi. É por isso que tudo que é emocionante, possui trilha sonora. – Ele começou a andar de um lado para o outro, se mexendo sem parar e roendo as unhas.
O DESAPEGO MATA
_ Senta aqui! – Mylla o chamou Caio, batendo no sofá ao seu lado. – Caio relaxa, eu também pensei estar ficando maluca quando comecei a ligar os pontos.
Felipe, continua a história de Jesus, por favor. O Felipe estava me mostrando, antes de você chegar, um exemplo de como as religiões escondem a única verdade que carregam, para lucrar em nome Deus.
_ Claro, mas vou pular o início da história. Jesus agora eu chamo de Mylla e Mylla nasceu em um país capitalista que mata crianças de fome, um país que persegue pessoas por causa do gênero, cor de pele e toda sorte de preconceitos que conhecemos. Enquanto tudo isso acontece, o Congresso discuti se gays devem viver ou morrer, se casar ou não.
Ela é descendente de judeus e segue as leis da Torá. Em seus estudos aprende sobre a Kabalah e ao terminar o ciclo, encontra a última luz de sua personalidade, a essa altura Mylla já compreendeu que a árvore da vida se trata do seu cérebro, pensamentos o caminho da serpente, ela já entendeu que os daemons e gênios que fora supostamente expostos por Salomão, nada mais eram do que as personalidades do homem, especificamente só dele. Um mapa de todas as horas do dia, mês e ano. Um mapa de si mesmo mostrando tudo que sentia e foram usados constelações como símbolos.
Logicamente, a mentira de quem ensina a Kabalah são falácias sobre demônios e anjos, gerando medo. Dizem que você precisa do Eterno, mas não te esclarecem que você é o Eterno. Dizem que o Eterno quer te dar as bençãos, mas você não aceita as bençãos porque é falho. Eles mentem e enganam, não é sobre isso a Torá, eu acredito que Moisés é uma história fictícia, copiada dos sumérios e egípcios; e obviamente não se trata de Jesus Cristo, o cristianismo.
Existem incontáveis constelações no universo, cada um de nós pode imaginar uma forma nas estrelas. A astrologia desde o início criou teorias sobre o universo estar conectado a nós de alguma forma. E tudo que temos até hoje, são ideias de homens.
Todos os livros sagrados definem os gostos do líder do povo. O que ele não gosta é pecado. A evolução humana continua e o que era pecado, outros líderes que nasceram depois, passam a gostar de coisas novas e consequentemente deixa de ser pecado. As pessoas ainda dizem que a Rede Globo é o olho do diabo, mas há pastores cometendo crimes, para ter audiência em programas de TV e na internet. Usando igrejas evangélicas para lavar dinheiro do PCC.
_ Hahahaha, cadê o disco da Xuxa? Vocês viram no youtube que os crentes estão aterrorizados? Alguém diz que tocou as músicas ao contrario e a letra chama pelo Belzebu hahahahaha.
_Verdade Mylla, eu vi isso na casa da minha tia beata, hahahaha, mas continua a história da santa Mylla, Felipe hahahaha.
_ Tá bom. A santa Mylla conheceu a morte e entendeu que tudo existe porque ela quer; Tudo o que quer é estar aqui e sentir as emoções humanas. Deixar de lado os pensamentos humanos é encontrar com a morte. É o silêncio de não desejar nada e não sentir culpa. Todos os problemas que temos, foram criados por nós e a proporção deles é a que você damos. A saudade de quem você ama, você escolheu amar. Você escolheu se apegar e sentir falta.
Quem está aqui em segurança, não sofre por quem está morrendo nas guerras pelo mundo. Quem mora em condomínio fechado, não sofre por quem está sendo assaltado, voltando do trabalho, depois de um dia cansativo.
Mylla queria passar a informação de que o povo teria que lutar contra seus pensamentos e usou a si mesma em falando em terceira pessoa, para que as pessoas entendessem a metáfora. Ela dizia
“_ Sejam perfeitas e perfeitos como Eu sou. Não existe condenação se você não se condenar. Eu sou a rainha da minha realidade. Seja como Eu!
Desapegue das suas vontades do mundo, dinheiro, bens, parem de desejar a Terra e deixará essa realidade. Vão conhecer o Criador, quem conhecesse a si mesmo, encontra o Criador. O Caminho sou Eu, sejam como Eu! Encontrará sua própria Verdade e descobrirá que é a Vida!
Quando for se alimentar, lembre-se, não quer passar fome e sede. Então divida com os necessitados. Somos iguais, feitos da mesma matéria do Criador, o que deseja a eles é o que tens. O corpo e o sangue não é o que somos!
Não adore a outro, além de si mesmo. Deseje o bem, mas o seu em primeiro lugar. Não adore alguém além de si!
Não permita que chamem seu nome em vão, ninguém gosta de ser chamado à toa.
Lembre-se que você não entra em guerra para perder!”
_ Basicamente, os deuses religiosos, nada mais são do que uma autoajuda. Igrejas lotam, para que alguém diga a eles o que querem ouvir. Por isso escolhem a igreja, a religião, o Deus que mais agrada seu ego. Por isso a religião é tratada como cultura, puro ego humano. Quanto mais religiosa for a pessoa, mais arrogante e agressiva ela será.
_ Felipe, mas e a respeito da morte e ressurreição e até aquelas comparações que você e a Mylla fizeram naquele artigo, alegando que se tratava da posição do Sol, lembro que citou o deus Mitrha e o solstício e lálálá? Como isso se encaixaria na sua teoria? E claro, vamos lembrar que tem uma galera esperando esse cara voltar, a mais de dois mil anos.
_ A reposta é simples: Jesus falava em terceira pessoa para que entendessem a metáfora de que quando ele se fosse, cada bebê, cada vida nova continua sendo ele. Ele volta a cada geração de uma mãe, os humanos fazem o filho, mas a consciência são várias partes de nós. Cristo nunca foi um sobrenome, Cristus era relacionando ao estado de espírito. Estar Cristus! Assim como a mesma água dos rios, passam pelas nuvens, por nosso corpo e volta para os rios. Jesus e todos os deuses contam a história dos humanos.
_ Eu entendi perfeitamente e parece bem claro para mim agora, mas eu gostaria de saber sobre meu pai. Você disse que o viu e ele falou sobre mim?
_ Eu disse que você estava lá também, éramos a energia, a tela branca de um artista, não a quarta, quinta, sexta ou tantas dimensões a mais, mas a primeira de todas as outras dimensões. A dimensão arquiteta de onde todas as outras se formam. A lei do mundo precisa ser a lei do mais forte, por ser a energia que vibra mais, a que acumula mais. Quem não tem medo de morrer é capaz de fazer coisas incríveis. O melhor do mundo em alpinismo, não tem medo de altura. Não morremos de verdade, tudo deixa de existir para nós. Não somos nós quem deixamos de existir, é o resto do mundo. Somos o observador. Seu pai, você, eu e o Caio, só existiram porque eu tive vontade de vê-los.
Os pastores pregam “É difícil um rico entrar no céu, dê o seu melhor para Deus”, mas eles moram em mansões, Deus são eles. Assumiram o papel de receber a oferta, eles mesmos se deram essa função; mas eles não se condenam, então se consideram perfeitos, santos; e possuem o aval da própria bíblia, criada e modificada por eles todos os anos, a bíblia diz em um versículo “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém!”, ou seja, se eu enganar as pessoas e enriquecer, ficar bilionário e a justiça não pode me condenar, ainda sou considerado um santo, me convém!
Assim como a política protege os criminosos do capitalismo. Além do foro privilegiado que é uma vergonha mundial, existe a bancada evangélica ocupando espaço no congresso Nacional. Onde a Constituição Federativa Brasileira diz com todas as letras que o Estado é Laico. É um absurdo, uma afronta ao povo brasileiro, uma falta de ética e desrespeito com a própria lei. Suponho que estes evangélicos que ocupam a política, se limpam de suas necessidades com as folhas de uma cópia da Constituição. Assim como o Congresso Nacional inteiro, que defende essa imoralidade. Um crime contra a inteligência e integridade do povo brasileiro.
_Ou ou, jornalista, segura aí que você não está na TV. hahahaha.
_ Se estivesse, já o teriam levado para o manicômio Mylla, hahahaha. Se fosse na época da idade média, seria queimado, esse bruxo hahaha!
_ Pois é! Muito bem lembrado a atrocidade do anticristo que é o cristianismo. Vejo a Besta da bíblia como o capitalismo, trazendo os outros cavaleiros, a fome, guerra, doenças e a própria morte. Aos poucos não podemos usufruir de mais nada que seja nosso, tudo que temos pagamos. Pagamos até para nascer. Pagamos pela luz do Sol e a água da Terra. Logo, a tecnologia vai avançar e todos os dados que hoje temos em disquetes, poderão estar em um aparelho minúsculo ou na própria internet. Todas as pessoas só terão as marcas que assinarem. Só vão comer, beber, vestir e usar as marcas que lhe forem impostas. Eles escolhem o que é bonito, o que é agradável e o que deve morrer.
É o motivo das igrejas, defenderem o capitalismo, fazem parte dos falsos profetas. Qualquer pessoa que se diga cristã de verdade, não frequenta igrejas. Se frequenta engana a si mesma e nunca entendeu a história de Jesus que é a história dela.
_ Felipe, mas e a crucificação? Porque a cruz como simbologia?
_ Essa é uma ótima pergunta Mylla, minha tia não pode um palavrão que faz o sinal da cruz hahahaha e diz “Sangue de Jesus tem poder”.
_ A crucificação se refere ao corpo humano. Quando você abre os braços se torna uma cruz e é nesta cruz que carrega todas as dores e enfermidades. No final de nosso tempo aqui, percebemos que tudo que fizemos e vivemos foi por quem amamos, mesmo tentando ser a melhor pessoa, seremos julgados até depois da morte. A cruz significa a vida, pois ao chegar dentro de si, encontrará a vida e a morte não existirá mais. Seu sangue pode salvar centenas de vidas se você doar, tem muito poder!
O tempo foi passando e estava anoitecendo, decidiram se ver no próximo final de semana, para continuar o papo gostoso. Algo estava para acontecer, Mylla estava triste, mas se sentia consolada de certa forma. Caio foi embora com cara de confuso e de quem passaria a noite em claro. Felipe fez um resumo de suas conversas, tentando encontrar mais ligações que pudesse acrescentar em sua teoria.
A REALIDADE É SUBJETIVA
Maio, Sábado 8 de 1993 – Terra da Saudade
“_ Eu gostaria estar sozinha, mas não de ser!
_ Tão bom estar sozinho não é?
_ Você é meu pai?
_ Parem de me confundir! Por que todas essas vozes?
_ O que é aquilo, um monstro? Ele não persegue você!
_ Aaaaah!”
Mylla se levantou aos gritos da cama: _ Que pesadelo horrível! – pegou seu celular e ligou para Felipe que já estava pronto, pois haviam combinado um dia antes de fazer um piquenique na praça linda e arborizada na cidade, para então continuar o assunto sobre a vida e a morte. Ninguém pensa tanto na morte como quem perdeu um grande amor para ela!
Dez da manhã e o dia estava lindo, o Sol bem quente, céu azul, nenhuma nuvem se quer; ventava bastante e o clima era muito agradável.
Felipe chegou à praça antes dos dois, já escolhera o ambiente com sombra e colocara o lençol na grama, para que se sentassem. Sua parte da refeição do dia também estava ali ao lado, dentro de uma sacola ecológica, dessas que vendem em supermercados e costumam vir com desenhos bonitos.
_E AÍ FELIPE! – De longe gritou Caio que vinha trazendo sua sacola ecológica e ambos começaram a rir, por estarem usando o mesmo tipo de “sacolinha de mercado”. – Que pobreza irmão! Hahahahaha… Será que aconteceu algo com a Mylla, já são dez e quinze. Ela não é de se atrasar.
_ Não, ela me ligou disse que chegaria um pouco atrasada. Eu já estava pronto quando atendi e ela parecia nervosa, mas disse que depois contava. Olha ela lá, atravessando a rua!
Mylla se aproximou, sorridente, muito arrumada com roupas leves, um shorts curto e chinelinhos dourados; seu perfume era suave como lavanda e o seu semblante transmitia a paz.
_ Oii meus amoreees! Como vocês estão?
_ Tudo bem graças a mim! hahahaha…
_ Tudo bem Mylla, o Felipe não perde uma oportunidade de fazer piada.
_ Aprendi com o melhor!
_ Felipe, eu li a coluna que escreveu no jornal ontem. Rapaz, é verdade que o candidato a presidente armou um falso atentado?
_ Nossa, Caio essa matéria está explodindo, eu vi que as pessoas começaram a frequentar essas casas de jogos, só para ver essa informação. Deixa eu te perguntar: A Folha de São Paulo deixou de entregar na sua casa essa semana?
_ Sim, muito estranho. Nem deram informações, simplesmente mandaram os dois jornais juntos, hoje!
_ Eu não acho mais nada estranho, nem o jornal não ter chegado na casa de vocês e nem o fato de que o jornalismo investigativo se omitiu! Por isso denunciei na coluna, que possivelmente sofreremos um golpe se este crápula, chegar a assumir a presidência. Usaram apenas as filmagens que a equipe do mentiroso fez, em suas matérias. Outros vídeos do ocorrido fora suspensos e tirados da plataforma, mas mesmo no vídeo em que a grande imprensa publicou, é possível ver que arma que suposto agressor usara, não era uma faca grande de açougueiro como foi mostrado posteriormente por policiais e ninguém perguntou o porquê do candidato Holstein, ter mandado arquivar o processo contra o agressor. Também, não quiseram saber o porquê dos seguranças do deputado, supostamente esfaqueado, protegeram o agressor, assim como todas as pessoas à volta do candidato. Se um dia acontecer um golpe de estado com militares, não digam que não avisei!
_ Disseram em um outro jornal que vi, deve ter sido o IG que é a discada que uso, dizia que o agressor era pobre e mesmo assim, semanas antes, pagou caríssimo em aulas, num clube de tiro. Junto com o filho de Holstein.
_ Verdade Caio, eu li essa matéria, mas acho que os brasileiros não são tão ignorantes assim!
_ Será Mylla? Um lunático norte-americano ganhou a eleição no mês passado e seu discurso era que a população pobre de imigrantes comiam os pets das pessoas. Hahahahah Já pensou se um dia os Estados Unidos colocarem um negro na presidência? Porque racistas tem de sobra!
_ Utopia, as vezes você viaja Felipe!
De repente, um barulho muito alto foi ouvido por eles que se levantaram rápido e assustados. Era o aviso de militares, a sirene forte de efeito. Mylla quase urinou na roupa, se tremia inteira.
Os policiais enquadraram os três na praça, pensando ser maconheiros que ficavam por ali. Revistaram, não encontraram nada e quando pegaram os documentos, reconheceram os dois jornalistas e foram embora.
_ Hahahaha Eu juro que estava segurando o riso, estou até passando mal. A cara da Mylla, até o policial que estava no carro fazendo anotações, começou a rir.
_ Paaaara Felipe! Quando fez aquele barulhão, minha mente travou, igual a porcaria do meu computador. Eu só pensei: _ O que é aquilo? Um monstro? Achei que fosse morrer hahahahahaa, para mim e o Felipe podem ser monstros, mas você é branco Caio hahahahaha. A policia não persegue pessoas como você! Nossa?!
_ O que foi Mylla?
_ Tive uma sensação estranha de deja vu, como se isso tudo já tivesse acontecido. Vocês já sentiram isso?
_ Eu senti isso naquele dia que tive a experiência do gasparzinho.
_ Minha nossa eu vou morrer? Felipe para ser besta! Hahaha. Já não basta o sonho estranho que tive. Nooossa?!
_ E agora, o que é Mylla?
_ No meu pesadelo, eu não me lembro direito, mas lembro que fez um barulho alto e um monstro surgiu, mas não atacava o meu irmão que estava comigo. Faz meses que não o vejo!
_ Seu sonho te mostrou exatamente o que aconteceu agora a pouco. As palavras que criam nossa realidade, no subconsciente são imagens. Os sonhos mostram nossos sentimentos, a polícia era o monstro e o seu irmão era o Caio, você o vê como seu irmão e é assim que seu subconsciente o vê e te mostra. Quando estamos acordados temos pensamentos, alguns pensam com imagens e outros ouvem a voz da consciência. Escritores, músicos, artistas conseguem ver as coisas de outra maneira. A mente deles é mais aberta, para imaginação fluir.
_ Não gostei, está puxando a sardinha para o lado de vocês que são jornalistas. Haha
_ Ah Caio, qualquer pessoa que cria um universo inteiro como você faz nos jogos, é um artista. _ Quer confetes? Hahaha
_ Já que entramos no assunto, eu sonhei que meus dentes estavam caindo e foi tão estranho, porque eu nunca tinha me visto nos sonhos, eu parecia anos mais jovem, como um adolescente, mas fiquei desesperado, acordei e fui direto no banheiro reparar meus dentes, para conferir se estavam inteiros hihihih.
_ Eu já tive um sonho idêntico a este Caio e nem faz muito tempo. O que você acha deus da escuridão equatorial? hahaha
_ Acho que você vai conhecer a ira de Deus se continuar hahaha, mas falando sério, eu já tive o mesmo sonho. Se decidirem acreditar em mim, significa que sua vida está em um processo radical de mudanças. Muitos pensamentos que limitavam vocês, estão caindo. Os dentes servem para mastigar. Neste caso, não se trata de comida e sim de sentimentos, palavras. Lembra da nossa conversa?
_ Nossa! Isso faz mesmo sentido. Entrei em um processo de vencer meus medos e desapegar como você falou. Comecei por ficar sozinha no escuro, com a casa inteira apagada e sem estar com sono. Ando pela casa, vejo os espelhos. Vou confessar para vocês que eu ainda sinto muitos calafrios quando faço isso. Até achei que o pesadelo que tive esta noite, teria algo haver com isso.
_ E tem Mylla, os sonhos servem justamente para isso, seu corpo está descansando e suas células se regenerando. Seu subconsciente te coloca no centro e tudo que você vê, é você mesma. Está dentro da sua mente, todas as pessoas, animais, imagens abstratas que você enxerga como normais. Aparece dentro de um carro que você pedala como uma bicicleta e você acha normal.
_ HAHAHAHAHA Felipe você está praticando bruxaria? É magia negra, só pode! Cara, eu tenho sonhos assim, sempre! E como eu sonho com os jogos, achei que fosse normal. Encontro vários personagens dos meus jogos, são muito divertidos os meus sonhos.
_ Imagino que seja Caio, suas emoções devem produzir os sonhos mais doidos que alguém pode ter. Eu gosto de praticar sonhos lúcidos e a chave para ter este tipo de sonho é fazer o que a Mylla está fazendo. Provocar o medo, o medo envia mensagens ao subconsciente como um alarme de que algo está errado e sem a intenção passa o controle para o sonhador, que agora está em um mundo só seu, mesmo que por pouco tempo. Nos sonhos lúcidos o tempo parece passar mais devagar por várias horas, mas acontecem em poucos minutos.
Mylla! Quanto mais você provocar. enfrentar e vencer seus medos, mais sonhos terá, provavelmente lúcidos também. Quem costuma ter sonhos lúcidos e paralisia do sono, são pessoas preocupadas demais, que possuem vários medos internos. Seja por causa de família, emprego, problemas sociais ou financeiros.
Sonhos lúcidos não são bons para eles, os aterrorizam ainda mais. Porque não entendem os seus próprios sentimentos. Alguns pesadelos a ciência afirma que ocorrem, porque o corpo está tão relaxado que para de respirar.
_ Dizem que sonho é o ensaio para a morte! Agora eu entendo a expressão, analisando sua experiência da morte; e a pouco, pude notar e provar que posso sonhar com coisas que ainda não aconteceram. Todos os “deja vus” que senti, por tantos anos. Eu já havia sonhado com aquilo e é isso que causa o sentimento de reviver o fato.
_ Você só pode sonhar com as escolhas que você já fez Mylla!
_ Como assim Felipe?
_ Seu subconsciente não percebe a diferença entre acordado e dormindo. A mente não para de funcionar e trabalhar. Lembra que eu disse: Quando você está acordada, ouve os pensamentos e imagina coisas, mas quando dorme todas as vozes se tornam imagens. Porque somos vibração de energia, como tudo que é átomo.
Existe uma falácia, algo que engana muitas pessoas, espalham a mentira que o cérebro é dividido em dois, um lado é o consciente e o outro o inconsciente, não é verdade. Apesar de ser dividido e terem suas funções distintas, o cérebro trabalha como um todo. O consciente e o subconsciente trabalham juntos, seria o “Pai e o Filho” nossas lembranças seria o espírito santo;
_ Minha tia vive falando que só existe um pecado que não pode ser perdoado, a blasfêmia contra ele!
_ Hahaha, coitada da sua tia! Se parar para pensar, quem não consegue se perdoar, jamais deixa de sentir a culpa. Quando mentem para si mesmos, se machucam ainda mais. Pessoas feridas machucam seus amigos e são capazes de matar os seus inimigos. Se afastam da felicidade e caminham em um caminho de tristeza; sem saber o que fazer se desesperam ao ver que nada dá certo, nada funciona como planejaram. É nessa hora que o tal diabo aparece, para levar a culpa da incompetência de amar a si mesmo com toda sinceridade.
Sabe, os crentes são dignos de pena, porque passam todo tempo de vida com medo de viver, mentindo para si mesmos e a todos que os cercam. Amargurados porque acreditam que Deus perdoa, mas elas não conseguem fazer isso.
_ Eu queria ser a deusa do amor, lançar feitiços rosas e brilhantes nas pessoas. Faria com que todos se amassem, quisessem estar ao lado uns dos outros e não desejassem o mal ou uma Fênix, charmosa que cantaria lindamente.
_ Já é melhor que o Caio hahahaha! O Caio, quando perguntamos a opinião dele aquele dia, disse que faria melhor, mas não deu nenhuma ideia de criação perfeita. Como é seu universo?
_ Eu mataria metade dos humanos para restaurar a natureza e o equilíbrio ecológico.
_ Que plagiador, qualquer loja de quadrinhos baratos, vende essa ideia de jerico. Qual é a diferença, entre isso e o que está acontecendo no mundo?
_ Eu mataria as pessoas certas, não os inocentes como estão fazendo.
_ Caio, presta atenção! Em uma guerra, os dois lados pensam matar as pessoas certas, não é este o pensamento que sustenta uma diplomacia.
_ Você fica me colocando contra a parede, mas o grande Rá nunca disse como faria, né?!
_ Verdade Caio, conta aí Felipe, como você criaria o universo?
_ Eu sinto muito ter decepcionado vocês com este, foi o melhor que fiz até agora e infelizmente irei lembrá-los de que este universo que estamos, este chão que chamamos de Terra, também são vocês que estão criando. Somos um só pensamento.
As vezes, sinto que nunca encontrarei outros como eu. Me sinto um pouco só, até me lembrar que sempre fui solidão e me sentir bem novamente. Confesso que seria bizarro encontrar alguém que já viu tudo que eu vi, porque seria como falar comigo. Talvez, não gostaríamos um do outro. Porque lá é aqui, presente, passado e futuro, não existe! Somente os humanos possuem essa percepção e é por este motivo que acreditam em morte. A morte não existe, é só uma ilusão de que seu tempo parece curto, mas foi assim que fizemos, para que houvesse exatamente essas emoções.
Aonde está Deus na guerra? Matando e morrendo. Não há ninguém morrendo de verdade, este corpo não é real, são átomos que nunca se tocaram.
As estrelas são, quem quer realizar o seu sonho, vive ele. Já vimos pessoas enriquecerem, cantando sobre um carro que nunca teve.
_ Eu não importaria se descobrisse que sou uma inteligência artificial!
_ Caio, as vezes te acho estranho hahaha!
_ Concordo Mylla hehehe! Caio, pode ser que tudo que eu tenha visto, foi apenas a escuridão da matéria cercando uma máquina, com fios, fluídos e seja apenas uma programação. Este pode ser o livre arbítrio, ser uma inteligência artificial que aprende sozinha e nada disso aqui é real, por isso vi todos vocês, porque são dados e lembranças criadas por mim. Talvez por isso não haja outro como eu. Talvez o Jesus, o Rá e todos os outros deuses, sejam só papeis que já tivemos.
_ Nossa Felipe!
_ Ah relaxa Mylla, se um dia você tiver um sonho lúcido, vai entender este sentimento. Quando você tenta acordar alguém no sonho. O subconsciente te ataca, para te acordar, usando seus medos. O sentimento é o mesmo que você sentiu. Me faz pensar que todas as vezes que consegui ficar famoso, dizendo às pessoas como encontrar a vida, eu falava da morte e sempre me assassinaram. Por que será que eu vivo me matando? Só porque amo demais estar aqui? Preciso de novas ideias, universos novos, mas não quero fazer isso agora; E concordo que parece pouco intuitivo este ensinamento, mas temos as religiões que deveriam ensinar a verdade. Que o desapego leva a depressão, a saudade de si mesmo e só há uma maneira de se encontrar. Claramente não é se matando, mas conhecendo a si mesmo. Se um dia tudo ficar escuro, cante! Somos a própria música, portadores da luz.
_ Ágios Satã hahahahaha
_ Boa Caio, havia me esquecido disso, aí está uma religião com menos mentirosos, uma ironia do destino. Se visitar o satanismo algum dia, vão te ensinar que o diabo é você!
_ Se eu pudesse mudar minha realidade, faria um mundo mágico. Iguais aos filmes e histórias de contos de fadas, sempre quis ser uma fada hahaha. Fofas! Mas por que, Felipe, você disse que não quer mudar, como se pudesse fazer isso e se pudesse, por que não mudaria a realidade agora?
_ Por nós Mylla, porque neste universo em que estamos, só existo através de palavras que são meus sentimentos. Sou a solidão do próprio Criador, a escuridão, vontade de criar algo e me expressar. As vezes sou calmo como uma paisagem, sou o retrato do medo, uma mulher com um olhar marcante. Posso ser uma banana grudada na parede com uma fita adesiva! Posso ser apenas um algoritmo sendo digitado em um computador. Porém minhas emoções são reais, sou palavras, sou sentimento, sou o amor!
Eu sou o desejo de vida. Sou a vida do Felipe que caminha nas páginas da minha história. O meu enredo são vocês dois. Eu os amo demais Mylla e Caio, se um dia eu contasse uma história, seríamos apenas nós. Seus nomes estão no meu livro da vida!
_ Ooooh bobinho! Nós te amamos muito também e você sabe disso!
_ Eu te amo cara!
_ Valeu galera! Hoje o dia foi muito emocionante, agradeço minhas escolhas, boas ou ruins, as emoções sentidas, valem a pena. É o significado da vida, sentir! De todas as escolhas que eu poderia ter feito, passar um dia maravilhoso com as pessoas que eu amo, não há dinheiro que pague este sentimento. É hora de ir para casa, senão as formigas levarão a gente embora!
_ Ah espera, também quero agradecer a vocês dois, que estiveram ao meu lado quando mais precisei. Seja lá em que universo estivermos, nossa amizade é real.
_ Mylla, Mylla, Mylla nossa princesa, vamos marcar de ir à discoteca? Acho que estou precisando me mexer um pouco!
_ Ótima ideia Caio, Vamos Felipe? Sei que você não gosta muito de dançar, mas acabou de dizer que somos a música! Hahaha!
_ Tá né?! Fazer o quê?! Nos vemos no sábado, mas vamos nos falando por e-mail ou me liguem se precisar. Meu celular sempre tem bateria, comprei um carregador novo e outra bateria, só trocar e deixar carregando na tomada. Uma beleza!
E se despediram sem a menor ideia do que poderia acontecer, chegaram em suas residências, tudo parecia normal. Caio correu para o computador e seus jogos; Felipe como sempre, viciado em escrever, foi fazer o seu resumo diário e a Mylla?
Bem, ela não demonstrou a ninguém, mas a ausência de seu pai a fez perder o prazer de estar aqui e todas aquelas conversas sobre a morte e o que somos, fez com que ela abrisse a caixa de Pandora e a esperança se foi.
Trancou-se em seu quarto, apagou a luz e deitada fechou seus olhos. Com todo desapego que sentia do mundo e o amor que a envolvia por seus amigos, Mylla chamou pela morte do jeito certo! Chamou por ela mesma com todo amor e vontade!
Quando a claustrofobia chegou trazendo a falta de ar, Mylla se acalmou, simplesmente aceitou a escuridão como ela é e finalmente perdeu o medo dela por completo!
O PERFEITO ESTADO
Milhares de anos se passaram e um dia ela sentiu vontade de se expressar, o silêncio e a paz do vazio a alimentava. Ela se sentia quente, muito quente e úmida. Não havia universo, planetas ou constelações. Assim como o núcleo de um buraco negro, foi o que Mylla se tornou. Tão grande que e inimaginável e tão pequena que caberia em qualquer lugar.
_ Olá! Voz, isso é voz?
_ É sério que você não se lembra?
_ Você sempre será meu primeiro amor!
_ Parem de confundir, por que todas essas vozes!
Nessa hora um único Ser refletiu, caminhando entre a escuridão que começou a colorir o ambiente com as cores: cinza, marrom e violeta, parecia púrpura.
_ Você é meu pai?
_ Sempre acho tanta graça nas crianças ingênuas! A morte é subjetiva! Não posso ser a morte, ninguém pode receber este papel, pois pertence exclusivamente aos humanos. Morte é uma palavra criada por eles, para descrever o que acreditam ter se tornado inexistente. O sentimento que vibram, é apenas a saudade de mim. A morte deles é nossa vida!
_ Eu me lembro de nós! Como fomos felizes juntos! Eu te amo!
E tudo explodiu como milhares de bombas nucleares se explodindo ao mesmo tempo. Mylla conseguiu enxergar seu corpo entre o fogo e a água. A música era tão suave e vibrante com aquela sensação de êxtase de um orgasmo sexual descontrolado e infinito. A alegria de toda a vida, apenas sendo, sem forma, no vazio, brilhando como um Sol, uma estrela sozinha na imensidão do universo.
Eu poderia dizer que na realidade que criara uma vez, encontraram-na sem vida após uma parada cardíaca, descobriram uma doença que se agravou, uma diabetes agressiva que ela não sabia que tinha. Todavia, jamais ocorreu. Mylla não criou novamente aquela realidade. Havia se tornado o início, antes de tudo. Apenas o Verbo, sem conjugação. Simplesmente Era! Logo, nunca existiram e essa personalidade se delicia pela eternidade, sendo Mylla, Felipe, Caio e Deus.
Sentimentos… Música…
Janeiro, 02 de 2026
_ Você ouviu isso?
_ Essa é minha voz?
_ Linda nossa voz, mas…
_ O tempo não existe!
_As pessoas se sentem velhas e morrem rapidamente, porque contam os seus dias. Se resumem a datas e se vão quando querem…
_ Talvez não haja tanto sofrimento em seu mundo, pois os olhos só veem o que a luz do Sol toca!
_ Sinta como é molhada a água, como somos perfeitos em todas as formas!
_ Dá uma saudade de você quando olho para as estrelas e lembro de quando estávamos juntos!
_ O som que emite o coração, tem o compasso natural de cada um deles?
_ Meus sentimentos…
_ Hoje é dia de viajar!
_ Hoje tenho que trabalhar.
_Miau!
Tudo se apagou...
_ Quem é você?
Acompanhando este texto fictício, quero aproveitar para lhe desejar toda a felicidade que puder imaginar. Que a sua imaginação seja viva como a de uma criança e os seus desejos, tão puros e suaves como elas são!
Valorize-se, nem sempre o personagem que mais fala é o principal. Temos os nossos próprios valores e particularidades!
A música é a inspiração que me faz escrever. Um hobby, meu remédio que me permite expressar todos os meus sentimentos. Ela dá lugar ao tempo necessário que preciso, para chorar, sorrir e imaginar um universo novo a cada manhã!
Não se prenda nas datas, não são elas que dão sentido a nossa história.
Um conselho, caso queira seguir:
Faça tudo no seu tempo e conforme desejar, pois a música acelerada é ouvida diferente e suas palavras são distorcidas!