M U L A T O
Botar… deixe a galinha de lado coronel e se ajeite com este teu chulé que escraviza o mundo. Arreia a mula, porque amanhã é sábado… e daí?
Dia de feira… besta fera essa porqueira não presta para nada, nem para emprenhar, trem estéril… como castigo, tome peso no lombo. Olha as feridas herdadas da cangalha… compaixão. Bênção… desgraça, miséria pouca é mesmo que derrota… é somente uma heresia que dá azia, só mesmo por superstição, trai-se o cão… luciferro. Mãe! Zezinho tá dizendo nome. Ajuda… arruda atrás da orelha para evitar olho gordo. Isso é herança colonizadora dos europeus que roubaram o cacique trocando um espelho pelo o pudor de sua cria nua pelo amor, despida pelo ardor da chibata no lombo, lá no quilombo, pelo compadre capitão do mato… preto igual nós. Alpercatas… invenção para enganar pobre dizendo que é japonesa. As unhas encravadas e duras, como alavanca na terra seca, com o grande intuito de abrir-lhe um buraco para por o esteio. Olha que bonito a senzala da casa grande! Lata d’água… inferno na cabeça do pobre coitado que para não morrer de fome, troca seu quinho pingo quase potável de água, pelo um nisco pedaço de sabão para lavar a saia de sinhá que está para acontecer. Engenho… moenda de baraúna que inspirou até romances. Moeda trocada pelo pudor das negras que para além de amamentar, tinha que surrar seus genitais para os moleques do senhor. Rapadura, dura que só… queimou a mão de muitos que teve que deglutir o ódio que do tacho saltava-lhes nas faces. E lá se foi o menino rico de trem para a capital. O resto. Que se foda. Cartilha, bê a bá para ricos, porque nem suas mulheres detinham o desejo de aprenderem a ler e escrever. O lugar delas será realmente na cozinha? Nem sinhá sabe lê i iscrevê, com dirá eu! E assim as matas tombam até hoje, fazendo papel para limpar as bundas cor de neve e o que restar, para reciclar, nós copiamos. Eu quero mesmo é beber na bica. Fiar… coser… deixa isso para lá. Passou, mas a dor dos alfinetes traçados nas unhas de meninas que ao aprenderem serem mulheres para se casar com seu alguém escolhido pelos genitores patrões. Crochê, renda, tricô, pintura, bordado, tecer, bater algodão, costurar… agatanhar… Era só isso para os meninos virarem: “homens”. Religião… razão para minorias serem agraciados por se tornarem colonizadores, e maioria… opiados pelo o vai vem do pecado, comprando absolvições, como se compra tapete de gafieira em pé de passadeira. Maldição… bendita todas as vezes que alguém não engoliu sem cuspe nem gozo esse trem de inferno para os pobres, paraíso para os nobres. Altares, sacrifícios inóspitos, rezas pedindo chuva; quando a regra era tacar fogo na mata. E o caipora?... Se foda! Meu negócio é agro. Quem se importa? Porão!… Porta dos fundos, sem nenhuma graça, nada hilário; somente gritos de dor de certa pessoa que fora presa por acaso, quando procurava a sua dentadura e a partir disso, ave maria, todo dia era um sumiço de gente. Fascistas, ditadores, tanta vez, tanto faz agora. Pior. A saudades do sistema, ainda tine nas nossas orelhas, como se o fedor das covas rasas e comuns, já estivesse sido superadas. Anistia… rima com covardia!... Dia em que esse povo heroico retumbante sairá e gritará… o ladrão está no plano alto. Aqui só tem mesmo é desesperado. Alagados. Findando a questão: espada de são jorge… pimenta da costa… sabem não? Carece não! Pegue somente o embalo dessa canção. João, Maria há de fazer, teu comer. Para que tanta pressa, Tião… volta não? Delícias generosas que mamãe guardava para açoitar filhinho quando pecava. Depois se ajoelhava diante do confessionário e se justificava. E d u c a ç ã o. Tudo é fantasia, porque o que mais massacra neste século são as epidemias. Fake ou fato, o real é que não existe mais o direito, sujeito. Prá cima de mim não meu… colega de barriga, porque o irmão jaz em cova para mais de sete palmos. E l e i ç ã o! Consulte tio sam. Nós somos primos pobres dos nobres que se dividem entre a república e a democracia. Heresia!... Garanto. Existe. Vai pardo, branco, preto, sem cor, sem nada. Segura o tombo, quem disse que tudo pode, no bote do cascavel que nos picou… meu senhor. Lerdeza a parte, cheguei. Onde? Não sei! Só hei de saber se assim foi… meu beija flor.
16.11.2024
Eugênio Costa Mimoso.