A Enantiodromia como processo auxiliador à Individuação sob o ponto de vista da psicologia analítica

O que poderia ter acontecido para que Paulo, inicialmente um perseguidor dos cristãos, ter se tornado um dos maiores apóstolos do cristianismo; Nietzsche, antes um apaixonado pela música de Wagner, ter passado a odiá-la; e Swedenborg, um destacado cientista, ter se tornado o criador de uma nova religião? Para Carl Jung, os três homens teriam passado por uma tendência natural da psique humana, denominada pelo psiquiatra suíço de Enantiodromia. Esse fenômeno da nossa mente é entendida pela psicologia analítica (desenvolvida por Jung) como um pilar fundamental desta teoria, assim como o complexo de Édipo o é para a psicanálise. Freud, o criador desta, escreveu em um de seus livros que por mais fundo que mergulhasse na psique humana, acabava descobrindo que antes dele um poeta já havia estado lá. No caso de seu “discípulo” Jung, poderíamos dizer que a frase tem certa semelhança no processo analítico junguiano do conceito de Enantiodromia, uma vez que, não um poeta, porém um filósofo (até onde estariam as fronteiras psíquicas ou mesmo sociais que diferem ambos?), Heráclito, teria criado a concepção germinal desta ideia.

Aprofundando-se um pouco mais no termo, a Enantiodromia seria uma força psíquica que cresce contrária e proporcionalmente aos desejos de nossa consciência, criando uma força no sentido oposto, inconsciente, e que poderia vir à tona, conforme a estrutura psíquica de cada sujeito, levando o indivíduo a inverter totalmente o curso dos seus desejos, manifestando uma atitude completamente antagônica às suas preferências anteriores.

Para Jung "a única pessoa que escapa da lei implacável de Enantiodromia é o homem que sabe separar-se do inconsciente, não reprimindo-o, pois assim ele simplesmente o ataca por trás, mas colocando-se claramente diante dele como aquilo que ele é.” Essa “dança dos opostos”, que seria uma compensação energética que busca um equilíbrio das forças internas da mente, é um conceito que nos ajuda a compreender outros opostos da teoria de Jung, como Anima/Animus, Eros/Tânato, Ego/Sombra, entre outras estruturas dicotômicas que ilustram e elucidam as ideias gerais da psicologia analítica, principalmente no estudo dos pensamentos neuróticos.

Esse “separar-se do inconsciente” proposto por Jung, uma espécie de abstração dos desejos reprimidos que inundam o inconsciente, a meu ver, pode ser interpretado como um desapego aos objetos, tendo aqui este termo a ideia de tudo o que se distingue da subjetividade do Self, do que existe apenas fora da mente, uma ideia que vai ao encontro das muitas filosofias orientais, como o Budismo, por exemplo. Não à toa Jung procurou aproximar as ideias orientais com as ocidentais, desenvolvendo uma teoria que, poderíamos dizer, culmina com uma total identificação e integração do indivíduo com o seu próprio ser, em uma ampliação da consciência chamado por Jung de Individuação, que é essa jornada interna do homem na sua busca de se tornar um ser totalmente inteiro, autêntico e realizado consigo mesmo.

Ao desvendar os meandros da psique humana, Jung nos oferece um mapa para explorar as profundezas de nossa própria alma. Sua teoria, ao integrar elementos da psicologia, filosofia e espiritualidade, nos convida a uma jornada de autoconhecimento e transformação. Ao compreender os mecanismos da Enantiodromia e a importância da Individuação, somos capazes de desvendar os paradoxos da nossa existência e construir uma vida muito mais significativa.

Igor Grillo
Enviado por Igor Grillo em 22/10/2024
Código do texto: T8179399
Classificação de conteúdo: seguro