Águas do Sapucaí
O que embaixo se lá se vê , das alturas, numa noite escura de inverno, são luzes espalhadas qual filigranas douradas prateadas. Entre elas, a Vila Sutiã (pois tem duas saídas ou entradas) , no bairro Varginha, de Itajubá, em que de uma casa sai dona Emerenciana a carregar , tremendo de frio , uma bacia e barrela de roupas , para elas estender no varal que dá para o asfalto da rodovia.
Assim, dona Emerenciana estende as roupas, mas só até perceber um vulto mal delineado no luar matutino. Está nos galhos da árvore que sustenta uma das pontas do varal...
Mas não é um vulto, assombra-se ela, antes de sair correndo de volta para casa, bacia e roupas molhadas largadas no chão. É um homem cabeludo e barbudo como um lobisomem.
É o Feta, o Profeta, o Galada.
Ninguém sabia seu nome nem de onde era. Profeta aparecera há anos, já naqueles trajes esfarrapados, as botinas gastas, e uma enorme Bíblia na mão. Parava aqui ali, nos botecos, abria o cartapacio e lia. Fechava e continuava falando, aparentemente, o texto sagrado, como se o soubesse de cor, em especial o Apocalipse.
(Continua)