DIA INTERNACIONAL DA MULHER: DA RÚSSIA SOVIÉTICA AOS DIAS ATUAIS

É de vasto conhecimento popular que no dia 8 de março é “comemorado” (entre muitas aspas) o Dia Internacional da Mulher, mas o que poucas pessoas sabem é que essa data não tem nada de comemorativa e tampouco de comercial. Também não tem nada a ver com flores, presentes ou felicitações. O dia 8 de março não foi uma data escolhida ao acaso e diferente do que muitos pensam, não tem nenhuma relação direta com o incêndio na fábrica de tecidos de Nova Iorque em 8 de março de 1857, muito embora esse evento histórico tenha nos legado a cor roxa como símbolo de luta.

O prenúncio do Dia da Mulher, como bem escreve a historiadora brasileira Graziela Schneider, em seu livro “A Revolução das Mulheres: Emancipação Feminina na Rússia Soviética”, publicado em 2017, aconteceu em 1913, durante o Primeiro Dia Internacional das Trabalhadoras pelo Sufrágio (voto) Feminino, quando as trabalhadoras russas se reuniram na cidade de São Petersburgo (que posteriormente viria a se chamar Petrogrado, Leningrado e novamente São Petersburgo) no então Império Russo, e foram reprimidas pelo governo. Em 1917, a Ravnoprávnia Jênschin (Liga da Igualdade de Direitos das Mulheres) organizou a histórica marcha das mulheres russas em 8 de março (fevereiro no calendário juliano). Protesto esse em que as operárias têxteis abriram uma greve geral e se manifestaram contra a fome, as péssimas condições de trabalho da época, o tsarismo, e dentre muitas outras coisas, reivindicavam a saída da Rússia da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Fato que só aconteceria em março de 1918 com a assinatura do Tratado de Brest-Litovsk, assinado entre a Rússia e os potências centrais (Império Alemão, Império Austro-Húngaro, Império Otomano e Reino da Bulgária). Posteriormente, essas mesmas mulheres se posicionariam contra o governo provisório de Alexander Fyódorovich Kérensky (1881-1970), que assumiu o governo com a deposição do então czar Nicolau II da Rússia (1868-1918), durante a Revolução de Fevereiro, e que não realizou nenhuma mudança expressiva na conjuntura política e social no território russo.

A greve e as manifestações de 1917 são consideradas o marco inicial das Revoluções Russas de Fevereiro e Outubro (Revolução Menchevique e Bolchevique respectivamente). Já no ano de 1921, durante a Guerra Civil Russa (conflito que eclodiu em consequência das forças contrarrevolucionárias após a Revolução de 1917), aconteceu a Conferência Internacional das Mulheres Comunistas, que segundo Schneider, evento que remetia a iniciativa tomada pelas mulheres em 1913, oficializando o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, que no ano de 1922 foi reverenciado pela primeira vez. A URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) foi fundada oficialmente em dezembro daquele mesmo ano e perdurou até dezembro de 1991.

Alguns anos antes, ainda em 1910, a jornalista e revolucionária alemã Clara Zetkin (1857-1933), uma das fundadoras da Liga Espartaquista (nome que fazia referência ao líder da maior rebelião escrava da Roma Antiga, Spartacus), dissidente da social-democracia alemã, fundada em 1915 e que desempenhou um papel importante no contexto da Revolução Alemã de 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, propôs pela primeira vez, durante a Conferência Internacional de Mulheres Socialistas na cidade de Copenhague, na Dinamarca, que todos os países em todos os anos, reverenciassem as mulheres em um dia dedicado unicamente a elas. Sugestão que veio a se materializar a partir de 1911, sendo celebrado pela primeira vez na Dinamarca, na Alemanha, na Suíça e na Áustria, no dia 19 de março. Os desdobramentos na conferência em 1910 são parte importante da História do Dia Internacional da Mulher, contudo, a data que conhecemos hoje, do dia 8 de março, remonta aos acontecimentos da Rússia Soviética.

Nadiéjda Krúpskaia (1869-1939), Alexandra Kollontai (1872-1952) e Inessa Fyodorovna (1874-1920) são algumas das mulheres que fizeram história na Rússia e fora dela, representando diferentes ondas do feminismo russo. Aristocratas, filantrópicas, operárias, marxistas, liberais, radicais (…) que se diferiram sobremaneira das feministas ocidentais, que na época, não propunham uma mudança estrutural para a emancipação feminina.

No ano de 1977, a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) declarou oficialmente o dia 8 de março como o “International Women’s Day”.

IMPORTANTE: O presente texto é apenas uma síntese histórica de MUITOS anos de luta pelos direitos das meninas e das mulheres.

Texto escrito por Jéssica L. Flores l Acadêmica de Bacharelado em História da UFPR (Universidade Federal do Paraná)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A REVOLUÇÃO DAS MULHERES: EMANCIPAÇÃO FEMININA NA RÚSSIA SOVIÉTICA. Graziela Schneider. 2017.

HISTORY OF INTERNATIONAL WOMEN’S DAY

https://www.internationalwomensday.com/Activity/15586/The-history-of-IWD

MEMÓRIAS: REVOLTA ESPARTAQUISTA NA ALEMANHA

https://www.esquerda.net/artigo/memorias-revolta-espartaquista-na-alemanha/35347

THE WOMEN OF 1917

https://jacobin.com/2017/05/women-workers-strike-russian-revolution-bolshevik-party-feminism

TREATIES OF BREST-LITOVSK

https://www.britannica.com/event/treaties-of-Brest-Litovsk

Jéssica Flores
Enviado por Jéssica Flores em 08/03/2024
Reeditado em 01/05/2024
Código do texto: T8015221
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