A janela da fazenda e as montanhas de Minas.

A fazenda ainda está lá, a estrada ainda é de terra que faz um poeirão nos dias secos e um lamaçal quando chove.

Roça é assim, tem que gostar, tem que apreciar o silêncio quebrado por instantes pelos bois no pasto que ecoam seu mugido , ou até quando amanhece o canto do galo no quintal serve como aviso tal como um despertador, o carro de boi também faz seu ruído. O mais é silêncio que em nada me incomoda.

A fazenda resite ao tempo, com suas paredes de pau a pique e seu chão de madeira.

O pomar produz várias frutas como pêssegos, laranjas, mexerica, jabuticaba entre outras, têm para todos os gostos.

O café ainda é o que traz uma renda anual com oscilação das cotações periódicas.

Atualmente, virou "moda" produzir com maior cuidado para elevar a qualidade, e o preço.

Fica melhor para quem faz venda direta pois a margem de lucro é maior.

O fogão de lenha está ainda no mesmo lugar, o cheiro da comida vai longe e nos convida a saborear com simplicidade a deliciosa gastronomia, tanto que dá uma vontade de fotografar e colocar

nas redes sociais com a frase típica:

- Aqui é Minas.

Pelo janelão da sala se vê as belas montanhas distante o que também faz lembrar do inicio de um belo texto que começa dizendo:

-Minas não tem mar...

Aí dá uma vontade de responder dizendo:

- Minas não tem mar, certo , mas nem precisa...

Guimarães Rosa já disse um dia talvez ao ver uma paisagem dessa que dá para ver através da janela da sala da fazenda.

"- O sertão é uma casa, sem portas ou janelas".

Guimarães Rosa foi quem melhor descreveu para o mundo essas paisagens de Minas.

Escrevo essas minhas memórias com um sentimento de retornar ao tempo nessa emoção nostálgica de uma existência que insiste em inebriar a mente em recordações de um lugar que parece que parou no tempo, felizmente. Assim digo não com intuito de dizer ser contra a modernidade, do conforto que hoje a tecnologia proporciona, mas confesso que um dia em um lugar caminhando pela estrada de terra ou fazendo uma trilha em direção a uma das muitas cachoeiras que em muitos lugares não tem sinal de celular, acaba sendo um dia de mais sossego e tranquilidade em muitos anos. Tanto assim que acredito ser necessário para de alma nova retomar a rotina.

A roça tem seu valor ainda mais que faz parte da estória da vida, é preciso não deixar morrer o o menino que existe em nós, para que ele não esqueça as origens. Isso ajuda a seguir em frente.

O canto dos pássaros, o ruído do vento nas folhas das árvores produzem uma melodia harmoniosa.

As charretes, as carroças passando enquanto fazemos caminhada faz voltar no passado e ainda que encontramos fazem o típico comprimento dizendo :

- Tarde, quer vir aqui pra "apia" na rua.

Até essa fala pra quem não está acostumado fica complicada, pois quando diz tarde é que mineiro raiz, gosta de simplificar, não fala bom dia ou boa tarde, só vai direto ao assunto, para os leigos na "mineiridade" , o termo "apiar" na rua, diz que ele está indo da roça para a cidade.

A cidade? A descrição detalhada é para outro texto, mas resumindo é uma pracinha com uma Igreja no alto.

O trânsito fica maior só no dia 25 de julho quando é comemorado dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas e viajantes e curiosamente é aparecem mais charretes na fila para homenagear o santo, e receber as bençãos do padre do que automóveis...

A roça , a fazenda, o cafezal, as montanhas de minas, tudo no mesmo lugar causando diferentes sensações, mas o que causa mais nostalgia e um aperto de saudade é ver a cadeira de balanço na sala da fazenda sem a imagem de minha vó Lucrécia contando suas estórias ou até mesmo tirando um cochilo ...