Desvios no caminho

A caminhada da existência definitivamente não se faz por uma via em linha reta, somos constantemente surpreendidos pelo acaso. Pouco adianta perder tempo com lamentos pois é preciso seguir sempre adiante para não sermos atropelados pelo passar impiedoso do tempo. As recordações fazem parte das nossas raízes que servem de experiência para jamais esquecer do passado. Falando em desvios dia desses indo em direção a Caparaó onde existe a beleza da natureza com ótimas trilhas e cachoeiras, por um momento de nostalgia resolvi entrar rumo a Fazenda Boa Esperança, onde era de total posse da família Pena, desde a entrada da estrada que chegava até a venda que era na época ponto de encontro de todos daquela região. Fiquei com um aperto no peito ao ver aquela paisagem que tanto fez parte da infância, bateu uma sensação de volta nos anos onde tantos encontros aconteciam, o campo de futebol um tanto abandonado e no alto como que sobressaindo ainda estava a igreja onde havia o culto todas as semanas. A escolinha onde as crianças do lugar iniciavam suas primeiras lições.

A fazenda mais adiante, já descaracterizada por uma construção mais moderna, ainda parecia ecoar a conversa de minha saudosa vó que protegia suas terras com tanta determinação que com certeza não trocaria aquele pedaço de terra por nenhum lugar do mundo.

Depois que ela partiu, todos foram aos poucos se desfazendo de suas terras. Bateu uma certa tristeza, pior ainda foi quando entrei na venda que por muitos anos vivi no andar de cima onde da sacada avistava longe o cafezal, não contive a emoção e uma visão me veio a cabeça do meu pai com seu humor fazendo sua brincadeiras com os que ao final da tarde após o dia de trabalho passavam pelo local para a prosa do final do dia.

Ouvi a barulho das rodas do carro de boi, ouvi a algazarra dos que vinham do trabalho da roça, os gritos de gol no campo de futebol, agora sofrendo do abandono, o pastor na igreja no alto da colina fazendo sua pregação citando os Salmos bíblicos com suas lições, escutei o vento da tarde a soar no canavial, passou pelo meu pensamento os sonhos de ter um futuro que hoje chegou mas que teima em ser marcado pelo sentimento de saudade.

A vida assim como as estradas possuem seus desvios. Ao abrir os olhos lacrimejados foi como acordar de um sonho.

Tiro algumas fotografias, entro no carro e recomeço o trajeto rumo as cachoeiras do Vale Verde em Caparaó, e me banho em suas águas para lavar a alma após momentos de intensas recordações.