A Produção de Cocadas na Comunidade de Coqueiro de Monte Gordo (BA)

A PRODUÇÃO DE COCADAS NA COMUNIDADE DE COQUEIRO DE MONTE GORDO (BA)

Bibiana, personagem do livro "Torto Arado", narra parte do seu trabalho com a colheita e venda de buritis nas feiras como uma maneira de contribuir na renda familiar. De forma análoga à obra de Itamar Vieira Junior, em que tal trabalho é dirigido majoritariamente por mulheres, há na comunidade de Coqueiro de Monte Gordo, Camaçari-BA a forte ligação com a produção de cocadas artesanais, uma fonte financeira que norteia as famílias economicamente menos favorecidas daquele entorno. Ainda que sem incentivos governamentais ou municipais que possam viabilizar melhores estruturas de produção, distribuição e venda, e consequentemente, impactar positivamente na valorização da cultura local. Eu, Gildevan Dias de Jesus, e grande parte da minha família crescemos vendendo cocadas, assim como outros amigos e parentes.

Por ser uma comunidade rural e sem tanta infraestrutura, parte das atividades econômicas de Coqueiro de Monte Gordo é representada pela venda de frutas e hortaliças na feira do distrito, ou das cocadas comercializadas individualmente pelas famílias nas praias da região. Mas antes mesmo da chegadas nas áreas litorâneas, desenvolvem-se processos como a compra do coco e materiais, corte, descasque, cozimento e embalagem. E consequentemente, todo este ciclo de produção artesanal se soma ao trabalho de venda ambulante que é realizado nas praias.

Apesar de sua difusão como produto na comunidade coqueirense, percebe-se também que a cocada não é garantia de uma renda estável e valorizada no bairro de Monte Gordo. Isso porque segundo relatos de minha mãe, Mirian Alves Dias, no documentário "Cocada Bahia" (de Fernanda Serafim), fora do período de verão é quase impossível vender todos os doces da bandeja. Ou até mesmo ir todos os dias para a praia, já que o fluxo de clientes se reduz consideravelmente na ausência das estações de pico e feriados movimentados. Fazendo da produção desse doce um meio de sobrevivência difundido localmente, mas inseguro e difícil.

Ainda há uma grande percurso para que tal mercadoria possa ser uma fonte de renda menos instável. Mas tanto o mapeamento das fazedoras e fazedores de doces, quanto da implementação de um modelo cooperativista parecem ser caminhos para o melhor desenvolvimento da comunidade, pois através de uma estrutura mais solidária, junta ao aperfeiçoamento do coco como produto, pode ser possível construir a sustentabilidade econômica e valorização cultural da cocada, de forma similar por exemplo, à Coopercuc em Uauá-BA, ao elevar a importância do umbú localmente e afora.