A estupidez humana
Prólogo
Sou como um telescópio – um objecto de observação. Mas tudo que é importante, a vitalidade, a existência e a criatividade são coisas que me atravessam. Não me pertencem.
Não inventei nada. Inventei tanto, quanto as coisas boas que as vezes escrevo, quanto a cor dos meus olhos. Não é mérito meu.
NOTA DO AUTOR
Nos tempos que correm, ditos modernos, o homem não pode simplesmente ignorar as descobertas e os avanços da ciência, porém é imprudente fiar-se de corpo e alma a ela, alias, será que o homem ainda acredita possuir um lado material e outro espiritual? O certo é que por mais avançada que seja, um dia a ciência, ela jamais dará respostas as questões mais intrigantes do homem. Galileu disse e bem que: a ciência diz-nos como vai o céu e não como se vai ao céu.
Parece-me que hoje o homem espera alcançar os céus por via da ciência, renunciando deste modo a sua natureza e transformando-se em tudo menos naquilo que é. Não se trata de nenhuma revelação ou profecia Tudo que está escrito aqui é tudo que já sabes, só que nunca tiveste coragem de experimentar. Qualquer descrição da existência não é a própria experiência. Por isso, experimente tu também!
Transforma-te naquilo que és.
A estupidez humana
“A ciência moderna é um admirável monumento que honra a espécie humana e compensa (um pouco) a imensidão da sua estupidez.”
André Comte-Sponvile
Tudo se deveu a um erro linguístico básico. O ser humano enquanto não tinha a linguagem não pensava como pensa hoje, isto é, em termos conceptuais. Vivia de modo instintivo, assim como os animais. A partir do momento que recebeu este dom de valor ambíguo, porque é um dom venenoso, é o fruto da árvore do conhecimento que atirou o homem para fora do edén, devido a tentação da cobra, este comer do fruto da árvore do conhecimento representa justamente a queda, porque de súbito algo aconteceu com o homem, e ele tombou da inocência, tombou da sua infância. Antes ele vivia na beatitude, na bênção do paraíso. Era o homem e a mulher – os dois pólos opostos do universo fluíam harmonicamente.
De repente o homem deu-se conta que esta nu foi quando teve vergonha de si. Tornou-se consciente de si. Surgiu dentre dele o ego. O ego é a linguagem. A linguagem é óptima para nomear as coisas. E foi isto que Deus disse ao homem para fazer no Éden. Dar nome a natureza, nomear os pássaros, os mares etc. isto é bom conhecimento, isto é boa ciência. O valor baptismal da existência. As coisas ganham uma existência extra por terem um nome. No entanto, o homem deturpou este dom divino e passou a utiliza-lo para discriminar; eu, tu, …sujeito, objecto. Então o erro fundamental do ser humana parte disso. Só agora é que a ciência começa a descobrir que tudo é uma relação de sujeito e objecto. Não existe objecto sem sujeito. Porque só existe objecto quando existir um sujeito para o testemunhar. É necessário existir a todo instante uma testemunha para existir um objecto testemunhado. Para melhor ilustrar, lembramos o velho paradoxo que diz: quando uma arvore cai numa floresta onde não esteja ninguém, qual é o som que faz? A resposta certamente é; ela não faz som nenhum. Nem árvore, nem a floresta existem, porque não está lá ninguém para testemunhar.
A ciência apregoou verdades fantasiosas sobre as razões que justificam o domínio do homem sobre os outros animais. A ciência não sabe nada. A resposta mais sensata para esta questão, prende-se com um outro problema do ser humano. O facto de ele ser o único animal capaz de matar a distancia. É esta a razão porque o ser humano dominou os outros animais.
O homem não é mais dotado dos animais. Fisicamente é o mais frágil, em termos linguísticos não somos mais avançadas. Os golfinhos conseguem ter cinco conversas em simultâneos e diferentes. As baleias têm um sistema de comunicação, que se pensa que muito mais avançado que o homem, e que se propaga de um oceano para o outro.
O ser humano tem uma única coisa. Ele é capaz matar a distância. O homem é capaz com uma lança e projectar e acertar a uma pessoa ou animal que está ao alcance do seu braço. O ser humano é capaz de abolir a distância para duas coisas. Uma é para matar. Ou seja a capacidade de projectar e saber que, daqui de a vou acertar e a b. Portanto, ele consegue fazer uma dobragem do espaço e do tempo. Ele consegue saber que um dado movimento vai ter como consequência directa um determinado resultado. Assim, ele junta o espaço e o tempo. No instante em que o homem pensa em laçar a objecto ele, sabe já qual será o seu efeito. Ele antecipa os acontecimentos. Assim, ele junta o aqui e o ali, o agora e depois. Essa é sua grande vantagem. Ele pode usa-la para matar a distância ou, por exemplo para dizer o sol. O homem pode evocar fenómenos ausentes, desde que tenha conhecimento prévio da sua existência. Ele pode falar do sol a noite, quando o sol se encontra no outro lado do globo. Consegue por via da palavra abolir o espaço. Igualmente aboli o tempo ao falar do mesmo sol, que só será visto no dia seguinte, porém ele, o faz presente nas suas abstracções. Se por um lado, a capacidade do ser humano prever o futuro serve-lhe de grande ajuda, é essa mesma vantagem, por outro lado, a responsável do seu medo fonte das suas muitas frustrações. Se repares os animais não têm tanto medo da morte quanto os humanos. Já lhe ocorreu saber porquê? A resposta é simples. Os animais não têm a capacidade de projectar o futuro nem tão pouco de abolir o espaço. Eles vivem um aqui e um agora contínuo de acordo com uma lei implacável e inflexível da necessidade – O instinto. Nisto o animal é muito abençoado. Não tem medo da morte, sem rancor pelo passado, não se acha extraordinário por ter feito um voo lindíssimo ou por ter capturado uma presa de modo um modo incrível, e como não tem arrogância, também não tem orgulho de si, não tem inveja do próximo, não tem índice de superioridade ou inferioridade, não tem ódio, não medo de morrer.
É perfeito! Vive em totalmente integrado na grande dinâmica, vive totalmente em ligação com as forças do universo. Não sofre. Tem dor física mas, não sofrimento psicológico como o homem. Não tem angústia, não se sente humilhado, não odeia, não se suicida, não precisa de tomar medicamentos para dormir, é uma leveza de espírito. O ser humano tinha a possibilidade de desfrutar disto. Podia sim, o homem viver neste paraíso e, com um grau de profundidade ainda maior, porque a ele foi dada a possibilidade de estar consciente, isto é, a consciência de que está consciente.
É preciso que o homem se reencontre, sob pena de se extinguir na face da terra. Para tal, urge uma reorientação das suas capacidades. O ser humanos está a utilizar muito mal as suas capacidades.
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A partir do momento em que o homem começou a ter necessidade de coleccionar, de acumular bens, deu-se o início do processo da sedentarisação do homem apoiada pela eclosão da agricultura, da escrita e de todo um processo que estimulou excessivamente a mente abstracta do ser humano, o que trouxe um novo conceito; o excedente. A agricultura trouxe o excedente, que deu origem ao comércio, ficando assim traçado o percurso para o abismo. Tendo o homem entrado para uma estrutura mental altamente viciante: Para proteger os seus bens ele teve de criar a polícia e o exército. Com estes novas organizações passaram a surgir homens corruptos, ou seja, homens que por dinheiro matam. Tudo isto para proteger um individuo que começa um processo de enriquecimento indevido. São estes mesmos indivíduos que, para perpetuarem a sua actuação, criaram um outro mal; a cleptocracia que surge com cidade, onde eles, mais tarde passaram a agir como gangsters.
Um cleptocrata dependentemente do nível de hostilidade de seus cidadãos, isto é cidadãos mais organizados são cidadãos mais perigosos, porque se podem organizar e deitar abaixo o poder. Normalmente nestas sociedades em que os cidadãos estão mais organizados entre si, em que o poder civil é mais coeso, os governos estão maior alerta, em relação as necessidades destes cidadãos.
Os estados são por natureza como que formações rochosa ou cristais, que se aglomeram e crescem segundo padrões que são completamente iguais, sempre. Primeiro a tribo, a partir do momento que se consegue um desenvolvimento maior das forças de produção que permite a sedentarisação e acumulação bens, da tribo passa-se para um sistema perigosíssimo, que é o reino, do reino passa-se para nação e da nação passa-se para o império. Este desenvolvimento é feito de forma gradual conforme a evolução tecnológica. E é este desenvolvimento que é perigosíssimo.
A tendência natural dos estados é de se transformarem em império. Os processos de colonização são contínuos. Esse é que é o problema. As veredas para o abismo, foram já palmilhadas, a partir do momento em que o homem passou a ter poder para colonizar o outro, deu-se aí o primeiro grande desastre. A escravatura favoreceu a aquisição de excedente contínuo, sempre mais e mais. Começou-se a criar o luxo, a corrupção e a tratar o outro como objecto para permitir uma acumulação cada vez mais crescente de bens matérias. É nesta etapa em que o ser humano perde a noção de uma existência muito mais dinâmica e fluida. Uma existência de uma dimensão mais ligada a natureza. A natureza se renova constantemente em ciclos orgânicos vivos e belos. Renunciou uma vida em harmonia com a natureza para construir cidades, que são objectos e que estão em constante degradação, e ele tenta segura-los com a pouca que ainda possui. Pena é que a estupidez humana é tal, a ponto de um homem ainda não se ter dado conta de que, é preciso viver em sistemas de existências comunitários saudáveis e inteligentes, como a palm village de Tich Nan Tan.
A muito tempo atrás, Mahatmam Gahndhi defendeu a ideia de uma aldeia Swaraj para responder a demanda pela simplicidade. Segundo ele, aterra dá o suficiente para satisfazer as necessidades de todos os homens, mas não para satisfazer a ganância de todos os homens. Gandhi não acreditava que a multiplicação das necessidades esteja e das máquinas inventadas para satisfazer estas necessidades esteja a levar o mundo, num passo que seja, mais adiante no seu objectivo. As máquinas destroem o tempo e a distância. Algo que ele detestava com todo o seu coração. Em seu ver, as máquinas servem para aumentar os apetites animais de se ir até aos confins da terra buscar da sua satisfação. Se a civilização moderna significa todas estas coisas, como e pensa ter compreendido que sim, Gandhi então, considerada – a uma civilização satânica. Considera igualmente, roubo tirar o fruto do que não necessita ou tirar uma quantidade maior do que a necessária. Muitas vezes, ainda segundo o iluminado, nós não estamos conscientes das nossas reais necessidades, e a maior parte de nós, de modo impróprio, multiplica seus desejos. E, desta maneira, inconscientemente fazemos de nós mesmos ladrões.
A verdadeira economia é a economia da justiça. As pessoas serão felizes desde o momento que elas aprenderem a fazer justiça e a ser correctas. Tudo o resto não é mais do que vaidade, e leva-nos directamente à destruição. Ensinar as pessoas a quererem tornar-se ricas por teimosia ou por malandragem é fazer-lhe uma grande injustiça.
A ideia de Gandhi de uma aldeia Swaraj é a de uma república perfeita, independente dos seus vizinhos nas suas necessidades vitais e, no entanto, inter-dependente em muitas outras coisas que a dependência é necessária…. Numa estrutura composta por várias vilas, a vida não será uma pirâmide, com o topo sendo suportado pela base, mas ela será um ciclo oceânico cujo centro estará em cada indivíduo. O ciclo exterior não utilizará o poder para esmagar o ciclo interior, mas dará força a todos dentro ciclo, e buscará também a sua força dentro dele. A vila que Gandhi fala aqui, não é uma dessas vilas que conhecemos hoje em dia. Esta vila é a vila dos seus sonhos e ficou apenas na sua mente. E, ao fim e ao cabo, todos os homens vivem no mundo dos seus sonhos. Na sua vila ideal habitariam pessoas inteligentes, que não viveriam no meio da sujidade e porcaria, como os animais. Tanto os homens e os animais seriam livres e teriam a capacidade de afirmar a sua vontade contra a outra pessoa qualquer do mundo. Não haveriam, nem praga, nem cólera, nem sarampo. Ninguém seria preguiçoso, ninguém iria chafurdar na luxúria. Toda gente teria de contribuir com o seu trabalho manual. Seria possível conceber caminhos-de-ferro, correio e telégrafo … e talvez outras coisas parecidas…
Gandhi era contra a loucura das máquinas. Não era contra a máquina em si. Era contra esse fanatismo pelas máquinas que poupam mão-de-obra. O homem continua a “poupar” mão-de-obra até que milhares de pessoas são atirados para as ruas, sem emprego, para morrerem de fome.
Hoje em dia, as máquinas somente ajudam uns poucos andarem montados nas costas de milhões. O ímpeto por detrás disto tudo não é a filantropia de querer poupar trabalho, mas sim a ganância. É contra este tipo de coisas que ele lutava com toda a sua energia. Defendia também que o objectivo a ser procurado é a felicidade humana combinada com o desenvolvimento total, a nível mental e moral. Ele, usava o objectivo moral com sinónimo de espiritual. Este fim pode ser atingido pela desconcentração do poder. Centralização, como sistema é inconsistente com uma estrutura de sociedade não violenta. – Ao contrário disso, vivemos numa sociedade construída sob os alicerces da ganância e da descriminação.
Segundo a antropologia, uma civilização define-se pela capacidade de gerir conflitos. Quanto mais elevada for a ausência de conflitos, mais elevado será o nível civilizacional desta cultura. O que indica uma integração da infância, da mulher e do idoso, bem como de níveis intelectuais articulados com uma bases de valores sólidas. Já houve culturas assim. Completamente não bélicas. Mas, infelizmente estão a extinguir-se; é o caso dos bosquimanes africanos e os aborígenes australianos. Cito-os aqui como civilizações porque possuem aspectos civilizacionais e culturais profundos com centenas de milhares de anos e que vivem em perfeita adaptação com o meio. Que outra definição de evolução de uma espécie. É a sua adaptação ao meio. Primeiro apresentamos uma estrutura de avaliação humana, que é ligada a evolução e depois uma estrutura de avaliação biológica que esta ligada a capacidade de adaptação ao meio. O ser humano esta completamente desadaptado ao seu meio hoje dia. Tem de agredir o seu meio para se sentir bem, a tal ponto que esta a perigar a sua existência e do próprio meio. As estatísticas só podem errar por defeito. O ser humano é responsável por cento e cinquenta mil extinções de espécies por ano. É muita barbárie! Do número inicial de grandes mamíferos que existiam na terra setenta por cento foi totalmente aniquilado, pelo homem. Nos anos de mil seiscentos e sessenta foi aniquilada, pelos ingleses, a última vaca de água. Um animal raríssimo que existiam na Ásia, que pesava dez toneladas. Foi comido também neste período último doudó – uma ave totalmente pacífica que media cerca de dois metros, desapareceu do planeta em tempos modernos ou, mais recentemente um tipo de pássaros de cabeça dourada que existiu nos estados unidos. Quando matavam uma ave, todas outras vinham juntar-se para ver o que se passava com a amiga atingida. Assim, na sua ingenuidade o ser mais racional da terra os eliminou.
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O mundo não tem explicação. O homem tem que deixar essa sua mania de explicar as coisas. O cosmo e o universo. Há fenómenos que devem apenas ser contemplados. O sabor de uma boa muamba, um calulú daqueles bem feito só é sentido por quem a aprecia, por que a prova e a sente. O indivíduo que nunca provou esta combinação de iguarias e ouve a descrição só vai usar da sua imaginação e fantasia. Não saberá nem sentirá o que realmente é. Não é sensato tentar explicar o porque que quando olhas para uma mulher a achas linda. Podes é multiplicar as descrições. Será apenas descritivo. Mas nunca é o porquê. Mais uma combinação diferente da fantasia. E a única coisa na vida que realmente interessa é experiência directa e total. A unificação absoluta entre o sujeito e o objecto. Compreender que o objecto diante dos meus olhos não existe, está em mim. Tal como nos teus sonhos. Aquelas imagens que vês estão em ti. Os vastos oceanos, as altas montanhas estão em ti. Estão na tua mente. Essa experiência directa da vida não necessita de explicações. Uma comida para ser boa não precisa do cardápio. O cardápio diz apenas o que há cozinha para que possamos pedir. Por isso não desmonte, não analise sintetize. Viva a experiência de um modo directo. Ao observares a natureza viva e testemunhe o objecto. Permita que este instante te unifique a beleza deste objecto, porque a beleza deste objecto não existe sem você. Ela existe em ti. Tu és a testemunha desta beleza. Sem esta beleza não teria tido existência. Aproveite ao máximo este instante. Este aqui, aí e agora é irrepetível. É um evento único em todo o planeta. E o instante seguinte é outro. Tudo flúi, tal com dizia Heraclito.
A substância do universo é este movimento, em que as diferentes camadas, desde o ínfimo ao incomensurável se espelham. Ao observares os movimentos das galáxias parece uma fotografia do planeta terra feita de cima dos movimentos das nuvens e, observas os movimentos das ondas do mar, os remoinhos, perecem-se aos das nuvens e parecem as galáxias. Se te aproximares verás que tudo se reproduz até chegarmos ao átomo. A nuvem electrónica é como um sol que os planetas provocam. Dentro do olho humano há um sol que se parece com estas nuvens electrónicas. Há núcleo em expansão. Lá estão reunidas todas as formas; do ínfimo ao incomensurável e se reproduzem com uma ordem total que se movimenta vertical e horizontalmente. Porém, o homem, insiste em ver o mundo na horizontalidade. Ele acha que sempre que criar uma história e explicar tudo. Isto é ridículo. A história não vai linear como os homens a contam. A história é um movimento total e integral que não só se prolonga no tempo em linearidade mas, como se movimenta desde o colossal das galáxias até ao ínfimo dos átomos. O nosso planeta está na ponta da via láctea e essa galáxia está algures num cacho de galáxias que gira em volta do que se pensa ser um super sol ou, um aglomerado de milhões de sois ou se até é, um aglomerado de milhões e milhões de buracos negros que estão já a chupar todo este universo para outras dimensões. O homem é o epicentro da experiência. É nele que tudo acontece.
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Os processos de globalização e industrialização geraram perda dos estilos de vida tradicionais e ecológico responsáveis pelo suicídio de cerca quarenta mil agricultores por ano na índia. A substituição destes estilos de vida que se assentam na produção de subsistência, por grandes planos industriais de produção em massa de alimentos transgênicos, ameaça destruir todo um tecido social, não só a nível económico como a nível ambiental e fundamentalmente cultural e espiritual. Lembro-lhe que foi graças a industrialização que as piores coisas foram feitas. Vejamos bem, o mundo actual tem os seus pilares assentes em uma base de três elementos; o comercio triangular, a inquisição e a escravatura.
O comércio triangular transformou-se, na nossa linguagem moderna, em outra coisa. Hoje chamam-lhe globalização. A inquisição que andava a matar pessoas em nome de Cristo, hoje transformou-se na nova ordem. Estas duas grandes ideologias; a de estrutura capitalista, que venceu nos países ricos e a comunista nos países pobres, que agora também se transformam aos poucos em capitalistas. A escravatura que se converteu nesta criação de necessidades fictícias nas pessoas e, para elas terem estas necessidades satisfeitas trocam o bem mais precioso que têm: A liberdade. Passam, deste modo, maior parte das suas vidas pagando em horários assassinos de trabalho quarenta e cinco horas por semana, na porcaria do mesmo escritório, para andar num GX, ter um telemóvel da quarta geração, e viver numa mansão no mussulo.
Os homens prostituem-se por estas futilidades, sem necessidades verdadeiras. Perderam a noção do essencial e do acessório. Não me entendam mal.
O homem não precisa certamente abdicar dos seus conhecimentos médicos e tecnológicos mas, é preciso neste momento da história da humanidade transcender. Aproveitar tudo o que é útil e avançar para um nível em que o ser humano já não mais será visto como a soma dos seus órgãos. O homem não é apenas a some um de um pâncreas, coração e pulmão. Ele é a soma disso e algo mais, pois já apresenta um nível de complexidade que articula e integra todos estes órgãos e as supera.
Preocupa-me imenso o estado avançado da deterioração do ambiente. É urgente que se faça uma utilização mais inteligente dos combustíveis fósseis. Milhões de pessoas gastam combustíveis e poluem o ambiente a troco poucos ganhos. Nas sociedades tidas como modernas ou evoluídas é, frequente vermos centenas de viaturas a circulam de um lado para o outro com um ou dois indivíduos lá dentro. Está comprovado que se as sociedades criassem redes de transportes colectivos, utilizando os caminhos-de-ferro, não só poupariam imenso dinheiro, como seria ecologicamente muito mais apto Mas é obvio que isto não vai acontecer, pelo menos, enquanto as multinacionais ligadas a produção dessas máquinas continuarem ávida de milhões em suas contas. Este processo de acumulação indevida e excessiva de bens matérias sob contribui para exacerbar as assimetrias já gritantes entre os ricos e os pobre. É um absurdo ouvir-se falar em desenvolvimento sustentado e igualdade de oportunidades no mundo, quando metade da riqueza mundial esta concentrada em duzentos e quarenta e cinco indivíduos. E outros milhões de habitantes não têm pão e abrigo.
O ser humano deturpou o conceito de bem-estar. Há fenómenos de miséria que o homem não associa normalmente a miséria. A quem julgue que viver num décimo segundo andar de um prédio Tóquio é uma grande sorte. É ter uma boa qualidade de vida. Mentira. Isto é uma ficção da sua mente. Em termos reais, naturais do seu corpo, enquanto ser humano, enquanto ligado à natureza, com uma dimensão animal, com suor, sangue, esperma, células, dentes, saliva etc. O ser humano está a viver uma vida completamente grotesca quando passa a maior parte do seu tempo fechado em quarto parede, a olhar fixamente para o ecrã de um computador, a utilizar a sua cabeça simplesmente para fazer contas e mais contas, abstracções e mais abstracções. Passa o tempo todo a projectar universos fictícios, artificias que não têm nada haver com o seu ser. Enquanto o seu ser é a sua corporalidade, é ele saber que tem e respeitar o seu corpo. Respeitar o sol que lhe passa na pele, o ar que respira, interagir com seus filhos, amar sua esposa, respeitar os anciões. Ao longo de toda a história a humanidade viveu em constante interacção natural com o meio, o que valeu a muita experiência de que hoje se serve. O homem tem de diversificar a sua experiência íntima, pois só ela pode ser verdadeiramente criadora e inovadora. A muito que ele deixou de viver a experiência íntima. O que tem vivido é uma repetição, em combinações diferentes, de uma mesma experiência. Não é possível criar nada de novo a partir do momento em que se esgotaram certas combinações e certas modalidades de experiências. O homem pode até dar um enorme avanço tecnológico, ao ponto de poder usar vinte e um telemóveis em simultâneo, ver trinta e um canis televisivos ao mesmo tempo, ou ainda o que se faz hoje, estar no hi5 a ver milhentas fotografias de amigas de outras milhentas amigas na Internet, viajar a jacto para todos os cantos do mundo, ter o Whisky mais velho e a mulher mais linda do mundo, isto nunca vai realmente o satisfazer. O que interessa realmente é a experiência vivencial. e íntima
Liberta a tua mente e espírito. Não viva mais um segundo sequer preso nesta ficção. Experimente um estilo de vida que realmente vale a pena. Não comprometa o futuro em detrimento de prazeres momentâneos. O planeta pertence a todos nós vamos salva-lo.