Pêssegos maduros.
Ali não era para nascer pêssegos, mas nasceu, uma árvore tão grande que carregada de frutos chegava ao ponto de cair pelo chão os mais maduros.
Puro desperdício, porém era tanta quantidade que a dona daquele terreno não conseguia conter a vontade daqueles que passavam pela estrada "crescer o olho".
Era comum minha vó ao ouvir o barulho de algum meliante ao invadir o terreno , sair de espingarda na mão e espantar o incauto com alguns tiros para o alto.
Podem acreditar, minha vó era muito brava, e ficava tanto quanto mais irritada quando alguém tentava surrupiar seus doces pêssegos, ótimos para saborear mas também para fazer deliciosos doces.
Ela tinha essas coisas de proteger o território.
A fazenda era seu país, tenho absoluta certeza que ela jamais deixaria aquela terra, "seu" solo sagrado.
Tanto é verdade o fato é que um dia ela partiu exatamente após uma dor forte no peito a fazer cair no quintal bem próximo da árvore que ela cuidava com tanto carinho.
Lembro até hoje quando descreveram o acontecido em sua partida, era como se víssemos a cena de minha vó se curvando ante a árvore que ela tinha costume de com suas mãos em torno do tronco abraçar e dizer que sentia uma energia boa quando encostava seu corpo no pessegueiro. (Prunus persica) a árvore de fruto da família Rosaceae, originária da china e cultivada a mais de 4000 mil anos.
Em sua pureza minha vó não possuía esse conhecimento, ela apenas amava o pomar, especialmente aquela árvore.
Ela sabia coisas da terra apenas por experiência da prática que a vida lhe ensinara.
A Fazenda se chamava Boa Esperança, era de sumir de vista de tanta terra, chamava como terreno dos Pena, família de seis irmãos.
Após a partida da minha saudosa vó Maria, todos se desfizeram do seus "pedaços" de terra, imagino que ela deve ter se "revirado" no túmulo por não terem mantido aquela terra em família, com os herdeiros.
Assim acredito que aquele pessegueiro, se é verdade, como muitos dizem que as plantas tem sentimento, deve estar sentindo muita falta daquele abraço afetuoso que ela sempre proporcionava ao cair da tarde, como se tivesse a dialogar com ela...