O tapete da Semana Santa

Para compreender melhor o significado de Corpus Christi, é essencial, antes de tudo, analisar o estágio inicial de transcendência individual e budista, exemplificada por Sidarta, o jovem de casta nobre, com destino profetizado como príncipe ou místico, que abandonou esposa e filho,assim como a vida luxuosa da monarquia indiana, para conhecer o mundo da velhice, do sofrimento, da doença e da morte, mendigando pelas ruas, em vida completamente ascética e caracterizada pela auto flagelação, suportada fisicamente pela meditação profunda, finalizando na prática do meio termo, prolongando a morte física e obtendo o renascimento espiritual, cujos ensinamentos deixou somente erudição oral e não escrita.

Igualmente importante, é entender a vida de Maomé, mercador que se casou com uma viúva rica, ao mesmo tempo em que teria começado a ter visões com o arcanjo Gabriel, que deu-lhe autoridade de ser profeta de Alá, para unificar as religiões politeístas árabes, sob o único Islamismo,iniciado pela conversão da família, dos amigos, das tribos próximas, e mais tarde, da nomeada cidade de Medina, e,por final, a cidade de Meca, de onde precisou fugir, para não ser morto, reagindo com o lema “Morte aos infiéis”, mais tarde consolidando o império político, militar e religioso, dois anos antes de sua morte, materializado pelas escrituras do Alcorão.

A vida opulenta desde a nascença ou a partir da juventude; o chamado espiritual ou acrescido do político e militar; o conhecimento das tragédias do mundo pacífico ou das guerras tribais; a auto flagelação punitiva ou a espontânea arregimentação severa militar, o meio termo na preservação do corpo e da meditação do espírito ou a radicalização religiosa para se manter vivo; o sucesso da iluminação do estado de Nirvana ou da unificação da Arábia, a morte legando a erudição espiritual ou também o radicalismo religioso, são paralelos distintos e conflitantes, dos dois líderes, incomparáveis ao maior mestre de todos: Jesus.

A vida pobre e ascética desde a humilde nascença no manjedouro, o chamado celestial com entrelinhas políticas, o conhecimento futuro de sua própria tragédia vital e mortal, a flagelação punitiva terceirizada e inimiga, o máximo termo na conservação do corpo sustentado pelo espírito superior, o sucesso da missão divina, com a aparente derrota da morte física, é o legado extraordinário em não se limitar ao próprio salvamento, das tribos de uma nação, mas à própria humanidade, sem limites de qualquer tipo, tempo e lugar.

Daí a merecida eucaristia, o sacramento do profeta, que sacrificou sua integridade e vida corporal, para espalhar seu sangue real e virtual, distribuindo a essência milagrosa, aos crentes de todo o mundo, através de cruel e sangrenta crucificação, provando tamanho amor aos seus semelhantes vivos, mortos e ainda por nascer, pelo preço pago ao demônio, enganado pela barganha divina, revelada pela ressurreição posterior, libertadora da escravidão mundial ao mal e de sua missão celeste, festejada pela Páscoa, passagem da morte para a vida, comemorada com a procissão, representando a caminhada do povo de Deus, a peregrinar à Terra Prometida, alimentado pelo maná no deserto, ou pelo próprio corpo de Cristo.

Inexiste em qualquer canto do mundo, onde o tapete de flores, serragem, café, carvão, terra e areia, contenham passagens da vida e morte do santificado, tão belas e trágicas, carregadas de tão profundos ensinamentos, lições, verdades e sabedorias, a serem caminhadas pelas gerações presentes e futuras.

massami
Enviado por massami em 10/04/2023
Código do texto: T7760115
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