A tentação humana
A tentação humana, de tentar empacotar o infinito divino dentro do finito humano, é a sina histórica, civilizatória e transmitida de geração a geração, desde que o portador de sua consciência, evoluiu de simples observador passivo e humilde, dos fenômenos naturais, atribuídos às divindades, até ao protagonista ativo e soberbo, de pretender substituir o criador, com suas próprias ações e criações.
A invenção de armas, munições e todo tipo de artefato bélico, permitiu a conquista e manutenção de vastos e longínquos impérios, por toda a face terrestre, construindo um domínio militar, político, religioso, social e ideológico, tão amplo quanto possível para um mortal, prontamente atribuído a si próprio e/ou pelo povo governado ou conquistado, como um deus ou semi-deus, indiscutível, até que outro, mais esperto e poderoso, lhe tomasse o lugar.
A alcunha divina do governante permitia-lhe todo tipo de ato absoluto, benigno ou maligno, sobre o povo indefeso, crente e escravo, de sua própria idolatria, que cegava a percepção da realidade, abafava os gritos da revolta, tornava-o surdo aos chamados da consciência, deixava inodoro a podridão da corrupção e eliminava qualquer dieta aos prazeres da felicidade.
A deturpação dos sentidos atingia também a capacidade cognitiva, em discernir o certo do incerto, o moral do imoral, o justo do injusto, o moderado do exagerado, o adversário do inimigo, o verdadeiro do falso e o amor do ódio.
A aprendizagem é anulada, no momento em que não se aceita nada diferente e estranho ao que se acredita piamente sem discussão; as emoções tolerantes e perdoáveis são permutadas pelas intransigentes e puníveis; o raciocínio ponderado é excluído e sobreposto pela adoração dominante; a linguagem da crítica oposta é amenizada, relativizada e neutralizada, enquanto que a apoiadora é exagerada, superlativada, e mandatória; a memória apaga os fatos ruins enquanto que evidencia somente os positivos, num processo de lavagem cerebral, tornando o seguidor do líder em marionetes ventríloquos da vontade deste.