O mito de Frankenstein

Curiosa é a literatura. No século XIX foi escrito o livro Frankenstein ou o Prometeu Moderno, eternizado apenas como Frankenstein.

Não vamos aqui fazer uma análise da literatura. Não é esse o intuito. O intuito é, a partir desse tema, discutirmos a busca do homem pelo significado da Vida e o mito da Criação.

O Prometeu original, da mitologia grega, ludibriou os deuses, principalmente seu amigo Zeus e deu à humanidade o fogo, conhecimento que os deuses do Olimpo não queriam.

Já o Frankenstein recebeu de seu criador a oportunidade da vida, embora fosse, segundo consta, horrendo. Há aqui um ponto a se observar; em um dado momento, Prometeu dá a humanidade o fogo. No segundo caso, ele recebe a chama da vida…

Pois bem, focando na segunda narrativa, da criação de um ser a partir da matéria inanimada, surgem diversas perguntas: Como a matéria inerte é capaz de manifestar a Vida? Quando a vemos, sabemos identificar o que é uma matéria animada, uma matéria com a chama da Vida? E como é possível da matéria inerte surgir a vida? A ciência é ainda incapaz de qualquer explicação nesse sentido.

E por mais que tentemos encontrar a essência do que é Vida, do que gera a Vida, talvez estejamos ainda muito longe de compreendê-la.

Na literatura encontramos inúmeros exemplos dessa busca do ser humano de entender a origem da Vida. Mas ainda assim, continua um mistério. A matéria inerte descrita na química torna-se animada e consegue a partir daí reproduzir-se ou, em grau mais sutil, pensar na abstração do significado do que é Vida, como fazemos agora.

O que é Vida? E como ela surgiu?

Será que o sopro divino, que anima, que dá Vida, é a explicação melhor? O que é esse sopro divino descrito na Bíblia? O que é a alma, que possui a mesma origem etiológica de animar? Como é possível esse sopro divino dar ânimo, impulso, para que a matéria inerte se torne viva?

Outro aspecto importante nesse mito trata-se da busca por entender o ato criativo. Ora, se Deus criou o homem e toda a natureza, do macro ao micro, o ser humano também é criatura, fruto de um pensamento que se tornou real. O ser humano, no entanto, não aceita ser a criatura, quer ele próprio ser o criador. Quer ser capaz de gerar a vida. Aí está outro ponto importante; a necessidade de entendermos nosso papel no cosmo. Se somos criados à imagem e semelhança, então somos capazes de fazer o que os deuses fazem. Essa busca está presente inconsciente ou consciente, qual seja, a busca por entender quem nos criou.

Se formos criados, por que Deus não nos aparece? E ao criar o Frankenstein depara-se com a criatura e foge. Teria Deus fugido após criar o ser humano? Seremos capazes de nos perdoar, tal como a criatura faz na obra literária?

A chama ou o fogo presente em ambas as histórias talvez se refira a esse conceito da energia criadora, do potencial presente nela de gerar a vida.

Ora, no fundo, o que percebemos é que a literatura é um caminho para olharmos para nós mesmos, nossos medos, nossos dramas, nossas dúvidas.

Por vezes somos incapazes de fazer essas perguntas, mas através da ficção, a pergunta nos aparece.

Será que Deus nos esqueceu? Ou será que Deus está presente? Será que temos, como criatura, capacidade de entender a vontade do Criador? Será que poderemos um dia entender a Criação?

São muitas perguntas, que, inconscientemente, impulsiona-nos a seguir em frente. Quem sabe tornando-as claras podemos entender melhor a presença do Criador e a existência como criatura.

julianopd
Enviado por julianopd em 28/02/2023
Código do texto: T7729507
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