Tema livre

A professora mandou escrever uma redação valendo nota e disse que o tema era livre.

Imediatamente instaurou-se o pânico dentro de mim. Enquanto outros alunos facilmente falavam sobre viagens, passeios, festas, surf, skate, futebol, etc, a única coisa que me vinha a cabeça era: "E agora, vou escrever sobre o que?"

Detalhe: Era aula dupla de Língua Portuguesa (minha matéria favorita) e ela deixou a segunda aula para escrevermos a bendita redação, o que dava 40 minutos.

Imaginem 40 minutos de total falta de ideia, de criatividade justamente na aula que eu mais gostava, eu ia para a escola basicamente pelas aulas (e pela professora) de Português.

Abri o caderno numa página em branco, peguei lápis e borracha, escrevi dia, mês, ano, nome da escola, da professora e da matéria, pulei uma linha, escrevi "Redação" e... Mais nada. Zero. Niente. Nothing. Minha mente era um vazio total, um vácuo improdutivo.

Fiquei encarando a folha e ela me olhava de volta, como se perguntasse: "E aí? Isso é tudo que você tem para mostrar? Esperava mais,hein?"

30 minutos para acabar a aula e entregar a redação. A professora, sentada em sua cadeira conferindo a chamada, lição de aulas anteriores, ou se preparando para ensinar outra classe. Os alunos, em volta, todos trocando ideias, disputando quem terminaria primeiro, como se fosse um torneio, onde no final o "vencedor" receberia uma medalha ou uma coroa de louros.

20 minutos e os primeiros vitoriosos surgem ao som de "Professora, já terminei. Posso entregar?" A pessoa sabe que não só pode, mas deve entregar o texto, mas faz questão de vociferar sua vitória para que TODOS ouçam e sintam-se derrotados. A professora, volta rapidamente a atenção, e olhando para a classe diz:"Quem terminar a redação, deixe em cima da mesa e pode ir embora."

10 minutos e eu continuo com Redação, escrito na folha. A essa altura metade da classe já entregou e saiu da sala, enquanto a outra está entregando e saindo.Nesse momento, o olhar da professora varre a sala de aula em busca de retardatários, ao mesmo tempo em que recebe o texto dos que terminaram. Quando eles caem sobre mim, vem a fatídica pergunta: "Você ainda não escreveu nada?" Isso faz alguns alunos que ainda estavam fazendo e entregando suas redações olharem para mim. "Se você não escrever e entregar, vai ficar sem nota."

Faltando 5 minutos, eis que tudo o que eu não escŕevera até ali vem de uma vez, numa enxurrada.Nunca escrevi tão rápido na vida! Lembrei de uma música que ouvirá na rádio e inventei uma história sobre ela.Era uma do Gabriel, O Pensador, que fazia sucesso na época chamada Resto do Mundo. O engraçado é que antes não conseguia sequer começar a escrever,depois, não conseguia parar.

Entreguei em cima da hora, ao som do sinal, e fui para casa. No dia seguinte, enquanto uns se vangloriavam por terem recebido as melhores notas e outros lamentavam não ter recebido, eu estava ansioso por saber que nota eu havia tirado, quando, para minha surpresa, além de um "Excelente!!! " (assim mesmo, com três exclamações) no começo da redação, no final ainda ganhei uma observação:

"Parabéns pela escolha do tema."

Tal qual naquele dia, eu não sabia como começar e nem sobre o que escrever. Mas a vida é assim. Muitas vezes nós só temos que dar um passo, mesmo sem ver a estrada inteira, dar o chamado salto de fé.

No meu caso, a escrita de fé.

Glauco Luiz Guimarães
Enviado por Glauco Luiz Guimarães em 24/02/2023
Código do texto: T7727091
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