Lembranças da Boa Esperança.

Ainda não me sai da memória a calma de minha mãe, jeito simples, carinhoso mas quando se tratava de ser enérgica não lhe faltava a força do argumento.

Confesso que em alguns momentos isso me incomodava, diria até que minha mãe me causava uma dose de "irritação", tudo porque ela sempre tinha razão, hoje isso ainda me parece mais claro.

Sua voz doce e suave escondia uma determinação e comprometimento com as pessoas.

Ela estava sempre disposta a ajudar quem quer que fosse.

Lembro da época da fazenda Boa Esperança, onde tínhamos uma venda, ou melhor, um ponto de encontro que na verdade tinha de tudo um pouco, desde coisas da roça, como também, botas e utensílios de uma maneira geral.

Minha mãe sendo Farmacêutica possuía conhecimento para executar algumas tarefas do que definimos como atenção básica,na área da saúde, como orientar as pessoas do ponto de vista de cuidados e até fazendo tratamento de alguns casos de feridas e também aplicava medicamentos injetáveis, o que muitas das vezes fazia apenas no sentido de fazer alguma ação para o próximo , sem nenhuma cobrança de honorários.

Era um tempo de dificuldades, não havia facilidade de comunicação, as estradas para se chegar a Carangola eram muito precárias, a Boa esperança era um ponto de convergência dos diversos lugarejos ao redor, como a Ventania, São Gonçalo e outros menores como o Taboão.

A economia girava em torno do café e de uma pecuária básica.

A fazenda continua no mesmo lugar, a Igreja no alto da colina parece abençoar o entorno, a Ventania, São Gonçalo, um pouco mais acima onde a comunidade sempre aparecia para uma prosa e fazer umas compras também.

As lavouras do café, o canavial, as novilhas no pasto produziam uma paisagem bucólica digna de belas fotografias de saudosas recordações.

A família Pena que naquele tempo "dominava" a região, já não se encontra ali.

Alguns partiram para outra dimensão e os da nova geração não tinha apego a terra e foram "ganhar" o mundo.

Tudo tão igual e ao mesmo tempo diferente, pois falta "os Pena", especialmente meu pai Ezequias, pois a venda a Igreja, o cafezal, e também a fazenda, com certeza que também não é mais a mesma, pois o casarão antigo deu lugar a uma construção moderna, com menos charme,mas os discos antigos de vinil ainda estão guardados agora em outro lugar,assim Jacob do bandolim, Elizete Cardoso, Augusto Calheiros, não tocam mais por essas "bandas", mas na venda, onde tem uma mesa num canto, um vento de nostalgia parece fazer ecoar uma antiga canção composta por Sérgio Bittencout com gravação do inigualável Nelson Gonçalves que insiste trazer a tona lembranças do passado que diz:

"Naquela mesa ele sentava sempre

e me dizia sempre o que é viver melhor

Naquela mesa ele contava histórias

que hoje na memória eu guardo e sei de cor...

...naquela mesa "tá faltando ele

e a saudade dele tá doendo em mim...