Quem manda nos meios de comunicação?

Em geral, os meios de comunicação buscam garantir a liberdade de informação a seu público, ao passo que também tentam agir de forma a evitar abusos, gerando assim um impasse que nos faz questionar interesses e a responsabilidade social da imprensa.

A televisão, por ser um meio de comunicação visual, atrai a atenção do público e torna mais próxima a relação entre espectador e atração, de modo a sugerir programas de responsabilidade social.

O programa ''Brasil Urgente'', da Rede Bandeirantes, exibido nos finais de tarde, comprova o impasse entre mostrar ao público um conteúdo de cunho jornalístico e invadir a privacidade de famílias humildes. A equipe de jornalismo invade a casa de pessoas em situações dramáticas para ''mostrar a realidade'', e é incentivada pelo âncora do programa, o jornalista José Luís Datena, a questionar particularidades, gravar imagens e entrevistar cidadãos, de forma a intimidar pessoas e gerar desconforto para as mesmas.

O público parece pouco preocupado e, ao invés de se voltar contra tais atitudes da mídia, reage de forma passiva, apática, aprovando e gostando do que é exibido, pois satisfazer suas próprias curiosidades perversas sobre a vida alheia torna-se mais interessante do que criticar e reprovar programas sensacionalistas.

A equipe de jornalismo tem apoio e permissão para invadir a privacidade das pessoas. Quando entram nas casas de pessoas humildes é porque foram autorizados ou obrigados a isso; mas será mesmo que precisam aceitar ordens desse tipo? ou ainda: será que a ética jornalística está baseada na vontade de empresários, donos de empresas e linhas de contratos para exibir a intimidade alheia?

Enquanto houver jornalistas se submetendo a contratos e se comprometendo a satisfazer tanto as curiosidades perversas dos espectadores quanto os interesses financeiros de empresas privadas, as quais detêm grande parte dos meios de comunicação, não haverá solução para o impasse, pois é necessário que os próprios jornalistas, os quais compõem e são parte fundamental dos meios de comunicação, respeitem não apenas os contratos com as emissoras a que estão ligados, mas também o compromisso de levar informações e agir com ética e responsabilidade social perante o público. Caso contrário, meios de comunicação e espectadores continuarão se alimentando de forma indiscriminada: o público enchendo os bolsos dos que mandam na comunicação, e estes retribuindo com uma série de porcarias e lixo, chamados, pelos que mandam, de informação.