Enfim, Cuba (VI)

continuação...

Varadero

Outro vôo arriscado e novamente o aeroporto de Havana. Desta vez não houve atraso da agência de viagem. Um táxi estava a nossa espera para o traslado a Varadero. O motorista, um loirinho robusto e sardento, se apresentou. As deficiências foram outras, que irritaram a Sandra. Após dez minutos de percurso, antes de pegar a estrada, o loirinho pede licença. Para o carro e nos deixa esperando. Parou para tomar uma vitamina, feita por uma ambulante. Parece que eram namorados, pois nos deixou parados pelo menos vinte minutos, enquanto ele ingeria copo atrás de copo e abraçava a vendedora. Ao retornar, perguntou se éramos brasileiros. Diante da resposta afirmativa, talvez para nos agradar, ligou a música. Uma fita de um cantor cubano imitador do Roberto Carlos e cantando as suas músicas. No volume máximo. E eu já não sou muito fã do original. Foi um suplício, mas como contrariar alguém que quer nos agradar? A Sandra, após uns sessenta quilômetros rodados, conseguiu com educação que ele baixasse o volume. Na metade do caminho estacionou o carro no acostamento. Pediu licença e desceu. Apareceram alguns camponeses com embrulhos de pano nas mãos. Gente vermelha e sardenta. Vendiam queijos na estrada. Comeu um pedaço, negociou o preço, bateu papo... e nós esperando. Sandra deixou claro: - não dê um centavo de gorjeta! Brigo com você se der alguma coisa para ele. Ao voltar ele esclareceu: - é para comer em casa. Eu como com goiaba. É gostoso. Fico na frente da televisão comendo queijo com goiaba. Parece com nós mineiros, que adoramos queijo com goiabada. Mas creio – não perguntei – que o negócio feito foi contra a lei, já que o leite é destinado apenas às crianças e os vendedores não estavam parados na estrada, como ocorre no Brasil, mas saíram de trás do mato. Se não foi, pelo menos a suspeita ficou.

Finalmente o hotel. Tiramos as malas do carro e descemos. O motorista se despediu, sem nenhum comentário. Sandra indagou: - deu gorjeta para ele? Respondi que não. E ela: - deveria ter dado. Coitado! Quem vai entender essas mulheres?

***

Hotel imenso, com todo conforto possível e imaginável. Varadero é destinado praticamente aos estrangeiros. Disseram que cubanos também ali podem passar férias, mas não vi nenhum. Serve apenas para o ócio total. Nada para se fazer além de curtir sol, piscinas e praia. Nesta custa dois dólares por pessoa o aluguel de cadeira. E olhem que a praia é do hotel. Tudo muito organizado, muito bonito, igualzinho filme americano. Mas não era isso que eu queria... queria mesmo era voltar para o meio do povão... queria mesmo era ir para Havana. Praias por praias, sem desmerecer nenhuma, fico aqui com as nossas.

Apesar de destinado a estrangeiros, o serviço de bar também é precário. O atendimento é demorado, os garçons ficam conversando entre si. Sentam nos bancos em volta do balcão para fumar. O profissionalismo capitalista ainda não os seduziu.

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Na conversa com os estrangeiros, a triste constatação: ninguém quer vir para o Brasil. Medo da violência.

Um francês foi bastante claro comigo: - O lugar mais lindo do mundo é o Rio de Janeiro. Não troco o Rio por qualquer outra cidade do mundo. Mas tenho medo de voltar lá.

Tento argumentar que não é bem assim. Não adianta. A fama é muito grande.

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A garçonete de um dos restaurantes tem nome russo. Puxo papo com ela. Diz que estudou destilaria na Checoslováquia. Fala bem de Fidel e da revolução. Comunista de carteirinha. Resolvo provocar: - Mas você acha justo trabalhar como garçonete, depois de ter estudado por conta do Estado nos exterior? Não seria mais correto dar um retorno, trabalhando na profissão em que o Estado investiu em você?

- Há muita gente para trabalhar em destilaria. Aqui eu também sirvo o Estado e posso ajudar melhor a minha família com a propina que ganho.

***

Apenas mar, sol, dormir, comer e beber e, por falar em comer e beber, vamos a outro capítulo.

continua...