enfim, Cuba (V)
continuação...
Carnaval de Santiago.
Se em Havana me senti como se estivesse na Bahia, Santiago é Salvador elevado à segunda potência. Para poder entender esta afirmativa, uma comparação: se Cuba fosse o Brasil, Havana seria São Paulo e o Rio de Janeiro seria Santiago. Ora, se Havana é tão alegre quanto a Bahia, que é mais alegre do que o Rio de Janeiro, imagine Santiago! O carnaval faz parte integrante de sua cultura. É considerado como sendo a instituição cultural viva, mais antiga do país. Sua origem se perde no transcorrer dos séculos. Nada se faz e nada se decide durante as festividades. É o orgulho da cidade. Os bairros competem entre si para o desfile organizado. Ocorre no mês de julho, mas pelo menos desde fevereiro começa a ser organizado. Os temas musicais, as alegorias, a coreografia, tudo é feito em segredo. É necessário que os bairros não conheçam as montagens dos outros. A competição é ferrenha. Os temas estão relacionados com atividades da vida cotidiana, assim como podem ser homenageados outros países. Há um corpo de jurados para decidir quem foi o melhor. O ritmo, la conga, é puro, vivo, à base de tambores. Uma corneta estridente identifica pelo seu toque cada bairro. Todo mundo dança. Todas as pessoas que conhecemos nos convidaram para voltar no carnaval. A festa é levada muito a sério.
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INTEGRANDO COM OS CUBANOS
Na terceira noite tomamos um táxi na porta do hotel e pedimos que nos levasse a uma casa de shows. Quando chegamos, o espetáculo já estava para findar. O motorista nos indagou: - Vocês não querem conhecer um lugar onde poderão se misturar com os cubanos? Um local onde os cubanos se divertem? Era isso que queríamos. Concordamos imediatamente. Fomos ao La Claqueta. Três dólares por pessoa para entrar. O local muito simples. Na verdade um lote de terreno com uma meia água nos fundos, que
serve de bar e, na frente, mesinhas e cadeiras sobre cimento rústico. Lotado de cubanos. Poucos estrangeiros. Já na entrada caíram sobre nós como moscas no mel. Todo mundo puxando a gente para sentar com eles. Ficamos até mesmo um pouco assustados com as insistências. Cinco ou seis cubanas me arrancam da Sandra e me puxam para a dança sensual. Sandra também é assediada pelos rapazes. Ela, de forma educada, mas firme, o que é bem sua característica, consegue se desvencilhar. Mas eu, bonachão por natureza, vou me deixando envolver. Saem cantadas de todos os lados. São agressivas nos passares de mãos. Com muito esforço, consigo chegar ao bar. Peço uma cuba libre. Elas pedem para que eu lhes pague bebidas. Escolhem cerveja. Tiro uma nota de cinco dólares, entrego para uma delas pagar. Elas devolvem as cervejas ainda não abertas, pagam a cuba e ficam com o troco. A Sandra se diverte com as minhas dificuldades. Não consigo me livrar. Estava prestes a sofrer um estupro e a Sandra rindo de mim. Tive que ser ríspido para conseguir me livrar das garotas. Achamos melhor ir embora, mesmo porque a fome estava apertando e no Claqueta não tinha nada para mastigar.
Na rua, escura, portas fechadas, sentimos medo. Andamos quatro quarteirões até chegar em um restaurante. Encontramos este fechando. Solicitamos informação sobre onde poderíamos fazer um lanche e nos informaram que a “Colunita” ficava aberta a noite toda. Deveríamos descer uma rua, dobrar outra e caminhar por mais uns seis quarteirões. Saímos em direção ao local indicado. O medo voltou. Vez por outra cruzávamos com uma moto. Seria assaltante? Um negro, encostado num dos poucos postes elétricos nos aborda. Pergunta aonde queremos ir. Já em posição de defesa, preparado para qualquer ataque, respondo. Ele, gentilmente, nos acompanha até o boteco. Quanta diferença de Copacabana!
Na última noite, resolvemos não sair. Apenas curtir o hotel cinco estrelas. Fizemos bem. No bar o “som” era comandado por Paco. É um daqueles que não martelam o piano, mas que puxam o som do instrumento. Ao ouvir o meu sotaque, não teve dúvidas, passou a tocar músicas brasileiras: Garota de Ipanema, Aquarela do Brasil, Eu Sei que Vou Te Amar e várias outras, principalmente do repertório Jobim/Vinícius. Indescritível. Pelas mesas, turistas, executivos e executivas estrangeiros, cubanas e cubanos enfeitados. A prostituição também é masculina. Os negros cubanos fazem sucesso, principalmente com as alemãs. Aliás, de manhã, na beira da piscina, estavam ao nosso lado dois italianos. Pelo jeito de conversarem, não tive dúvidas, era um casal gay. De repente, um negro cubano chega perto deles. É recebido com abraços e beijos pelos dois que o convidam para almoçar. Ele aceita. Notei que o cubano durante todo tempo estava triste e cabisbaixo. Foi o único cubano triste que vi. Funcionou minha imaginação: - será que transaram e ele não gostou? Será que ele está pensando: - O que a gente não faz para ganhar uns dólares? Mas isso é apenas imaginação de quem não tem o que fazer.
Mais no fim da noite, no último andar, a boite apresenta um show. Músicos da melhor qualidade, principalmente Aldo, o saxofonista. Valeu não ter saído.
continua...