M.V. FUNCHAL

 

O navio era o m. v. Funchal, de bandeira portuguesa e tripulação idem. Na década de 1980 fazia viagem turística saindo do Rio de Janeiro e indo até Manaus. Naquela época não havia os grandes transatlânticos da Costa Cruzeiros ou da MSC, que hoje oferecem viagens pela costa brasileira e vão até Montevideo, Punta del Este e Buenos Aires.

 

Eu era solteira e ia tirar um mês de férias do meu trabalho. Achei que seria uma boa ideia o roteiro, pois nunca havia experimentado uma viagem marítima. A namorada de meu irmão César, a Maria Letícia (Titia), resolveu acompanhar-me e dois meses antes começamos a preparar a viagem para fevereiro de 1982. Títia tinha um tio no Rio de Janeiro e foi, de carro, uns dias antes. Eu viajei de ônibus de Curitiba para o Rio na véspera da viagem. No dia do embarque, bem cedo, o tio de Títia nos levou ao porto onde fizemos o check in. Despachadas as malas, procedeu-se ao embarque.

 

As cabines, embora confortáveis, não eram como as de hoje, com grandes janelas e varandas. As acomodações mais caras tinham uma modesta vista para o mar e as outras ficavam na linha d´água, sem janelas. Foi em uma destas que ficamos. Havia dois beliches, um guarda-roupa, uma mesa e o banheiro. Era um espaço pequeno e dali ouvíamos o barulho das máquinas e do mar, além do ruído do ar condicionado.

 

Saindo do Rio de Janeiro, a primeira escala foi Vitória. As refeições eram muito boas e fartas, café da manhã, almoço, lanche das 17 h e jantar às 20 h, quando nos produzíamos para fazer boa figura, pois exigia-se traje social. Tudo servido em dois grandes salões. Além disso, tínhamos opções para várias atividades: ginástica, após o café da manhã, no convés, cinema, piscina, jogos, lojas.

 

Tudo correu muito bem até Vitória. Aí atracamos e visitamos a cidade e fomos a Guarapari. Nas escalas havia oferta de passeios variados, que escolhíamos sempre na noite anterior à atracação e que pagávamos separadamente das despesas contratadas no navio. Foi ao sair de Vitória, à noite, na hora do jantar que comecei a sentir-me atordoada e nauseada. Pior ficou quando vi cadeiras e mesas saírem do lugar e se amontoarem a um canto. Eu estava mareada.

 

Chegaríamos a Salvador pela hora do almoço e eu temia sair da cabine e dar vexame. O movimento me fazia muito mal. Preferi ficar deitada, e só me levantei para almoçar quando o navio atracou. Sem movimento, passava toda minha indisposição e descíamos logo para aproveitar os passeios. Depois de dois dias em Salvador, partimos para Recife e a navegação em alto mar me fez, novamente, sentir-me sem disposição para nada. A rotina passou a ser vomitar tudo o que eu comia. Indo ao posto de saúde do navio, descobri que tinha labirintose desde pequena, pois já passava mal quando criança e viajava de ônibus com a família pelas serras de Santa Catarina.  Maria Letícia trazia-me, na cabine, um prato de comida, frutas e lanches. Foi uma pena porque perdi as atrações do navio, os bailes animados e outras atividades. Entretanto, quando atracado, aproveitávamos ao máximo.

 

Mas houve uma compensação. Navegamos 6 dias pelo Rio Amazonas, indo e vindo de Manaus. O Rio não tem ondas e foi uma benção. Na foz ouvimos o ensurdecedor barulho da Pororoca e na divisa dos estados de Sergipe e Alagoas vimos a entrada do Rio São Francisco no mar. Na volta aportamos em Belém, São Luis, Natal e Ilhéus e, por fim, Rio de Janeiro.

 

Sofri com as condições do mar porém, como era jovem, aproveitei o que pude. Minha amiga aproveitou mais pois não enjoa. Em 2014 comprei outro pacote semelhante, desta vez em um navio grande, o Costa Fascinosa, de Santos para Buenos Aires e fui com outra amiga, precisava espairecer um pouco depois de duas grandes perdas recentes que muito me abalaram, minha mãe e meu companheiro, em curto espaço de tempo. Nesta viagem aproveitei de verdade. O tempo estava ótimo, o navio muito confortável, oferecia inúmeras atrações, inclusive teatro todas as noites. E, o melhor de tudo, mais moderno, tinha estabilizador e não enjoei uma única vez.

 

Maria Letícia, que foi excelente companheira em minha primeira viagem marítima, acabou não se tornando minha cunhada, continuamos amigas mas há tempos que não a vejo. Seguimos caminhos diversos, coisas do destino. 

 

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 15/01/2023
Reeditado em 04/02/2023
Código do texto: T7695848
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.