Cristo, o propósito do conhecimento.
Os nossos amigos conhecem-nos na prosperidade. Nós conhecemos os nossos amigos na adversidade. (John Collins).
Mas, há também uma afirmação bíblica que é ao mesmo tempo, intrigante, esclarecedora e reveladora, escrita por Salomão no Livro de Provérbios, capítulo 25:2:
A glória de Deus é ocultar certas coisas; tentar descobri-las é a glória dos reis.
Ambas as citações nos fazem refletir quanto aos segredos do conhecimento, e a necessidade humana de adquirir esse conhecimento, seja no propósito de dominá-lo, dirigi-lo ou, simplesmente, usá-lo como instrumento de dominação dos seus pares, ou das circunstâncias da sua própria vida, arremetendo-se contra a finitude e transitoriedade da vida humana.
Nesse aspecto, a tentação do Jardim do Éden nasceu antes do entendimento humano de que conhecimento é poder e o primeiro aspecto do poder é o controle, primeiramente dos aspectos inerentes à existência, posteriormente da imanência e por fim, da transcendência.
Logo, o desejo de Adão não era simplesmente comer do fruto proibido, pois, voltaria a ter fome e dependeria novamente da árvore, das estações e da colheita.
Adão queria a semente, esta representando o controle, o domínio, a possibilidade de guardá-la, conservá-la e dela fazer uso quando bem lhe conviesse, ou seja, o homem queria “conhecer” os segredos de Deus, para prosperar em seus próprios propósitos e superar por si mesmo os tempos de carência e os efeitos adversos da efemeridade.
A glória de Deus em ocultar certas coisas revela, sobretudo, um ato de instigação, de orientação e direcionamento; como se Deus quisesse mesmo que o ser humano não cessasse a busca do conhecimento, como razão ser da sua própria vida e que, enfim, encontrasse a “pedra filosofal” na revelação e conhecimento do próprio Deus.
É intrigante constatar que Deus recebeu o culto prestado por Abel e rejeitou, peremptoriamente, a adoração de Caim, mas, por quê? Não eram ambos pecadores, filhos dos mesmos pais, presos no mesmo mundo e sujeitos às mesmas vicissitudes? Sim, eram, o que divergiu fora o propósito de cada um.
Abel queria agradecer ao criador, render-se a ele e contemplar a beleza da obra criada, ou seja, Abel tinha reconhecimento, que é o “ato de reconhecer o mérito”.
Já Caim, havia percebido que Deus era o amor supremo e o poder absoluto, que era longânimo e perdoador, pois, o próprio nascimento dele e do irmão Abel representava uma negação da morte prometida aos seus pais pelo pecado; estes não morreram, pois, eternizaram-se nos filhos e na geração que viria posteriormente (interpretação equivocada da morte!).
Assim, embora Caim não tivesse alcançado “todo o conhecimento”, tinha descoberto algo importante: Deus podia ser manipulado, enganado e subvertido!
Logo depois, o coração de Caim foi revelado, não existe bondade alguma se o cerne estiver apodrecido, conhecimento sem rendição e culto sem submissão é ao mesmo tempo ignorância e abominação.
O culto prestado por Abel é esclarecedor, pois, nos revela que há uma forma preenchida por um conteúdo, o qual nasce da intimidade de um relacionamento com Deus, que preenche, ensina e aproxima o ser humano do conhecimento supremo de todas as coisas, no limite da revelação do Deus absoluto.
A árvore do conhecimento do bem e do mal, por óbvio, foi criada para o homem e o homem para a árvore; porém, o óculo da investigação desse conhecimento se chama obediência, e Jesus Cristo percorreu esse caminho, conforme Filipenses 2: 5 a 8:
De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus,
Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;
E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.
Porém, no caminho da obediência, precisamos passar por um processo de arrefecimento do nosso ego, render-se é despir-se, é expor-se, ... é ferir-se; pois, somente o ser humano ferido é consciente da sua finitude, quem sangra, morre!
Tivesse Jesus Cristo nascido num palácio, dominado seus oponentes pela força da glória dos céus, - abrigando-se aos cuidados dos anjos,- rompido o firmamento pela manifestação do poder supremo, - transformando as pedras em pães, - ou ainda cumprido seus propósitos unicamente pelas ferramentas disponíveis deste mundo material e caído, adorando ao Diabo; e teríamos um conflito eterno entre ciência e aparência, logo, viveríamos numa “matrix” com aparência de salvação, mas, na verdade, de morte eterna.
Jesus, o Cristo, foi o protótipo da obediência e do conhecimento pela revelação de Deus o Pai; mesmo sendo Deus, Jesus não se utilizou das ferramentas do poder divino absoluto para cumprir com o seu ministério, senão, pelo mistério da obediência e, por isso mesmo, nenhum dos milagres de Jesus é impossível a cada ser humano pelas luvas da obediência, conforme João 14:12-14:
Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai.
Assim, podemos nos conhecer melhor quando estivermos na prosperidade, como esteve Abel, e soube ofertar a Deus um coração agradecido que se tornou um culto aceitável, o que representou para Abel um autoconhecimento e reconhecimento da soberania de Deus.
Porém, a adversidade também nos leciona quanto à natureza humana, percebemos que vivemos num mundo caído, maculado pelos nossos pecados e pelos pecados dos outros, então, poderemos conhecer ou “reconhecer” qual é o nosso melhor amigo, e, conforme ensinou Jesus: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos”.
Por fim, concluímos que o propósito do ser humano é o conhecimento, a essência do conhecimento é a Revelação e o conteúdo da Revelação é Cristo, como afirmou Pedro na sua carta 2 Pedro 3:18: Cresçam, porém, na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, agora e para sempre! Amém!