POR QUÊ NOS TRATAMOS TÃO MAL

POR QUÊ NOS TRATAMOS TÃO MAL?

Ultimamente tenho observado o quanto no cotidiano as pessoas muitas vezes se tratam mal. E, geralmente, nem se dão conta disso.

Repetem um padrão aprendido socialmente.

Nesse tratar mal estão inclusos rótulos, intolerância, deboches, comportamentos permissivos,  inconvenientes, abusivos. Reclamamos da violência, mas a fomentamos diariamente em nosso cotidiano, em nossas micropolíticas.

Essas violências constantemente são naturalizadas e tidas como inofensivas.

De certa forma, nos acostumamos,  esquecemos de questioná- las,  de perguntarmos o porque de aceitarmos e reproduzirmos tais práticas. Para muitos, já se tornou mesmo um traço do próprio caráter. Formas de funcionamento que já se entranharam na personalidade.

Um rótulo, por exemplo, é uma definição, uma sentença, uma criação de verdade que nem sempre corresponde à verdade. É muito nocivo, por exemplo, quando os próprios pais rotulam seus filhos. Causam males às vezes irreversíveis.

A natureza das pessoas precisa ser respeitada e acolhida. Precisamos aceitar a nós mesmos como somos. Ninguém é obrigado a se encaixar nos padrões de ninguém. A corresponder às expectativas alheias.

" Ô péla saco!",  " Ô viado!", " Ô animal!". Nos meios militares, é comum o rótulo de    "bisonho!" Qual a necessidade das pessoas se tratarem assim?

A depressão, o pânico, o medo, as moléstias psíquicas não são fruto de algum grande mal ou inimigo externo.  O mundo tem sim, muitos problemas e perigos. Mas esse mal começa em nós, esse mal se transmite, se perpetua em nós. Sutilmente, quase imperceptivelmente.

Sem perceber, reproduzirmos a lógica perversa de um sistema social maior, que nos quer sempre divididos, desunidos, insensíveis, desumanizados, competindo uns com os outros.

Do ponto de vista do ensino, pedagógico, educar não deve ser adestrar. A educação também deve visar à sensibilização e a desenvolver o pensamento crítico. Orientar, conduzir, dar limites, usar de firmeza e até mesmo contundência quando preciso, tudo isto é importante. Mas por quê tantos castigos e mecanismos punitivos? Não se percebe que isso oprime, bitola, deprecia, prejudica o verdadeiro aprendizado?

Reconhecer a violência em nós, reconhecer a violência no outro. Deixar de naturalizar, de aceitar o que é violento. Aprender a nos defender da violência. Criar mecanismos de enfrentamento da mesma.

Acho muito válido  o trabalho do psicólogo Marshall Rosemberg sobre Comunicação Não Violenta. Para nos comunicar, não precisamos agredir, nem brigar. Muitas vezes, em nossos problemas de relacionamento, pode ser que estejamos sendo violentos em algum ponto, sem que nos apercebamos. Ou que a nossa violência esteja ressoando com a violência do outro, prejudicando, assim, a convivência. Assertividade e clareza surtirão efeitos muito melhores.Termino citando Gandhi: " Sejamos a mudança que queremos ver no mundo". Por quê nos tratamos tão mal? Alguma vez você já parou para pensar nisso?

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