Sem Alma, O Corpo Resta Sempre Cagado
Quando percebi haver um lobo sob a pele de um cordeiro, já era tarde demais para correr e nem havia para onde correr, eis que mato não é para ovelha, restando-me o embate em descampado. Pensei, agora estou lascado! De fato, em ato de supremo desespero e haja "juris esperneante" nisso, refleti sobre possibilidades de intimidação a esse feroz lobo algoz. E, se acaso rugisse feito um leão, seria capaz de engambelar o "maledeto" ao ponto de provocar-lhe a dúvida de sucesso em devorar-me com segurança? Bem, quando já não há nada a perder, quando tudo parece-lhe perdido, melhor a honra de sucumbir lutando, ou melhor, longe de lutando, tentando não virar o jantar do voraz lobo. E rugi! Rugi é modo de dizer, pois soou como o miado de um gatinho apavorado: - "miaauuu!". Desesperei! O lobo ergueu o sobrolho num misto de incredibilidade. O que seria isso, pensou, misto de ovelha com gato? Foquei! Puxei todo o ar do planeta até comprimir o coração, que a essa altura já nem mais batia, explodia em batucada e rugi. Rugi como em tempo algum ouviu-se, na pradaria, tal rugir. Gerei dúvida... e, na dúvida, o sorrateiro lobo esquivou-se do perigo, escafedeu-se, deitando o pelego que dava-lhe cobertura pelo caminho, exalando cheiro e marcas indeléveis de medo. Cagou-se o lobo! Devo confessar que o medo somado ao esforço extremo em rugir foram descomunais e, na verdade, cagamo-nos, eu e o lobo, ele pelo insólito de ver rugir ovelha e eu por ter percebido desprender-se do corpo a alma e, sem alma, o corpo resta sempre cagado.