O crime também ajuda
Espera-se demais dos meios de comunicação no sentido de que estes façam cumprir o direito à privacidade do cidadão.
Em 2004, uma entidade não-governamental, o Observatório da Imprensa, publicou em sua página eletrônica um artigo sobre a incoerência presente em toda essa espectativa de uma responsabilidade social por parte da imprensa se esta, por sua vez, age sob interesse de seus acionistas e representantes. Mas há de se refletir sobre o motivo que leva programas sensacionalistas a atrair tanto a atenção de espectadores de modo a atingir o lucro tão desejado por estes acionistas e representantes.
O fato é que tais programas, como o "Brasil Urgente", apresentado por José Luís Datena ao final das tardes na rede Bandeirantes, por mais que invadam barracos e cortiços a fim de mostrar a situação deploráveel de violência, fome, desemprego e abandono político vivida pelas classes baixas do país, ainda que invadam a privacidade dessas pessoas, também mostram o que não se consegue ver em câmaras, gabinetes e escritórios: justiça. E quando um cidadão resolve assistir tal programa, ele leva em conta todo o sofrimento presente em sua casa e seu trabalho, caso tenha a sorte de ter um. E pensando nisso procura um amparo, encontrado ao ver um policial pagando o preço de ter aceitado suborno ou um traficante renomado ser transferido de uma penitenciária para outra mais rígida que a anterior, e até mesmo se sente mais humano quando assiste uma ação de resgate a vítimas de enchentes e desabamentos.
Não há o que se esperar no contexto de auto-regulação por parte dos meios de comunicação. Enquanto houver pessoas buscando por punição e justiça, haverá órgãos de imprensa exibindo invasões e perseguições sendo que, o desamparo penal deste país se concentra em ramos mais nobres e dotados financeiramente da sociedade, como no caso de políticos, juízes e advogados que, ao invés de tranqüilizar a população, fazem com que os meios de comunicação tenham que se encarregar deste papel.