UNIÃO DESLEAL

A vida dela se resumia em um desejo enorme de mudança. Não estava bem na vida a dois que planejara. Tinha o suficiente para viver e ajudar, mas faltava o amor, o companheirismo, o compartilhamento, a lealdade, a leveza, a paz, o olhar olho no olho, uma pessoa verdadeira ao seu lado, e faltava o principal: a vontade de viver.

Estava vendo os anos passarem, as distâncias aumentarem, a solidão crescer. Tentativas de mudanças não sortiam efeito, não tinham o prosseguimento necessário. Começava e retrocedia, com receio de brigas judiciais, pois não havia o consenso do companheiro para a solução definitiva da repartição do imóvel que compraram juntos.

Percebia que o outro também não estava feliz, mas o que tinha parecia satisfazer, pois seu mundo obscuro e individualista cabia o que ele queria viver. Aprisionado e acomodado aos bens materiais, não se incomodava com a insatisfação dela.

A vida dele se restringia na mediocridade de uma rotina imutável sempre a mesma, anos há fio. Não havia diálogo, muito menos sobre o relacionamento. Ou aceitava o que ele queria ou foda-se. O EU dele, sempre imperando.

Nunca se interessou pelo que ela fez ou faz, muito menos o que gosta e o que quer. Nunca tiveram um jantar a dois, uma viagem a sós, uma comemoração de união, uma caminhada junto. Abraços, beijos, carinhos, toques, não gostava de dar ou receber, mas gostava de ser servido e não servir. Simplesmente, nada.

Tinham comprado um imóvel junto e a guerra se resumia na venda desse imóvel, que ele não comprava a parte dela e nem queria vender, forçando a barra ao dizer que os incomodados deviam se retirar.

Ela parecia viver na época em que as mulheres eram submissas aos homens em que aceitavam tudo o que eles faziam e fechava os olhos para as traições, filhos fora do casamento, indiferença, ignorância, como se precisasse dele para seu sustento. Isso tudo a deixava mal, mas a certeza de que tudo um dia se resolveria nunca a abandonou.

Percebia que não adiantava mais lutar por aquilo que nunca foi uma união. Ou ela se amava, se amava mesmo, lutava, e saia dessa, ou morreria de abatimento moral e desleal consigo mesma. Todos os dias uma nova oportunidade, uma semente plantada poderia germinar em paz, em entendimento, em uma solução definitiva com a glória de Deus. Era o que ela mais queria.

Ana Amelia Guimarães
Enviado por Ana Amelia Guimarães em 16/01/2022
Código do texto: T7430724
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