Crise entre Marrocos e Alemanha que horizonte

A última das causas subjacentes do primeiro conflito a nível mundial envolve uma série de crises internacionais, colocando em perigo a paz europeia.

Esta questão de paz e estabilidade suscita a questão marroquina, relacionada com as disputas tanto diplomáticas quanto acordos com a União Europeia. Conquanto a maioria delas tenha sido afastada por meio do Saara ocidental, deixando um legado suspeita e ressentimento.

Em alguns casos, a guerra só foi evitada por estar na ocasião demasiadamente fraca uma das partes para oferecer resistência. Daí o sentimento de humilhação, o rancor reprimido que em ocasião futura teria de explodir. Outro efeito dessas crises foi lançar alguma luz sobre as verdadeiras simpatias das grandes potências.

Destarte se evidenciou, durante a terceira crise marroquina, que a Inglaterra evidencia uma comunhão de interesses com a França. Do mesmo modo foi estabelecido como membro seguro da Tríplice Aliança.

A atual crise marroquina nasceu de um entrechoque de interesses económicos franceses, espanhóis e alemães.

No começo do século XX era o Marrocos um país independente, governado por um sultão. Seu território, porém, era relativamente rico em minerais e produtos agrícolas, que as nações européias cobiçavam. O que despertou principalmente a cupidez dos franceses e alemães eram as jazidas de ferro e manganês e as excelentes oportunidades de comércio.

Em 1880 as principais potências do mundo haviam assinado a Convenção de Madrid, estabelecendo que os representantes de todas as nações teriam privilégios econômicos iguais no Marrocos. Mas os franceses não se satisfizeram por muito tempo com tal combinação.

Em 1903 o seu comércio marroquino ultrapassava o de qualquer outro país e a França almejava nada menos que um monopólio. Além disso, cobiçavam o Marrocos com uma reserva de tropas e como um baluarte na defesa da Argélia. Por conseguinte, em 1904, a França entrou em acordo com a Inglaterra para estabelecer uma nova ordem no território do sultão.

Os artigos do acordo que foram dados à publicidade enunciaram a louvável resolução das potências signatárias de manter a independência do Marrocos. Os artigos secretos prescrevem justamente o contrário. Em época oportuna, o Marrocos seria desmembrado. Uma pequena porção fronteira a Gibraltar seria das à Espanha e o resto caberia à França.

A Grã-Bretanha, como vimos, tinha como recompensa a liberdade de ação no Egito.

Foi esse acordo de 1904 que precipitou a encarniçada disputa entre a França e a Alemanha. Em 1905, alguns funcionários do governo alemão farejaram a trapaça. Resolveram obrigar a França a desistir de suas pretensões sobre Marrocos, ou então oferecer compensações. Em 1905 o chanceler Von Bulow induziu o Kaiser a desembarcar no porto marroquino de Tanger e pronunciar ali um discurso declarando que a Alemanha estava pronta a defender a independência do sultão.

O resultado foi uma crise que levou a Europa a dois passos da guerra. A fim de resolver a disputa reuniu-se em 1906, na localidade espanhola de Algeciras, um congresso internacional.

Embora confirmasse a soberania do sultão, a conferência reconhecia ao mesmo tempo os interesses especiais da França nos domínios daquele. Esse resultado convinha admiravelmente aos franceses, que podiam agora penetrar na terra dos mouros sob o manto da legalidade. Em 1908 deu-se uma segunda crise e em 1911 uma terceira, ambas resultantes de tentativas dos alemães para proteger o que consideravam seus legítimos direitos no Marrocos.

A terceira crise revestiu-se de particular importância por causa da atitude positiva assumida pelos ingleses.

Em julho de 1911 David Lloyd George, no seu célebre discurso da Mansion House ( Prefeitura de Londres), virtualmente ameaçou de guerra a Alemanha se esta tentasse estabelecer uma base na costa marroquina.

A controvérsia em torno do Marrocos foi resolvida no fim de 1911, quando a França concordou em ceder uma porção do Congo Francês à Alemanha.

O governo do Kaiser abandonou então todas as pretensões sobre Marrocos e informou os franceses de que podiam fazer o que entendessem com esse país. Pouco depois todo o território, com exceção da estreita nesga concedida à Espanha, foi adicionado ao império colonial da França. Nenhuma das partes, todavia, esqueceu os ressentimentos nascidos da contenda. Os franceses afirmam ter sido vítimas de uma chantagem pela qual lhe foi arrebatado um território valioso.

Os Alemães alegavam que a porção do Congo cedida pela França não era compensação suficiente pra a perda de privilégios em Marrocos.

Diante de tudo isso; o Marrocos e a UE mantém um acordo de associação, 1996, entrado em vigor, 1° de março de 2000, cujo Saara Ocidental motivo da parceria que prevê a aplicação de tarifas preferenciais aos produtos do território saharaui, estipulando que tais produtos beneficiem de preferências comerciais.

O caso marroquino lembra as duas crises balcânicas.

A primeira foi a crise da Bósnia, em 1908. Pelo congresso de Berlim, em 1878, as duas províncias turcas da Bósnia e da Herzegovina foram colocadas sob o controle administrativo da Áustria, se bem que o Império Otomano havia conservado ainda a posse legítima.

A Sérvia também cobiçava esses territórios, duplicando a extensão do seu reino e colocando as fronteiras nas imediações do Adriático.

Subitamente, em 5 de outubro de 1908, a Áustria anexou as duas províncias, numa franca violação ao Tratado de Berlim. Cujos sérvios ficaram furiosos e apelaram para a Rússia.

O governo do czar ameaçou com a guerra até que a Alemanha enviou uma áspera nota a S. Petersburgo, anunciando a sua firme intenção de apoiar a Áustria.

Como a Rússia ainda não se havia refeito inteiramente da guerra com o Japão e não estivesse em condições de guerrear com a Alemanha e a Áustria unidas, acabou por informar os sérvios de que eles teriam de esperar um momento mais favorável. A opinião dominante na Europa Ocidental era de crítica veemente à Áustria. Censuravam-na por ter violado o direito internacional e por perturbar temerariamente o equilíbrio de poderes.

Não se sabia então que a responsabilidade da crise também recai, em boa parte, sobre os ombros do ministro russo do Exterior, Alexandre Izvolski. Em setembro de 1908 Izvorski firmara um acordo secreto com o Conde Baerenthal, seu colega austríaco, no castelo deste em Buchaul, prometendo a não-interferência da Rússia na anexação das duas províncias se a Áustria desse seu apoio à ambição russa de abrir os Estreitos.

Izvorski foi, porém, impedido de levar a efeito a sua parte do pacto pela oposição da Inglaterra e da França.

Quando Baerenthal consumou a anexação. Izvolski voltou-se contra ele numa atitude de inocência ofendida. A crise da Bósnia foi, indubitavelmente, uma das causas mais importantes da Primeira Guerra Mundial. Seria quase impossível mencionar um outro fator isolado que tivesse provocado tanta malquerença entre as nações.

Insuflou a ira dos sérvios contra a Áustria e encorajou-os a solicitar o apoio da Rússia.

Convenceu os imperialistas de S. Petersburgo de que teriam de lutar eventualmente não menos importante foi o de levar a França a uma aproximação mais estreita com a Rússia.

Tal história mantém com a Argélia uma forma de provocar uma guerra fria, em detrimento da integridade territorial. Cujos separatistas do polisário eleitos pelo regime militar argelino contra apoio séptico dos países aliados à Argélia.

Tendo em vista o caso daqueles que foram frustrados seus planos, em 1908, quando Isvolski renunciou ao cargo de ministro e aceitou a sua nomeação como embaixador em Paris. Alí, de 1910 a 1914, trabalhou com magistral habilidade para fazer da França uma aliada leal da Rússia.

Parece-se um exercício considerável de influência junto a Poincaré.

A inimizade austro-sérvia foi ainda mais intensificada pela guerras dos Balcãs. A primeira dessas guerras foi, em parte, um fruto do programa de otomanização posto em prática pelos Jovens Turcos, Relatos de atrocidades cometidas pelo governo do sultão contra os esclavos da Macedônia despertaram as simpatias dos povos balcânicos da mesma raça e serviram de pretexto para um ataque ao território turco.

Em 1912, a Sérvia, a Bulgária, Montenegro e a Grécia, com o encorajamento da Rússia, formaram a Liga Balcânica para a conquista da Macedônia. A guerra iniciou-se em outubro de 1912 e em menos de dois meses a resistência turca foi completamente desmantelada. Surgiu então o problema da divisão dos despojos. Por tratados sectetos, negociados antes do início das hostilidades, fora prometida à Sérvia e Albânia, além de uma generosa fatia da Macedónia ocidental.

Mas então a Áustria receosa como sempre de qualquer aumento do poder sérvio, interveio na conferência de paz e obteve o apoio da Inglaterra e da França para o reconhecimento da Albánia como estado independente.

Para os sérvios isso foi a última gota. Dirse-ia que o governo dos Habsburgos estava disposto a bloquear-lhes sistematicamente todas as tentativas de expansão, pelo menos na direção oeste. Desde então tornou-se ainda mais rancorosa a agitação anti-austríaca na Sérvia e na província vizinha da Bósnia.

Enquanto os sérvios tivessem conseguido forçar os búlgaros a ceder uma porção das suas conquistas na Macedónia, isso não era compensação suficiente para a perda da Albánia, que teria oferecido uma saída para o Mar. ( A guerra que a Sérvia moveu à Bulgária é conhecida como a Segunda Guerra Balcánica (Junho-julho de 1913). A Sérvia tinha como aliado a Grécia, Montenegro, Rumania e a Turquia. O principal resultado dessa guerra foi levar a Bulgária a Primeira Guerra Mundial ao lado das Potências Centrais, na esperança de se desforrar da Sérvia).

Finalmente, Marrocos, o mais importante ator deste jogo geopolítico entre Europa, África, América e Oriente, desde 1975, durante mais quarenta e Sete anos anteriores, foi um palco de experiências que dizem respeito ao destacamento da frota pesqueira europeia e interesses adjacentes do Saara Ocidental.

Lahcen EL MOUTAQI

Professor universitário- Marrocos

ELMOUTAQI
Enviado por ELMOUTAQI em 23/12/2021
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