Sobre personalidade e cultura e uma regra geral de comportamento

Imagine que você nasce no Japão e, desde os primeiros meses de vida, é criado dentro da cultura daquele país, em que certos comportamentos são mais desejáveis ou requisitados, socialmente falando, como a discrição, o respeito às leis/às autoridades, a disciplina e a higiene. No entanto, você também nasce ou demonstra ter um temperamento mais introvertido, que até pode ser mais compatível com essa cultura a que você tem sido submetido, ainda que, níveis moderados de extroversão também podem ser vantajosos. O que é conclusivo e decisivo sobre essa dinâmica é que nenhuma pressão externa irá te influenciar, se não existir uma abertura de si mesmo, de sua personalidade ou inteligência, que o torne receptivo a ela. Em outras palavras, a resposta final é sempre do sujeito que está sendo pressionado, independente do quão fortes forem as circunstâncias do meio em que se encontra. É até muito simples de entender, por exemplo, se eu faço pressão sobre um balão, é ele que deve reagir à minha força, dar a resposta final desta interação. Voltando ao primeiro exemplo, nenhuma cultura tem o poder de alterar a personalidade de uma pessoa de maneira absoluta ou radical. O máximo que pode fazer é forçar a pessoa a modulá-la. Então, se você que, hipoteticamente, é japonês, introvertido e se sente adaptado à sociedade em que nasceu, decide se mudar para os EUA, pode ser que se torne mais extrovertido do que era, como resultado da influência cultural estadunidense. Mas não significa que tenha sido totalmente alterado e sim que aumentou mais a expressividade de aspectos extrovertidos do seu caráter, que já existiam. É o mesmo que fazemos nos diferentes ambientes em que circulamos, em que, naqueles em que nos sentimos melhores, tendemos a "baixar a guarda", ainda que, neste caso, não estejamos falando de introversão mas mais de timidez.

Sobre influência e conformidade

Não existe influência externa sem que haja reciprocidade ou conformidade interna à ação sofrida.

Nenhum comportamento, resposta ou resultado de uma interação é forjado apenas por força externa.

Por exemplo, quando um professor passa a matéria no quadro, se o estudante consegue assimilar boa parte do que foi passado, pelo menos no momento, isso não foi fruto apenas da habilidade do professor de ensinar, mas também ou especialmente do estudante de aprender, de ser positivamente responsivo à influência que sofreu.

Fora do contexto humano, mesmo uma pedra, que é um elemento inanimado, ao interagir com uma força externa, também depende de sua natureza interna, isto é, de sua capacidade de resistência, para poder responder a essa interação. É sempre o elemento que está sendo alvo de uma força que tem a resposta final de uma interação, de acordo com a sua natureza ou capacidade de responder.

Extras

O que é natureza?

Não é apenas o que é fixo; não é apenas instinto ou raiz; também é o que se acumula, o que muda, o que é no momento. A natureza do clima também é o seu tempo.

A natureza é o que algo é. É a sua coerência ou lógica, a sua existência ou verdade. Natural pode ser aquilo que se é, que se transforma ou normaliza. A priori, o natural não é melhor ou pior. É quase certo dizer que tudo depende.

Conformidade, reciprocidade ou receptividade??

Ser recíproco não é exatamente o mesmo que ser conformista, que também não é exatamente o mesmo que ser receptivo. Reciprocidade é responder com o mesmo comportamento. Por exemplo, se você me ofende, eu devolvo a sua ofensa. Já a conformidade parece ser o oposto da reciprocidade, porque é quando se aceita a ação sofrida. Por exemplo, se você me ofende, eu aceito a sua ofensa ao invés de, pelo menos, tentar devolvê-la, de ser recíproco. Receptividade não é apenas uma forma de conformidade, mas que também é identificada como positiva pelo sujeito que sofre a ação ou influência. A receptividade, talvez, seja a forma mais pura de conformidade, quando não há qualquer resistência ou contrariedade.