Sobre privilégios
A atribuição de privilégios ou desvantagens não acontece apenas pelo critério da raça, como se ser branco (me) conferisse automaticamente uma posição confortável ou privilegiada na sociedade, porque os indivíduos humanos não se identificam apenas por essa via, mas por uma diversidade de vias com níveis variados de valorização social, mesmo que esse critério, em particular, tenha um peso histórico mais forte.
Por exemplo, se eu for comparado com uma pessoa negra, de classe média alta, boa aparência, ótima saúde mental e excelente escolaridade.
Pois mesmo que ela sofra racismo (genuíno) com alguma frequência e que isso seja condenável, ela ainda se encontrará acima de mim ou em um nível superior de privilégio, porque eu não tenho exatamente uma aparência homogeneamente apreciável; minha saúde mental exige cuidados extras, incluindo a existência de debilidades mais intrínsecas, como a minha gagueira parcial, a minha discalculia moderada, a minha introversão meio antropofóbica e o fato de pertencer a uma minoria sexual; e meu nível de escolaridade, que tem se resumido a um título, sem ter sido útil, até agora, para me ajudar a conseguir um emprego com bom salário e direitos trabalhistas garantidos. O meu privilégio branco empalidece a partir dessa análise comparativa mais abrangente pois mostra a natureza multidimensional dessa medida de desigualdade de tratamento, especialmente por uma perspectiva individual.